Apple Watch detecta gravidez com 92% de precisão em experimento

Anos atrás, em um voo dos Estados Unidos para o Brasil, a advogada Blima Katz, de 50 anos, apertou o cinto de segurança e “apagou” por 12 horas seguidas. “Mesmo assim, ao chegar em casa, dormi a noite inteira. Na manhã seguinte, lembrei que senti muito sono na primeira gestação. Achei melhor fazer um teste de gravidez”, recorda-se. Outro sintoma que fez Blima desconfiar foram as emoções acentuadas que a faziam chorar por qualquer coisa mesmo durante as férias. “O exame confirmou a gestação, de fato, antes do atraso menstrual”, conta Blima, que hoje é mãe de duas adolescentes.
É possível que, em um futuro próximo, as mulheres tenham outro aliado para descobrir se estão grávidas ou não: seus smartwatches. Recentemente, em uma parceria com a Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, a Apple desenvolveu um modelo de inteligência artificial chamado Wearable Behavior Model (WBM) que utiliza métricas comportamentais do Apple Watch para prever condições de saúde. No total, foram aproximadamente 2,5 bilhões de horas de dados gerados por cerca de 162 mil participantes (homens e mulheres) ao longo de 5 anos (2019 a 2025).
Ao avaliar mudanças no ritmo de caminhada, duração do sono, oscilação da frequência cardíaca e contagem dos passos, o VBM foi capaz de identificar sinais precoces de diversas condições, desde infecções a problemas cardiovasculares e até mesmo gravidez. No caso da gestação, a precisão foi de 92%. Será que esse tipo de tecnologia pode influenciar protocolos médicos ou diagnósticos em breve? Para a ginecologista e obstetra Carol Dalboni, diretora técnica da Clínica Dedicali (RJ), as probabilidades são grandes, sim. E exigem cautela.
“Um dos benefícios, na minha opinião, é que quanto antes se iniciar os protocolos médicos da gestação, como ingestão de vitaminas, melhor. Assim como retirar substâncias teratogênicas (isto é, que afetam o desenvolvimento fetal). É muito comum, por exemplo, as mulheres ingerirem álcool ou certos medicamentos porque não sabiam que estavam grávidas”, explica a especialista. No caso de mulheres com ciclos irregulares, elas podem levar até meses para perceber e, neste intervalo, manter hábitos prejudiciais à saúde de ambos, tanto da mãe quanto do bebê.
Por outro lado, Dalboni teme as implicações legais desse tipo de aplicação em relação à proteção de dados das gestantes. Um dos riscos seria o compartilhamento dos dados com terceiros, de planos de saúde a empregadores. “Se o aplicativo estiver emparelhado com um computador da empresa em que a gestante trabalha e a empresa tiver acesso aos seus dados?”, reflete.
Outra discussão importante levantada pelo experimento da Apple foi a comparação com os testes tradicionais para detectar a gravidez. O exame mais comum hoje em dia, segundo a ginecologista e obstetra Carol Dalboni, é o exame beta hCG, que mede o nível do hormônio gonadotrofina coriônica humana (hCG) no sangue. Este hormônio em questão é um marcador da gravidez e a quantia presente no organismo pode não apenas confirmar a gestação, como apontar certas patologias. “Se o nível estiver alto demais, por exemplo, incompatível com a idade gestacional, pode indicar uma gravidez molar (condição em que ocorre um crescimento anormal do tecido placentário)”, exemplifica a especialista.
Além disso, a precisão do experimento da Apple foi de 92%, como já citado, enquanto a do exame beta hCG é de 99%. “Por essas razões, acredito que esse tipo de tecnologia pode ser um coadjuvante, mas não um substituto dos exames convencionais”, conclui.
IstoÉ