Álvaro ataca Mário e diz que se fosse Centeno saía do BdP

A independência vai ser “levada até ao limite”, garantiu o futuro governador. “A mim não me interessa, literalmente, quem está no Governo. O que quero é uma relação cordial com todos os governos”, garante Álvaro Santos Pereira, concordando que é necessário promover “boas relações institucionais” com o Governo.
Em contraste com aquilo que aconteceu nos últimos anos com Centeno, cuja relação com Miranda Sarmento sempre foi difícil, Santos Pereira diz que vai garantir um contacto muito próximo, com reuniões regulares com o Ministério das Finanças e com o Governo.
Para o PS, contudo, Álvaro Santos Pereira, só por não ter cartão partidário (Mário Centeno também não é militante do PS) não quer dizer que seja independente. Aliás, depois de o futuro governador recordar a situação de “bancarrota” vivida em 2011, após vários anos de governação socialista marcada por “corrupção e políticas públicas despesistas e irresponsáveis”, o deputado Carlos Pereira atirou-se ao futuro governador.
“Não houve bancarrota, não houve um quadro de insolvência, houve uma assistência financeira”, atirou o deputado socialista. “Um governador [indigitado] não deve e não pode” usar este tipo de discurso que, diz, pertence mais à esfera das “tascas e dos cafés” – e não à Assembleia da República.
Para Carlos Pereira, isto demonstra que Álvaro Santos Pereira não é independente, porque usou várias “expressões carregadas” de considerações de índole partidária.
Na zona euro, “como a taxa de inflação está neste momento em cerca de 2%, dentro dos objetivos, é bem possível que as taxas de juro se mantenham por algum tempo – tudo vai depender daquilo que for analisado, reunião a reunião” do BCE, afirmou Álvaro Santos Pereira.
Anteriormente, o futuro governador tinha sido questionado sobre se, no seio do Conselho do BCE, irá vestir o fato de “pomba” ou um “falcão” da política monetária, uma referência às designações usadas na gíria dos bancos centrais para descrever alguém mais propenso a manter taxas de juro baixas ou, por outro lado, alguém mais avesso aos riscos de inflação.
“Uma pomba não sou, de certeza”, sublinha, lembrando que considera o controlo da inflação absolutamente essencial. Mário Centeno, por seu turno, era visto como uma das principais “pombas” no BCE.
Santos Pereira deixou essas acusações sem resposta, mas sublinhou, por outro lado, que a sua independência não é apenas em relação ao Estado mas, também, em relação aos supervisionados – isto é, os bancos, que irão ser escrutinados de forma “atenta”, avisou.
Um tema onde Álvaro Santos Pereira não quis entrar muito foi no tema da nova sede, polémica que abalou a reta final do mandato de Mário Centeno como governador do Banco de Portugal após uma investigação do Observador.
O futuro rosto do supervisor financeiro reconheceu que faz sentido reunir num único edifício todos os serviços que atualmente estão espalhados pela capital. “Isso não está em causa”, afirmou, mas uma “decisão estrutural” como esta não deveria ter sido decidida por Mário Centeno nos últimos meses do mandato, quando já tudo indicava que não seria reconduzido.
Santos Pereira, que já sabia que ia ser questionado sobre o tema, remeteu para mais tarde esclarecimentos sobre o tema – já que nesta fase tudo o que pudesse dizer seria “especulação” com base nas notícias que foram publicadas. “Vou estudar, não tenho informação, quando chegar vou certamente analisar o dossiê com grande detalhe e, depois, certamente, se o Parlamento entender que eu devo prestar esclarecimentos eu fá-lo-ei”.
Relativamente à polémica auditoria da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) sobre o caso da nova sede, Álvaro Santos Pereira diz que “é importante dizer que na lei orgânica do BdP e também do Ministério das Finanças, assim como as regras do Eurossistema, sabemos que auditorias feitas por instituições controladas politicamente não estão abrangidas”.
Porém, “para mim é muito importante dizer que ‘quem não deve não teme’“, atirou Santos Pereira, garantindo que o “Banco de Portugal irá prestar todas as informações necessárias ao povo português e irá responder às questões que forem colocadas” em qualquer auditoria que exista.
“O BdP tem de dar todos os esclarecimentos possíveis. Se for entendido que há auditoria, tem de ser feita nos termos da lei orgânica do Banco de Portugal e do Ministério das Finanças”, disse, admitindo que o Tribunal de Contas também poderá vir a escrutinar este caso – e esse, sim, pode, pelas regras do Eurossistema, auditar o supervisor financeiro.
Foi noticiado na semana passada que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) está a aguardar a marcação de uma reunião com o Banco de Portugal (BdP) para esclarecer a nova sede da entidade, depois de o Ministério das Finanças ter mandatado o organismo fiscalizador a realizar uma auditoria ao processo do investimento na nova sede.
Mas se Santos Pereira evita comentários muito aprofundados sobre o tema da nova sede, não foge a comentar outra decisão que também foi tomada por Mário Centeno perto do fim do mandato: a renovação do contrato de Álvaro Novo, seu chefe de gabinete e amigo de longa data, que agora será substituído por Álvaro Santos Pereira.
“O chefe de gabinete é alguém que trabalha muito de perto com ministros ou governadores e tem de ser alguém da confiança total”, disse o próximo governador do Banco de Portugal, adiantando que a sua chefe de gabinete não será Álvaro Novo mas, sim, Filipa Santos, que foi sua chefe de gabinete quando era ministro da Economia. Santos Pereira não comentou, porém, a promoção da mulher de Mourinho Félix para diretora-adjunta no banco.
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observador