O Congresso lançou uma nova tentativa de acabar com o imposto de 4x1.000 em 10 anos: o que ele está propondo?

4x1000.
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Nesta semana, o Congresso da República deu sinal verde, em seu primeiro debate, ao Projeto de Lei 222/2024, que busca eliminar gradualmente o Imposto sobre Transações Financeiras (IMF), conhecido como 4x1.000; numa nova tentativa do Legislativo de acabar com esse imposto que tanto preocupa o Governo Nacional.
Embora as intenções de eliminar esse imposto não sejam novas, é impressionante que isso aconteça justamente quando começa a contagem regressiva do governo Gustavo Petro, em um momento em que o país enfrenta uma decisão de longo prazo, com a possibilidade de desmantelar uma de suas principais fontes de receita sem nenhuma compensação clara à vista.
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O projeto de lei, de autoria do deputado Christian Garcés (Centro Democrático), propunha inicialmente um plano de redução que terminaria em 2023. No entanto, após proposta neste debate, foi aprovada uma transição gradual que começará em 2027 e se estenderá até 2035. Ou seja, sua implementação não será de responsabilidade do governo atual, mas sim do próximo. Ou seja, o imposto 4x1.000, que foi aclamado por décadas como um imposto temporário e "antitécnico", está começando a ser eliminado no momento em que um novo presidente toma posse na Casa de Nariño.
Choques fiscaisNo primeiro debate, os parlamentares aprovaram uma modificação fundamental no texto original, que tornará o desmantelamento mais lento. Em vez de começar em 2026 com reduções de meio ponto percentual ao ano, o novo cronograma estipula uma redução de 0,25 por mil em 2027 e 2028, seguida de uma redução de 0,5 por mil anualmente entre 2029 e 2035, até atingir uma taxa de 0x1.000.
Em termos práticos, isso significa que o imposto desapareceria em 10 anos, já que os autores do projeto de lei acreditam que essa nova abordagem atenua o impacto fiscal imediato e permite que os benefícios econômicos, como o aumento do setor bancário e a formalização, comecem a se traduzir em novas receitas por outros canais.

Impostos
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"Esse imposto foi pensado inicialmente como uma medida temporária e acabou se tornando um ônus permanente que afeta os mais vulneráveis, desestimula o uso do sistema financeiro e aumenta o custo de fazer negócios", disse Garcés, que deixou claro que esse trabalho deve ser feito de forma técnica, gradual e com foco na competitividade.
Contudo, esse entusiasmo legislativo não é compartilhado pelo Ministério das Finanças. Em parecer oficial enviado à Terceira Comissão da Câmara, a secretaria chefiada por Germán Ávila se recusou a dar parecer favorável e alertou que o projeto de lei poderia ter um "impacto significativamente negativo na sustentabilidade fiscal" do país.
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Segundo estimativas do Ministério, somente a primeira redução em 2027 resultaria em uma perda de receita de US$ 2,1 trilhões, e o custo acumulado do desmatamento chegaria a US$ 25,5 trilhões quando fosse concluída em 2035. Soma-se a isso o fato de que o GMF representou mais de US$ 14 trilhões em 2023, ou 5% da receita tributária total.
A eliminação do imposto também afetaria o Sistema de Participação Geral (SGP), que é financiado pelas receitas correntes do país; Enquanto menos recursos significariam menos dinheiro para saúde, educação e saneamento básico em departamentos e municípios, aumentando a pressão fiscal sobre entidades territoriais.

Como evitar pagar esse imposto?
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Além disso, o Ministério da Fazenda observou que, da forma como está proposto atualmente, isso geraria problemas jurídicos, já que não foi definida nenhuma fonte alternativa de financiamento, o que viola o artigo 7º da Lei 819 de 2003, que obriga todo projeto com impacto fiscal a declarar a fonte compensatória das despesas ou receitas perdidas.
Um imposto que nunca desapareceuO Imposto sobre Transações Financeiras foi criado em 1998, em meio a uma crise financeira que levou o país a decretar Estado de Emergência Econômica. Sua taxa original era de 2x1.000, válida por um ano. Entretanto, em resposta a novas circunstâncias, como o terremoto da Região do Café e a necessidade de estabilizar as finanças públicas, o imposto foi estendido e se tornou permanente em 2000, quando foi aumentado para 3x1.000. Em 2006, a taxa aumentou para 4x1.000 e permaneceu assim sem uma finalidade específica desde então.
Vale lembrar também que diversos governos tentaram, sem sucesso, desmantelá-lo, como foi o caso da Lei 1739 de 2014, que previa uma trajetória de redução que foi revertida em 2016 pela Lei 1819, por falta de fonte substituta. Da mesma forma, para os funcionários do Tesouro, o GMF tem sido uma fonte estável de arrecadação de impostos, fácil de arrecadar e com baixa sonegação, fundamental em contextos de restrições orçamentárias.
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Portanto, o momento da aprovação deste projeto de lei não é desprezível, já que a administração Petro está em sua reta final e deixou clara sua intenção de não aumentar mais impostos. No entanto, este projeto de lei propõe o cenário oposto, com redução da receita estrutural sem nenhuma remuneração definida, o que muitos analistas consideram uma reforma tributária silenciosa.
Ainda que o Executivo não o lidere, permite que avance, em termos políticos , abre a porta à tensão interadministrativa, já que Petro deixa o início do desmantelamento pronto para seu sucessor, que enfrentará os efeitos fiscais sem tê-lo promovido; Enquanto o novo governo (2026-2030) terá que decidir se continua com o cronograma, modifica-o por meio de uma nova lei ou interrompe-o politicamente.

Sessão Plenária da Câmara dos Deputados.
César Melgarejo / Portfólio
O projeto ainda precisa ser debatido mais uma vez no Plenário da Câmara e duas vezes no Senado, o que abre espaço para novos ajustes; Já nas próximas sessões, espera-se uma discussão mais aprofundada sobre a necessidade de definir uma fonte de compensação, a viabilidade de implementar a eliminação simultaneamente com outras reformas estruturais e o impacto territorial.
Ao mesmo tempo, o Ministério da Fazenda reiterou sua disposição de colaborar com o Congresso, mas insistiu que qualquer reforma que envolva perdas de receita deve estar alinhada ao Quadro Fiscal de Médio Prazo e respeitar a disciplina fiscal; Considerando que este é um dos pilares da arrecadação de impostos colombianos, se não for alterado de forma responsável, poderá causar mais mal do que bem.
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