Complexidade regulatória, um obstáculo ao crescimento do investimento

Burocracia e procedimentos nas empresas.
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Foi anunciado recentemente que a Colômbia voltou a se destacar em um ranking internacional, mas não exatamente por motivos que incentivem a chegada de investimentos estrangeiros. Pelo contrário, ocupou o quinto lugar no Índice Global de Complexidade Corporativa 2025 (GBCI), elaborado pela empresa TMF Group, tornando-se a segunda jurisdição mais complexa para se fazer negócios na América Latina e a terceira mais complexa do mundo, atrás de países como Grécia e França.
Para os especialistas responsáveis pelo estudo, esses dados refletem um ambiente cada vez mais exigente, incerto e burocrático para as empresas, especialmente aquelas que buscam expandir ou investir no exterior, e estão se tornando um obstáculo para o crescimento econômico de longo prazo.
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O relatório, que analisa 79 jurisdições em termos de complexidade regulatória, tributária, trabalhista e de conformidade, alerta que a América Latina continua sendo a região mais complexa do planeta. No entanto, nesse panorama geral, a Colômbia se destaca como um caso crítico, onde a combinação de alta carga regulatória, fiscalização inconsistente e frequentes mudanças legais está se tornando um verdadeiro obstáculo ao dinamismo dos negócios.
“Corredores comerciais resilientes, gestão da cadeia de suprimentos e adesão adequada às tendências trabalhistas serão os principais focos do desenvolvimento de curto prazo, garantindo que a complexidade em si não seja o inimigo, mas sim a incerteza, que retornou aos mercados de forma abrupta e dramática”, observaram.

Incerteza na economia.
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Para explicar melhor por que isso está acontecendo, eles explicaram que entre os fatores por trás dessa crescente complexidade estão, primeiro, as frequentes mudanças regulatórias, já que as empresas na Colômbia precisam se adaptar constantemente às mudanças nas leis tributárias, trabalhistas, contábeis e corporativas, o que gera incerteza, dificulta o planejamento financeiro e aumenta os custos de conformidade legal.
Além disso, embora exista um arcabouço regulatório estruturado, sua interpretação e aplicação nem sempre são consistentes. É comum que diferentes autoridades — nacionais ou locais — adotem abordagens díspares para situações semelhantes, forçando as empresas a investir recursos adicionais para se protegerem legalmente”, afirmou o TMF Group.
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Nesse sentido, Cristhian Fresen, Country Head da TMF Group para a Colômbia , acrescentou que "as regulamentações colombianas não são apenas densas, mas também ambíguas em muitos aspectos. Isso torna a gestão de conformidade mais lenta, mais custosa e propensa a erros, mesmo para empresas respeitáveis".
Outro problema crítico é a presença de múltiplos requisitos operacionais locais, mesmo quando as empresas atendem aos requisitos nacionais gerais. Para as empresas, a existência de procedimentos duplicados, licenças adicionais e requisitos regionais causa atrasos no início das operações, afeta a expansão territorial de negócios estabelecidos e limita a entrada de novos investimentos.

Investimento e economia.
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“A Colômbia, apesar de ter assinado tratados internacionais e buscar atrair investimentos estrangeiros, mantém barreiras operacionais que não foram eliminadas na prática. Algumas delas até se intensificaram devido à digitalização incompleta dos processos administrativos”, disse Fresen.
Eles também enfatizaram que "as plataformas digitais melhoraram a apresentação das informações, mas não eliminaram a burocracia. Em alguns casos, elas até tornaram o monitoramento mais complexo, sobrepondo sistemas que não se comunicam entre si", estabelecendo assim um novo foco para o trabalho futuro.
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Custos ocultosOs autores do relatório enfatizaram que esse ambiente regulatório e administrativo exige um nível maior de preparação e gestão das empresas, levando muitas a optarem por terceirizar processos-chave, como contabilidade, folha de pagamento, conformidade tributária e gestão corporativa, para evitar penalidades ou erros não intencionais.
No entanto, eles deixaram claro que isso implica em custos operacionais mais elevados, especialmente para pequenas e médias empresas que não possuem estruturas legais robustas, e ressaltaram que essa situação desestimula potenciais investidores estrangeiros, que buscam ambientes com regulamentações claras, tempos operacionais razoáveis e custos previsíveis, já que no caso colombiano a alta complexidade atua como um "obstáculo" para o crescimento do capital internacional.

Pesos colombianos
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“Não basta ter mercados atrativos ou bons acordos comerciais. A confiança dos investidores também depende da eficiência institucional e da estabilidade regulatória. A Colômbia, neste momento, não está transmitindo esses sinais com a clareza necessária”, concluiu Cristhian Fresen, da TMF Group.
Vale ressaltar que a Colômbia não está sozinha no pódio de complexidade regional, já que México (3º), Brasil (6º) e Peru (13º) também aparecem no topo do ranking global. Vale destacar também que, embora não seja o único país latino-americano no top 5 global, sua posição no topo da lista reforça sua imagem como um país particularmente difícil para se fazer negócios.
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Em contraste, economias como Chile e Uruguai conseguiram estabilizar seus marcos regulatórios e aprimorar a interoperabilidade de seus sistemas administrativos, reduzindo sua posição no índice e melhorando sua reputação junto aos investidores. Os países considerados mais fáceis de operar são Dinamarca, Ilhas Cayman e Curaçao, onde a digitalização avançada, a clareza regulatória e a baixa intervenção estatal geraram ecossistemas favoráveis ao empreendedorismo e ao investimento estrangeiro.
Apesar dessa avaliação crítica, o relatório do TMF Group sugere que a Colômbia poderia reverter sua posição se decidir avançar com reformas estruturais destinadas a simplificar regulamentações, aumentar a segurança jurídica e maior harmonização entre os níveis de governo. Cristhian Fersen afirmou que essas mudanças exigem vontade política, colaboração interinstitucional e uma abordagem realista para fortalecer o Estado de Direito.

Recessão econômica
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“A complexidade não é um destino inevitável. É o resultado de decisões acumuladas, muitas vezes bem-intencionadas, mas mal integradas. A Colômbia pode melhorar sua competitividade se colocar a facilidade de fazer negócios como um pilar estratégico de sua política econômica”, observa o relatório.
O especialista concluiu enfatizando que, além do ranking, o que está em jogo é a capacidade do país de recuperar seu dinamismo econômico e atrair investimentos produtivos em setores-chave como infraestrutura, tecnologia, manufatura e serviços. Isso é especialmente verdadeiro em um ambiente global cada vez mais competitivo, onde o capital busca eficiência, segurança e rapidez, e onde a complexidade é um luxo que poucos países podem se dar ao luxo de ter.
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