Adeus ao dinheiro digital? Suécia surpreende ao debater o retorno do dinheiro para inclusão e segurança nacional

Em uma reviravolta notável para um dos países mais digitalizados do mundo, a Suécia está discutindo ativamente medidas para garantir a aceitação e a disponibilidade de dinheiro. O Riksbank, seu banco central, apoiou propostas para permitir que serviços essenciais aceitem dinheiro, citando inclusão social e resiliência a crises como ataques cibernéticos.
A Suécia, uma nação pioneira na transição para uma sociedade sem dinheiro, agora se encontra em uma encruzilhada que pode redefinir o futuro dos pagamentos. O debate sobre a necessidade de garantir a sobrevivência e a acessibilidade do dinheiro físico ganhou força inesperada, impulsionado por preocupações com a inclusão social, a resiliência dos sistemas de pagamento e a segurança nacional em um contexto global cada vez mais incerto.
Essa reconsideração do papel do dinheiro está ocorrendo em um país onde seu uso é marginal em muitas áreas — menos de 1% no comércio eletrônico e apenas 4% em transações em lojas, de acordo com um relatório da Worldpay Global Payments. A digitalização avançada da Suécia, embora traga eficiência, também revelou certas vulnerabilidades sistêmicas que agora estão sendo mitigadas.
No centro desse debate está o Riksbank, o banco central da Suécia, que expressou publicamente seu apoio às propostas emanadas do "Cash Inquiry" (Kontantutredningen), um relatório encomendado pelo Ministério das Finanças. Uma das principais recomendações é introduzir uma obrigação legal para os fornecedores de bens e serviços essenciais, como supermercados e centros de saúde, bem como para os cobradores de taxas públicas, de aceitar pagamentos em dinheiro.
O governador do Riksbank, Erik Thedéen, tem sido uma voz proeminente nessa mudança, enfatizando que essa obrigação é crucial tanto para a inclusão quanto para a preparação para crises.
As pessoas devem sempre poder pagar por alimentação, saúde e medicamentos, tanto digitalmente quanto em dinheiro. A situação global cada vez mais turbulenta, o aumento dos ataques cibernéticos e os enormes cortes de energia no sul da Europa destacam a importância de poder fazer pagamentos mesmo quando a internet está inoperante. – Erik Thedéen, Governador do Riksbank.
O banco central também apoia a ideia de expandir e esclarecer a responsabilidade das principais instituições bancárias de fornecer serviços adequados de depósito e câmbio de dinheiro para empresas e indivíduos, algo que até agora não era legalmente exigido, mas é considerado vital para o funcionamento do dinheiro como meio de pagamento.
Várias preocupações fundamentais estão impulsionando essa aparente reversão da tendência de ausência de dinheiro:
* Inclusão social: O objetivo é garantir que todos os cidadãos, especialmente aqueles com dificuldades de acesso ou uso de métodos de pagamento digitais — como idosos, refugiados ou indivíduos em situação de exclusão digital — não sejam deixados de fora do sistema de pagamento.
* Resiliência e Segurança Nacional: Em um “ambiente global cada vez mais turbulento”, a capacidade de fazer pagamentos básicos em dinheiro é considerada um componente de infraestrutura crítica. O objetivo é garantir a continuidade das transações durante crises como ataques cibernéticos, cortes generalizados de energia ou até mesmo em situações de conflito. A atual infraestrutura monetária da Suécia foi descrita como "muito vulnerável" justamente por causa de seu desuso e consequente desinvestimento.
* Vulnerabilidade da infraestrutura digital: a digitalização profunda, antes um símbolo da modernidade, agora revela como uma falha nos sistemas digitais pode paralisar a economia cotidiana. A dependência quase total da tecnologia para transações financeiras cria um ponto único de falha que o dinheiro poderia ajudar a mitigar.
Reforçando esses argumentos, a ATM Industry Association (ATMIA) publicou um white paper datado de 22 de maio de 2025, eloquentemente intitulado: “Suécia reverte curso: retornos em dinheiro como questão de sobrevivência, inclusão e segurança”.
A transição da Suécia para uma sociedade com pouco dinheiro em espécie acelerou significativamente após um assalto espetacular de helicóptero a um depósito de dinheiro em Estocolmo em 2009, o que estimulou a adoção de alternativas digitais. Como resultado, muitas pequenas empresas pararam de aceitar pagamentos em dinheiro.
O Cash Inquiry propõe condições específicas para a aceitação obrigatória de dinheiro, como sua aplicação em pontos de venda com funcionários durante determinados horários (6h00-20h00) e para empresas de um determinado tamanho (receita superior a 3 milhões de coroas suecas por ano), e também define um limite máximo para pagamentos em dinheiro por transação (por exemplo, 5.880 coroas suecas em 2025).
Este debate na Suécia pode ter repercussões significativas em outros países europeus que também estão avançando rapidamente na digitalização de seus sistemas de pagamento. A experiência sueca destaca uma crescente tensão global entre a rápida inovação em tecnologias financeiras — como "Super Apps" e caixas eletrônicos de última geração — e a necessidade predominante de garantir direitos fundamentais, como inclusão financeira, privacidade e segurança básica.
O caso sueco sugere que a digitalização completa pode ter limites e que o equilíbrio entre eficiência tecnológica e justiça e segurança fundamentais pode exigir a preservação de opções de pagamento tradicionais, como dinheiro.
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La Verdad Yucatán