ONU: 5,2 milhões precisam de ajuda em Moçambique

A ONU disse que quase 5,2 milhões de pessoas estão a precisar de assistência, devido à “tripla crise” em Moçambique, resultado de “conflito armado, eventos climáticos extremos recorrentes e meses de agitação pós-eleitoral”.
O coordenador e diretor adjunto para a África Ocidental e Central do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) sublinhou que a realidade é particularmente grave na província de Cabo Delgado.
Xavier Creach disse que a atividade de grupos armados não estatais aumentou o número de deslocações e a destruição de infraestruturas, dificultando também os esforços de recuperação.
Mais de 25 mil moçambicanos no norte do país foram obrigados a fugir das suas casas nas últimas semanas devido à escalada do conflito, lamentou o dirigente.
“Milhares de pessoas perderam as suas casas, muitas pela segunda ou terceira vez, e procuram segurança em comunidades já sobrecarregadas”, disse Creach.
As mulheres e as crianças, em particular, enfrentam “sérios riscos” em termos de proteção num ambiente onde “a violência de género, a separação familiar e o acesso limitado à documentação estão a aumentar drasticamente”, referiu.
A crise humanitária em Cabo Delgado já deixou 1,3 milhões de deslocados e poderá agravar-se devido a uma grave lacuna de financiamento para operações vitais de ajuda, alertou o responsável da ACNUR.
A capacidade de resposta da agência tem sido limitada pelo financiamento insuficiente, que mal cobre um terço do montante necessário de 42,7 milhões de dólares (37,5 milhões de euros) para este ano.
O coordenado da ACNUR alertou para o risco de alguns “programas vitais” serem abandonados se não forem mobilizados “apoios urgentes” para Moçambique.
“Está a formar-se uma tempestade perfeita. Se virarmos as costas agora, o país enfrentará uma emergência humanitária muito maior. A crise está a desenrolar-se agora. Temos uma escolha. Podemos agir para prevenir, apoiar e proteger, ou podemos ficar de braços cruzados”, disse Creach.
O alerta da ACNUR surgiu um dia depois do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) estimar que mais de 3,4 milhões de crianças moçambicanas precisam de apoio urgente e ter apelado para o aumento da resposta humanitária às necessidades crescentes no país.
“Moçambique está a enfrentar múltiplos desafios que agravaram ainda mais a crise humanitária no país. Mais de 3,4 milhões de crianças precisam de ajuda humanitária urgente”, lê-se num comunicado daquela agência das Nações Unidas.
Segundo a Unicef, os conflitos armados na província de Cabo Delgado e os fenómenos climáticos extremos “deixaram o país muito vulnerável”, causando “surtos de doenças infecciosas, escolas e unidades de saúde destruídas”.
A Unicef Portugal também lançou “um apelo urgente a donativos para apoiar as operações de emergência em Moçambique e garantir um futuro para estas crianças e as suas famílias”.
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