Francisco José Viegas: “Não me parece que o ChatGPT possa escrever um poema”

À frente da Quetzal Editores desde 2008, o escritor transmontano não é um ludita – usa a Inteligência Artificial para pesquisa de dados, “naturalmente”, como já usava a internet. Mas não delega em máquinas a sua escrita e até escreve muitas vezes à mão. “Há uma ligação entre a mão e o espírito”, lembra, antes de antever que a IA irá criar “uma nova forma de Humanidade”.
Há quase 20 anos, quando o seu romance Longe de Manaus ganhou o Grande Prémio da APE, o Francisco contou aqui na VISÃO que a princípio tinha no computador fichas para o sempiterno protagonista Jaime Ramos e para cada uma das outras personagens, mas que entretanto passara a usar cadernos – e até já estava a escrever um novo livro à mão, com uma Artpen [antiga caneta de tinta permanente da Rotring]. Continua a fazê-lo?Escrevo cada vez mais com lápis e caneta. Em papel, em cadernos e folhas soltas, tanto faz. Há uma ligação entre a mão e o espírito. Jean Brun, um filósofo francês, tem um livro com esse título [A Mão e o Espírito, Edições 70]. Lembro-me de ver um primeiro-ministro a apresentar numa escola a novidade dos quadros digitais, que supostamente iriam substituir os velhos quadros a giz ou marcador… Ele dizia, todo contente, “agora não é preciso sujar as mãos para desenhar um triângulo, basta carregar numa tecla”, sem perceber que isso era uma barbaridade. Escrever à mão faz-nos tomar consciência do que escrevemos.
Visao