Giulio deu a cara ao vento e fez história em terreno hostil

Imprevisível e perigosa. É assim que o jornal Marca descreve, na sua edição desta quarta-feira, últimos dias da 80.ª edição da Volta a Espanha. Por esta altura, aquela que deveria ser a última grande competição do calendário global do ciclismo de estrada transformou-se num palco de reivindicações e até já há quem diga que a competição possa não terminar em Madrid, no próximo. Motivo? A participação da Israel-Premier Tech. Nesse sentido, a organização da Vuelta encortou a etapa desta terça-feira, na Galiza, depois de já o ter feito no País Basco, por não estarem reunidas todas as condições de segurança, já que os manifestantes pro-Palestina invadiram a subida final, de Castro de Herville, que se esperava que fosse importante na decisão da corrida, mais ainda pela forte presença de portugueses. Durante a etapa, os ciclistas reportaram ainda um ataque de pioneses por parte dos manifestantes.
“Quero expressar a nossa rejeição pelo que vivemos hoje [terça-feira], mais uma vez. Vamos continuar a fazer a Vuelta e, amanhã [quarta-feira], vamos partir para a etapa. Temos regras e elas têm de ser cumpridas. Não se pode impedir a passagem dos ciclistas, é ilegal porque está tipificado no Código Penal e na lei do desporto. Houve um jogo de futebol entre Itália e Israel, Israel participou no Campeonato da Europa… Nenhuma federação internacional proibiu a sua participação, não há nenhum organismo que tenha estabelecido sanções. Queremos defender o nosso desporto e a nossa corrida. Isto não é uma batalha e eu não estou a lutar contra ninguém. Só quero que se faça a corrida. Madrid? O nosso propósito é chegar lá”, afirmou Javier Guillén, diretor da prova espanhola, em conferência de imprensa.
O líder Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) também se pronunciou sobre os incidentes, em entrevista à Marca. “É claro que é assustador que eles façam isso numa corrida de ciclismo e coloquem as nossas vidas em risco. Não acho que seja a maneira adequada mas, como disse, acho que eles estão desesperados. É claro que todos temos medo do que pode acontecer. Acho que se não houver violência, não é um problema. Se estiverem ao lado da estrada com os seus cartazes, não representam um risco para a corrida nem para a nossa segurança. Mas, como disse, eles querem fazer-se ouvir e eu compreendo isso”, partilhou o dinamarquês.
Já João Almeida (UAE Team Emirates-XRG), que continua no segundo lugar da geral e a lutar pela vitória na Vuelta, também disse “compreender as manifestações”. “Acho que é preciso manifestar-se pelo que se quer, mas sempre de forma pacífica, sem criar problemas. E isso não está a acontecer. Há dias em que a corrida é interrompida ou os ciclistas são colocados em perigo. Para mim, lutar por uma causa de forma violenta não faz sentido. Certamente que eles procuram visibilidade, que as pessoas vejam na televisão. Desde que não o façam de forma agressiva e não nos coloquem em perigo, podem manifestar-se pelo que acreditam. Cada um tem o seu direito”, explicou o português à mesma fonte. Perante o sucedido, a organização decidiu mobilizar mais 400 agentes anti-distúrbios — a chamada polícia de choque —, que se juntaram aos 123 que acompanham a corrida desde o primeiro dia.
???? Good morning from O Barco de Valdeorras! Another day for the break? ????
???? ¡Buenos días desde O Barco de Valdeorras! ¿Volveremos a tener una fuga?#LaVuelta25 pic.twitter.com/54dgsflFng
— La Vuelta (@lavuelta) September 10, 2025
Por entre as manifestações, a etapa 17 da Volta a Espanha começou com mais um grande ponto de interrogação, já que, no final instalado no Alto de El Morredero, começou a registar-se vento forte nas primeiras horas da manhã e a instalação da meta, bem como de toda a logística que envolve uma prova desta natureza, teve de ser retardada, por questões de segurança. Antes de chegarem àquela subida de Ponferrada, os ciclistas tinham de percorrer menos de 140 quilómetros, com partida n’O Barco de Valdeorras. Apesar de passarem pelo Paso de las Traviesas a meio da etapa, a decisão estava guardada para o final, no explosivo El Morredero, com 8,8 quilómetros a 9,7% de inclinação média e zonas com rampas de 14% e 16%. O dia começou com uma reunião entre todas as equipas, onde ficou decidido, de forma unânime, que a Vuelta vai continuar, mas que os ciclistas podem neutralizar a corrida caso aconteça um incidente grave. Para além disso, a Movistar oficializou a contratação de Raúl García Pierna (Arkéa-B&B Hotels), umas das surpresas desta Vuelta antes de abandonar, na décima etapa.
????- 100 km | Stage 1️⃣7️⃣ – Etapa 1️⃣7️⃣ | #LaVuelta25
???? A group of 12 riders has managed to get away, with a gap of +1'30" over the peloton
???? Estos 12 ciclistas, en fuga con 1'30" sobre el peloton
???????? Harold Tejada???????? Sergio Samitier???????? Antonio Tiberi???????? Gijs Leemreize
????????… pic.twitter.com/SEqXCNS3qX
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Com a chuva a aparecer na corrida, 12 ciclistas juntaram-se na frente de corrida, com destaque para a presença de Harold Tejada (XDS Astana), que procurou entrar no top 10. Para além do colombiano, Antonio Tiberi (Bahrain-Victorious) perfilava-se como um nome a ter em conta para as contas da etapa. Os ataques começaram a aparecer aquando da passagem por Ponferrada, já dentro dos últimos 30 quilómetros. Tiberi e Tejada ficaram sozinhos na dianteira e, no pelotão, a Red Bull-Bora-hansgrohe tratou de acelerar o ritmo, anulando a fuga a 12 quilómetros do alto. Junior Lecerf (Soudal Quick-Step) foi o primeiro elemento do top 10 a ceder, seguindo-se Felix Gall (Decathlon AG2R La Mondiale). A aproximação à subida foi feita com a Visma na frente, que aumentou desde logo o ritmo nos primeiros metros, o que fez com que Almeida ficasse sem a presença de qualquer companheiro de equipa.
A 6,2 quilómetros da meta, Jai Hindley (Red Bull) atacou e cortou o grupo, com o português a ficar cortado. O Bota Lume colocou, então, em prática mais uma Almeidada e reentrou 700 metros depois, quando Matthew Riccitello (Israel) contra-atacou. À entrada para os últimos quatro quilómetros, Giulio Pellizzari (Red Bull) atacou e obrigou o norte-americano a responder. Mais à frente, o italiano voltou à carga e conseguiu escapar ao grupo em definitivo. Os ataques continuaram a suceder-se, sem sucesso, já que Pellizzari tornou-se no primeiro ciclista não espanhol a vencer no El Morredero, somando ainda a primeira vitória da sua carreira enquanto profissional. Na segunda posição chegou Thomas Pidcock (Q36.5), a 16 segundos, com Hindley a completar o pódio da etapa, a 18. Seguiu-se Vingegaard (a 20 segundos), que ganhou dois segundos a Almeida (22), o quinto da etapa.
El jóven que paró el viento ????️????️
Vingegaard rasca unos segundos a Almeida en un día de sufrimiento y Giulio Pellizzari estrena su palmarés de victorias en el Morredero.
????????♂️ Lo has visto en @Eurosport_ES y @StreamMaxES. #LaVuelta25 pic.twitter.com/WfICFwC1Yd
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Na geral, Jonas Vingegaard vai partir para o contrarrelógio desta quinta-feira com 50 segundos de vantagem para João Almeida, com Tom Pidcock a colocar-se a 2.28 minutos do dinamarquês. Seguem-se os colegas de equipa Jai Hindley e Giulio Pellizzari, a 3.04 e 3.51, respetivamente.
observador