O governo nacional ajustará os subsídios para a Zona Fria: mais de 150.000 usuários perderão os benefícios.

O governo nacional avançará com um novo corte no sistema de subsídios à energia. Desta vez, a medida afetará mais de 150 mil usuários do programa Zona Fría , que até agora desfrutavam de 50% de desconto na conta de gás natural. Entretanto, após inconsistências serem detectadas, esse benefício será reduzido para 30%.
A decisão ocorre poucos dias após o cancelamento do auxílio-energia para 15.500 usuários em Puerto Madero, condomínios fechados e clubes de campo, onde foram apresentadas declarações de imposto de renda que o Poder Executivo considerou incompatíveis com as condições do subsídio.
Segundo a Secretaria de Energia , chefiada por María Tettamanti , foram encontradas 370 mil contas em nome de cerca de 150 mil titulares que tinham acesso ao regime de Zona Fria, mas que possuíam múltiplos medidores, condição que, para o Governo, invalida a categoria de “vulnerabilidade”.

O ajuste faz parte da política oficial de redução de subsídios à energia para promover a eficiência e eliminar lucros injustificados. Segundo estimativas oficiais, os cortes em Puerto Madero e nos bairros de alta renda economizarão aos cofres públicos mais de US$ 3 bilhões. A redução na Zona Fria pode levar a outra economia significativa, ainda não quantificada oficialmente.
Criado em 2002 pela Lei nº 25.565, o sistema subsidia o gás em regiões de temperaturas mais baixas, principalmente Patagônia, Puna e Malargüe (Mendoza). Em 2021, foi expandido pela Lei nº 27.637 para 231 departamentos em todo o país, alcançando 4,3 milhões de usuários.

O esquema distingue entre usuários em geral (subsídio de 30%) e pessoas consideradas vulneráveis (50%). No entanto, o sistema é financiado por uma sobretaxa aplicada ao preço de atacado do gás (PIST), o que significa que todos os usuários do país pagam indiretamente pelo benefício, sem precisar de recursos do Tesouro Nacional.
Um dos eixos centrais do ajuste é a detecção de alto consumo na região Sul, que não pode ser explicado apenas pelo clima. Segundo um estudo citado pelo próprio Ministério da Energia, liderado pelo especialista Salvador Gil , 9% dos utilizadores da zona sul do país consomem 29% do gás residencial nacional. Segundo a análise, as condições climáticas justificam apenas 18%, e o excesso se deve a subsídios que incentivam o desperdício.
"Subsídios generalizados promovem o consumo e desestimulam a eficiência", disse Gil, professor da Universidade Nacional de San Martín. Em comparação com cidades europeias com clima semelhante, as casas no sul da Argentina consomem até quatro vezes mais gás para aquecimento.
O Decreto 465/23, prorrogado por Tettamanti até 31 de maio deste ano, autoriza o Poder Executivo a revisar e ajustar os regimes de subsídios para "transferir os custos reais da energia" e garantir assistência apenas aos setores mais vulneráveis.
A medida está alinhada a uma série de reformas promovidas pelo governo para reorganizar o sistema de tarifas e subsídios. De acordo com um relatório recente da UBA-Conicet (Universidade Nacional de Buenos Aires) (UBA-Conicet), no ano passado houve uma redução de 77% nos subsídios à energia e uma redução de 68% no gasto total com subsídios.
O relatório também reflete que os usuários, em média, atualmente cobrem apenas 50% do custo do gás natural. Mesmo com as novas taxas, os dados mostram que a cesta de serviços públicos (gás, eletricidade, transporte) subiu 500% desde dezembro, em comparação com uma inflação acumulada de 149%, indicando que os preços relativos ainda precisam se ajustar.
A política atual representa uma mudança radical da abordagem kirchnerista. Embora Cristina Kirchner tenha assinado um decreto em 2007 declarando "o uso racional de energia como interesse nacional", o esquema de subsídios generalizados foi ainda mais intensificado durante sua administração.
Entre 2008 e 2022, o país gastou quase US$ 200 bilhões em subsídios de energia e importações de gás e combustível. Em contraste, países como o Uruguai optaram por promover a economia de energia e investir em energias renováveis, alcançando um dos mais altos níveis de energia limpa do mundo atualmente.
Ao ajustar os subsídios da Zona Fria, o governo busca corrigir distorções históricas, reduzir os gastos públicos sem cortar completamente a assistência a quem realmente precisa e promover uma matriz energética mais eficiente.
Tettamanti, que lidera a estratégia, sustenta que é possível consumir menos sem perder qualidade de vida, simplesmente eliminando os incentivos que promovem o desperdício. O desafio agora será alcançar esse equilíbrio sem criar uma crise social nas regiões afetadas pelos cortes.
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