Apagão. Inquérito independente terá "omissões e imprecisões"

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Apagão. Inquérito independente terá "omissões e imprecisões"

Apagão. Inquérito independente terá "omissões e imprecisões"

As principais elétricas a operar em Espanha alertam para a “imprecisões e omissões” na análise que os peritos independentes estão a conduzir às causas do apagão ibérico.

Numa atualização do estudo já apresentado no início de julho pela associação que integra a Endesa, Iberdrola e EDP, a AELEC diz que o mais recente relatório técnico divulgado pelo comité nomeado pela ENTSO-E ( rede de operadores europeus) omite dados técnicos que considera relevantes. Apelando à necessidade de partilhar observações sobre aspetos técnicos críticos que não foram “devidamente abordados e que condicionam o diagnóstico das causas que desembocaram no zero elétrico que afetou o sistema peninsular no passado dia 28 de abril”.

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Entre as omissões, referem a não substituição de uma central de ciclo combinado considerada crítica para responder à procura e que esteve indisponível, e os sinais prévios de instabilidade no controlo de tensão da rede elétrica espanhola, verificados nos dias anteriores.

Foram estas omissões e erros de análise (agora por parte da REE — Rede Elétrica de Espanha) “que debilitaram a segurança do sistema” elétrico antes do apagão, refere a associação.

No clima de acusações cruzadas entre os principais atores do setor energético espanhol (e políticos) que se seguiu ao apagão, a AELEC pediu um relatório independente a dois consultores — um dos quais, o INESC TEC ligado à Universidade do Porto, é português.

As primeiras conclusões desta investigação paralela apontaram já para uma falha sistémica do controlo de tensão na rede elétrica, competência que “é da exclusiva responsabilidade do operador de rede”, a REE. Na divulgação inicial, a AELEC centrou-se no que considerou as falhas nos relatórios já conhecidos sobre as causas do apagão elaborados por entidade espanholas, focando em particular a investigação interna promovida pela REE, mas também a investigação feita pelo grupo nomeado pelo Governo espanhol.

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Agora, os consultores da associação estendem o apontar de falhas ao mais recente ponto de situação das investigações que foi libertado a 16 de julho pelo painel de peritos independentes nomeados pelos operadores de sistema elétrico reunidos na ENTSO-E. O relatório final destes peritos ainda não é conhecido. Apesar de a REE não estar representada no painel — onde há um português — a operadora espanhola é parte da ENTSO-E e forneceu os dados para a investigação. A gestora da rede elétrica espanhola é em simultâneo “ator implicado e parte da análise” em condições que, segundo a AELEC, não garantem a independência e objetividade necessárias.

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O que está a ser omitido ou desvalorizado, segundo as elétricas.

  • O estudo encomendado pela AELEC questiona a adequação do mix de produção que estaria abastecer o consumo naquele dia. Em particular, questiona que a REE não tenha ativado uma outra central a gás (estas unidades contribuem para a estabilidade da rede, ao contrário de muita produção renovável). Na altura do apagão, só estava à ligada à rede uma central a gás, em Arcos de La Frontera, o que reduziu a capacidade de controlo de tensão no sul de Espanha.
  • Foram ignorados os alertas e episódios prévios de sobretensão que revelaram a instabilidade da rede entre 22 e 24 de abril, bem como os indicadores técnicos que sinalizavam um risco crescente nos dias anteriores a 28 de abril.
  • Houve falta de coordenação com as empresas distribuidoras (detidas pelas elétricas). Apesar de terem sido ultrapassados os limites de tensão, a REE não ativou as medidas de coordenação previstas nem avisou as distribuidoras previstas nos protocolos.
  • Confusão em relação aos limites de tensão em Espanha e Portugal, com a ENTSO-E a assumir que o limite superior é distinto nos dois países e que em Espanha está nos 435 kV (kilovolt), quando o intervalo normal varia entre os 390-420 kV.

O trabalho realizado pelo INESC TEC e pela consultora Compass Lexecon identifica os principais fatores técnicos e operacionais que contribuíram para a desconexão massiva do sistema, bem como os mecanismos de proteção, a coordenação e a resposta dada durante o evento. Entre as suas conclusões, destacam-se:

A causa principal do apagão foi um problema sistémico de controlo de tensão, agravado por manobras prévias do operador de rede, em especial na Andaluzia, região na qual foi gerado um excesso de potência reativa face à capacidade de absorção por parte do único grupo a gás natural que estava ligado à rede.

As advertências prévias relativas a falhas localizadas que ocorreram nos dias anteriores — 16, 22 e 24 de abril — e que resultaram de flutuações significativas do nível de tensão que não foram consideradas nem corrigidas pela REE.

A planificação da produção e distribuição da geração convencional — centrais a gás, nuclear, carvão e hídricas — estava mal feita e foi insuficiente. Na véspera do apagão, não se completaram as ofertas de serviços do sistema no mercado de restrições técnicas, não foram ativados recursos hidráulicos disponíveis nem se reforçou a produção térmica atempadamente.

As manobras levadas a cabo pela REE entre as 12h00 e as 12h30 do dia 28 de abril, e que envolveram a reconexão de 11 linhas de transporte no sul de Espanha, tiveram o efeito contraproducente e reduzirem a margem de controlo da tensão em vez de o reforçarem.

O relatório (feito para a associação das elétricas) não identificou um comportamento anómalo por parte das centrais produtoras que, no relatório da REE, são apontadas como tendo-se desconetado da rede de forma desadequada.

Ainda falta o acesso a dados chave que estão na posse da REE.

observador

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