Carneiro, os bonés e mais recados para fora

Houve um momento curioso quando Carneiro saltou um paragrafo concreto desta parte da intervenção sobre a relação com a maioria no Parlamento: o dedicado a revisão constitucional. A explicação é prosaica e foi dada pelo próprio candidato ao Observador, que disse ter deixado cair o parágrafo porque a intervenção ia longa. Eram 32 páginas, ainda assim, só escolheu saltar esta, suficientemente delicada. Certo é que ia dizer exatamente o que já disse sobre este capítulo, reforçando a ideia (alinhada com Luís Montenegro) de que “não é uma prioridade”. Sobretudo “num quadro de fragmentação parlamentar e de crescimento do número de deputados que querem destruir princípios constitucionais”, escreveu — mas não leu.
Ainda definiu uma “agenda para o futuro”, que passa por aumentar o salário médio, garantir habitação para as famílias e autonomia na produção de energia no espaço de dez anos.
Explicou que quer o aumento de rendimentos, com o salário médios a alcançar o salário médio europeu em dez anos; nesse mesmo prazo quer ter “todas as famílias com acesso a uma habitação condigna, seja através do mercado público, seja através de incentivos à construção privada de casas a preços acessíveis”; garantir que “no máximo até 2035, Portugal seja capaz de se autoabastecer de eletricidade com recursos a fontes renováveis”.
Nesta altura, com António José Seguro já oficializado como candidato presidencial, o PS está em rebuliço sobre as Presidenciais. Mas Carneiro quis colocar um travão às conversas e desfiles de apoios ou críticas que correm nos últimos meses ao dizer que “a prioridade imediata são as autárquicas” e que elas são “um poderoso antídoto contra a progressão populista”.
Refere que o PS “procurará convergências progressistas onde se revelarem necessárias, sólidas e ganhadoras”. E pede “mais mulheres e jovens” nas listas do PS.
Quanto às presidenciais disse apenas: “Lá chegaremos. É o PS que define a sua agenda e é o PS que define a hierarquia da suas prioridades”. E fez mesmo o calendário para atirar as presidenciais para depois das autárquicas: “As autárquicas serão já em fins de setembro, princípio de outubro. As presidenciais serão só em 2026. Cada coisa a seu tempo”, afirma, garantindo saber qual o seu “dever na defesa da autonomia e unidade estratégica do PS”.
PS gere presidenciais com pinças com medo de divisões que comprometam autárquicas
Com um candidato único à liderança e depois de uma hecatombe eleitoral, José Luís Carneiro conseguiu encher o jardim da sede nacional do partido com representantes das várias alas socialistas, até daquela que combateu nas últimas diretas, a que era liderada por Pedro Nuno Santos. Ainda assim, não teve na plateia nem o o seu apoiante nas últimas diretas, Fernando Medina, nem Mariana Vieira da Silva. Também não esteve Duarte Cordeiro. Dos nomes do chamado “núcleo de Lisboa”, que chegou a procurar uma alternativa à sua candidatura à liderança, Carneiro só contou com a presença de Ana Catarina Mendes.
Na sede nacional do PS, entre os primeiros a chegar e a ocupar a primeira fila de cadeiras dispostas no jardim estiveram Maria de Belém, Manuel Alegre e Vera Jardim. E a dada altura também a mulher de António Costa, Fernanda Tadeu, ocupou uma das cadeiras da frente. O antigo líder é agora presidente do Conselho Europeu e tem-se mantido afastado do contexto político-partidário, mas Fernanda Tadeu esteve presente — o que nunca tinha feito no tempo da anterior liderança do PS. E foi mesmo uma das quatros mulheres que, no final da intervenção, chamou ao palco para junto de si, ao lado da sua mulher, Goreti, Maria de Belém e a autarca Maria de Medeiros.
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