Falta de liquidez afeta toda a cadeia editorial: Eduardo Rabasa

Em agosto, a editora mexicana Sexto Piso comemora 23 anos como uma editora independente com presença marcante no mercado editorial do país, com várias de suas ofertas editoriais que têm gerado muitas conversas entre seus leitores e a opinião pública nacional.
Em suas mais de duas décadas de existência, mas especialmente nos últimos seis anos, assim como outros elos da cadeia produtiva do livro, a Sexto Piso teve que se adaptar às flutuações do mercado, por exemplo, no custo do papel ou dos serviços de impressão, bem como suportar as complicações e transformações específicas que outros elos da cadeia, como as livrarias, tiveram que enfrentar.
“A Sexto Piso foi um projeto que começou com uma abordagem muito idealista. Inicialmente, era um projeto de quatro amigos. Éramos muito jovens. Talvez inocentemente na época, tivemos a ideia de abrir uma editora que fosse como as editoras que gostávamos. O primeiro livro que produzimos, que é muito bom por si só, foi 'O Crepúsculo da Cultura Americana', de Morris Berman, mas nossa editora teve muitas oportunidades porque não sabíamos muito sobre o negócio”, diz Eduardo Rabasa, editor e cofundador da Sexto Piso, em entrevista.
Não sabíamos muito, se é que sabíamos alguma coisa, sobre edição ou o mundo editorial; simplesmente fazíamos as coisas como achávamos adequado, e então aprendemos que não era viável no México ter uma editora que publicasse traduções, que livros não vendem aqui. Mas como não sabíamos de tudo isso, simplesmente fizemos (...) 23 anos depois, esse projeto se consolidou, mas, por outro lado, há a situação destes últimos anos, que foram muito, muito complicados.”
Os efeitos da pandemia persistem
Fazendo uma comparação com outros mercados editoriais ao redor do mundo, o editor e escritor comenta: “Onde a pandemia deixou as cicatrizes mais profundas foi no México e em outros países latino-americanos. Quer dizer, vejo como houve um boom editorial na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Espanha nos últimos anos, mas não aqui. Muitas dificuldades permanecem, muitos problemas de liquidez.”
A crise sanitária afetou os esforços de tradução da editora, que precisou se concentrar muito mais em autores de língua espanhola, especialmente os mexicanos. "Estamos muito mais cautelosos com as traduções, devido ao custo envolvido. Também deixamos de lado, em certa medida, os livros ilustrados pelo mesmo motivo. Continuamos tentando nos manter fiéis à nossa linha editorial, mas as dificuldades econômicas e financeiras nos limitaram. Infelizmente, tivemos que reduzir nosso número de publicações. Antes da pandemia, conseguíamos publicar entre 45 e 50 novos lançamentos por ano. Agora, estamos em torno de 18 a 20 novos lançamentos por ano."
Por esse motivo, a Sexto Piso aprendeu a otimizar os títulos que promove a cada ano. Rabasa enfatiza que, apesar da redução de novos lançamentos, decidiu não comprometer a qualidade de seus lançamentos, e a gravadora está concentrando suas ferramentas e estratégias mais na promoção de seus títulos já consagrados, e a estratégia tem funcionado.
Para nós, como editora, é importante manter a qualidade dos nossos livros. Embora o preço do papel tenha aumentado, e os custos de produção de um livro também, sabemos que não podemos repassar tudo isso para o bolso do leitor. É por isso que tomamos essas decisões que nos permitem manter o equilíbrio.
Na última década, houve outra mudança radical na demanda por títulos. "Não é segredo que muito mais livros escritos por mulheres estão sendo vendidos hoje em dia, e esses são desenvolvimentos positivos porque refletem uma mudança de mentalidade."
Por exemplo, até o momento, cerca de 80% dos livros publicados recentemente pela Sexto Piso são de autoria feminina. Títulos de escritoras como Dalia de la Cerda, Aura García-Junco, Olivia Teroba, Elisa Díaz Castelo e as três edições de "Tsunami" são constantemente reimpressos.
Livrarias e políticas públicas
“Dentro da cadeia de livrarias, quem tem se saído pior nos últimos anos são as livrarias”, aponta Rabasa. “Existem livrarias muito grandes, cadeias de peso, que operam com muitas dificuldades. E essas não são mais dificuldades atuais; são dificuldades que vêm se arrastando desde a pandemia. A realidade é que o setor não se recuperou. Há muitos atrasos nos pagamentos, e nós entendemos isso. Todos nós tentamos nos unir, ser solidários e continuar fornecendo livros. Embora às vezes haja atrasos nos pagamentos, sempre será melhor para os livros continuarem vendendo, mas é um desafio porque as cadeias de inadimplência se acumulam”, ressalta a editora.
Por fim, ele é questionado sobre a eficácia das políticas públicas em benefício do mercado livreiro, como, por exemplo, a prorrogação por 36 meses do preço único do livro, ou sobre uma das grandes questões pendentes da cadeia editorial, a implementação de uma alíquota zero de IVA para livrarias.
"A implementação de uma taxa zero nas livrarias seria um grande alívio porque, enquanto os livros são isentos desse imposto, os pontos de venda não são, pois têm que arcar com os custos de operação de um negócio", comenta Rabasa, acrescentando:
O preço único para livros é um debate sem fim; ainda não se consolidou totalmente. De repente, você pode ir a grandes plataformas de vendas digitais e elas oferecem descontos (injustos), e é uma história sem fim. Sei que existem grandes editoras que até contratam serviços com algoritmos que detectam (concorrência desleal de preços), mas não podemos fazer isso. Se reclamamos, às vezes eles nos ouvem, outras vezes não. O sistema de preço único é imperfeito, mas ainda é melhor do que era antes. Sem dúvida, é melhor do que nada.
Sexto andar
Alguns títulos emblemáticos
- "Deserto Sonoro" (2019) – Valeria Luiselli
- "Buracos Negros e Ondas Gravitacionais" (2019) – Carlos Herrera Corral
- "Dos Buracos" (2023) – Dahlia de la Cerda
- “Tsunami 3” (2024) – Gabriela Jáuregui et. para o.
- "Por que alguns homens odeiam mulheres" (2025) – Vivian Gornick
"Há livrarias muito grandes, redes muito poderosas, que estão operando com grandes dificuldades. Essas dificuldades não são mais atuais; são, sim, dificuldades que vêm se arrastando desde a pandemia."
Eduardo Rabasa, editor.
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