A saúde mental dos jovens: um investimento urgente

O cuidado com o bem-estar emocional nunca foi tão importante como agora. Depois da crise pandémica da COVID-19, dos acontecimentos que ainda se desenrolam entre Israel e o Hamas e a Rússia e a Ucrânia, e da ameaça crescente das alterações climáticas, o impacto da incerteza na saúde mental das pessoas, e sobretudo dos jovens, é um tema a que devemos estar especialmente atentos.
Acredito que a abordagem mais eficaz e sustentável para melhorar o bem-estar mental nos jovens é a prevenção. Sabemos que a saúde física é frequentemente priorizada, especialmente em períodos de crise, mas coloca-se muitas vezes em causa a importância da saúde mental. É crucial reverter esta tendência e dar ao bem-estar emocional toda a atenção que merece.
O recente Global Risks Report, do Fórum Económico Mundial, lançou um alerta preocupante: o “declínio da saúde e do bem-estar” figura como um dos riscos mais significativos que enfrentamos atualmente. Esta situação reforça a urgência em abordarmos a crescente crise de saúde mental, com particular atenção à sua manifestação entre os jovens, uma geração que “carrega” o peso das incertezas do nosso tempo.
Os dados apresentados no relatório expõem uma situação complexa e desafiadora. Na União Europeia (UE), mais de 1 em cada 6 jovens enfrenta desafios relacionados com a saúde mental, com quase metade a reportar necessidades não atendidas por parte dos sistemas de saúde. O suicídio, uma tragédia evitável, permanece a segunda principal causa de morte entre jovens dos 15 aos 19 anos. Estes números, por si só, demonstram a magnitude do problema e a necessidade de uma resposta urgente e eficaz.
Apesar de se verificarem alguns progressos no financiamento, investigação e desestigmatização da saúde mental, o investimento global continua aquém do necessário, com um foco predominante no tratamento, em detrimento da prevenção. Este cenário reflete uma negligência social com custos económicos significativos, estimados em mais de 600 mil milhões de euros anuais na UE. É um custo que não podemos, nem devemos, continuar a suportar.
É inegável: o mundo atravessa desafios globais muito complexos. Por isso, toda a reflexão e ação é não só relevante, mas também imprescindível. O Livro Branco “Uma Visão Para o Bem-Estar Mental dos Jovens na Europa” é um bom exemplo disso. É um documento que pretende ser, mais do que um diagnóstico, um apelo à ação concertada de todas as partes interessadas, nomeadamente decisores políticos, setor privado, ONGs, cuidadores e os próprios jovens. Este Livro Branco avalia o estado atual da saúde mental dos jovens na UE, identifica as lacunas existentes e propõe um conjunto de medidas concretas e acionáveis, desde a integração da saúde mental nas políticas governamentais e programas educativos, ao reforço de parcerias entre organizações, passando pelo reequilíbrio do financiamento para programas de prevenção.
Só conseguimos garantir que lidamos devidamente com estas questões se fizermos uma mudança sistémica, em colaboração com parceiros locais e globais. Apostar em iniciativas que apoiam a saúde mental dos jovens na comunidade e dotá-los de ferramentas que lhes permitam expressar e normalizar as suas necessidades e emoções – para que, posteriormente, sejam mais autónomos e capazes de encontrar soluções – é o papel que todos temos de assumir. Por outro lado, e apesar de a literacia emocional ter aumentado nos últimos anos, penso que ainda existem muitas barreiras que persistem na nossa sociedade. Um maior conhecimento do bem-estar mental é uma das formas de combater a crise que vivemos atualmente e reduzir o estigma.
Em Portugal, um exemplo de boas iniciativas destacadas neste Livro Branco é o “Por ti: Programa de Promoção de Bem-estar Mental nas Escolas”, que tem como objetivo preparar melhor os jovens portugueses e respetivas comunidades escolares para o futuro, através do desenvolvimento de competências de regulação emocional. O “Por ti”, que se vai desenrolar ao longo de quatro anos, já chegou a quase 70 mil alunos entre os 12 e os 15 anos, de mais de 300 escolas de 140 municípios de Portugal continental e Ilhas. Já resultou também na formação ‘O bem-estar mental e a relação pedagógica de professor-aluno’, certificada pela Universidade de Coimbra e que conta para efeitos de progressão de carreira dos professores do 3.º Ciclo. Com o foco na sociedade civil, o “Por ti” foi também alargado a um podcast que partilha o estado da arte do bem-estar mental em Portugal. Até 2026, o “Por ti” vai chegar ainda mais longe.
Porque investir na saúde mental dos jovens não é apenas um ato de responsabilidade social, é um investimento num futuro mais brilhante, próspero e resiliente para todos. É um investimento na resiliência das gerações futuras.
Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com o Hospital da Luz e com a Johnson & Johnson Innovative Medicine e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.
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