Psicólogo: Espera prolongada pode até aumentar a motivação dos astronautas

A espera prolongada pela conclusão de uma tarefa geralmente enfraquece o engajamento. No entanto, se a tarefa for importante, como no caso dos astronautas, e a motivação for forte e consistente com os valores, os obstáculos – se não excessivos – podem fortalecê-la e ajudar a manter o foco – disse a Dra. Ewa Szumowska, da Universidade Jaguelônica, à PAP.
Conforme relatado pela Axiom Space, a missão Ax-4, com a participação do polonês Sławosz Uznański-Wiśniewski, será lançada em órbita no máximo no domingo, 22 de junho. O lançamento da missão já foi adiado diversas vezes. Inicialmente, o voo do foguete Falcon 9, que transportará a cápsula Dragon com a tripulação para a órbita, estava planejado para 29 de maio e, posteriormente, para 8, 10 e 11 de junho. Anúncios oficiais posteriores indicaram o lançamento, no mínimo, para 19 de junho. Assim, a tripulação da missão, ou seja, os astronautas e várias dezenas de outras pessoas, está em quarentena desde o final de maio, aguardando o lançamento, precedido por muitos meses de preparativos.
Sabemos, pela teoria da motivação, que essa espera adiada e prolongada pela conclusão de uma tarefa geralmente enfraquece o comprometimento. Se a data de início for constantemente adiada, isso pode, teoricamente, reduzir a sensação de que ela acontecerá um dia e gerar incerteza. Adiar algo importante e há muito esperado também gera frustração, o que geralmente não contribui para a motivação, embora isso nem sempre precise ser o caso", disse à PAP a Dra. Ewa Szumowska, do Instituto de Psicologia da Universidade Jaguelônica, cujo trabalho científico aborda, entre outras coisas, motivação e multitarefa.
Um componente importante da motivação – como ela explicou – é a crença de que o objetivo será alcançado. Se a motivação também for muito forte, altamente internalizada, ou seja, consistente com os valores da pessoa, com seus objetivos, então não é necessário que obstáculos ou espera prolongada reduzam a motivação e a manutenção do foco.
"Apesar das dificuldades, ela pode permanecer a mesma. Às vezes, obstáculos adicionais, no caso de objetivos tão importantes e excepcionais, podem até aumentar a motivação. Parece-nos, então, que quanto mais nos esforçamos, quanto mais nos esforçamos, mais isso prova que nos importamos", descreveu o entrevistado à PAP.
Certamente, a espera prolongada é um desafio para o corpo, porque você tem que permanecer em um estado de expectativa, concentração, mas também de tensão emocional e cognitiva.
"Os astronautas certamente são treinados para isso, então acho que é mais fácil para eles do que para a pessoa comum sem esse preparo. O importante é como lidar com essa tensão, mantendo uma rotina, treinando, praticando procedimentos, mantendo a preparação, usando técnicas de gerenciamento de estresse, que provavelmente são uma parte fundamental dessa preparação. No entanto, suspeito que esperar não seja o maior fardo emocional que pode acontecer durante uma missão como essa. Os astronautas também devem estar preparados para eventualidades piores e muito mais estressantes. Mas o estresse repentino, que promove a mobilização, uma situação crítica, exigindo que você fique tenso e se mostre à altura da situação, também é diferente. Um estado de tensão crônico e prolongado pode ser mais insidioso", observou o psicólogo.
Embora os astronautas, juntamente com uma parcela significativa da equipe que opera o voo para a Estação Espacial Internacional, estejam em quarentena desde o final de maio, o pesquisador acredita que isso não precisa necessariamente afetar negativamente seu bem-estar e concentração.
De fato, essa separação de entes queridos, pessoas importantes para nós, geralmente é difícil, especialmente em situações estressantes e quando é excessivamente prolongada. No entanto, estar na companhia de pessoas que têm o mesmo foco na missão e motivação nos permite manter o comprometimento. Viver constantemente a missão e o fato de que ela está prestes a acontecer são técnicas frequentemente utilizadas por diversos grupos de alto comprometimento. Muitas vezes, essa separação – nesta situação específica, devido à quarentena – é usada para motivar uns aos outros e manter um estado de foco total no objetivo”, descreveu a Dra. Szumowska.
Em tudo isso, às vezes também pode haver uma tendência ao chamado envolvimento extremo, alcançando 100% de atenção.
"Este é um engajamento que exclui outras áreas da vida, levando a pessoa a concentrar todo o seu esforço, toda a sua energia e tempo em uma única atividade. Isso geralmente se aplica a diversas missões de alto risco. Atletas olímpicos frequentemente funcionam dessa forma, mas astronautas certamente estão próximos desse limite. É por isso que estratégias de equilíbrio são sempre utilizadas, para introduzir outras áreas da vida na rotina. O objetivo é evitar o esgotamento e o engajamento em um grau prejudicial à saúde física e emocional. No entanto, presumo que a rotina dos astronautas certamente inclua técnicas voltadas para o cuidado da saúde mental e emocional, a fim de evitar sobrecarga excessiva nas missões", resumiu o entrevistado para a PAP.
Ewelina Krajczyńska-Wujec (PAP)
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