“Os espaços culturais financiados com dinheiro público devem dar prioridade à apresentação de criadores franceses?”
A França está defendendo bem seus artistas? Não vamos nos calar, vamos ser mais diretos: museus, teatros, salas de concerto ou festivais, quando financiados com dinheiro público, devem priorizar a apresentação de artistas franceses? A questão, há muito tempo impensada, tabu ou considerada desprezível, surgiu em pleno verão em um relatório do Ministério da Cultura. Ela está ganhando força, já que a França carece de governança e recursos financeiros.
O assunto foi colocado em pauta por Martin Bethenod, ex-diretor da Feira Internacional de Arte Contemporânea, em um documento intitulado "O fortalecimento da cena artística francesa. Panorama e propostas", que Rachida Dati lhe encomendou ( Le Monde, 31 de julho).
Martin Bethenod ousa usar o palavrão "cota" para obras de arte — "Não devemos ter medo delas", escreve ele. Ele propõe que as obras adquiridas anualmente pelo Centro Nacional de Artes Plásticas sejam 100% produzidas na França (atualmente metade) e que o Centro Pompidou apresente 40% ou 60% das exposições de artistas franceses — por enquanto, o museu faz o que bem entende.
Martin Bethenod estende à arte o que já existe em outros lugares: canais de televisão e plataformas devem transmitir pelo menos 40% de filmes e telefilmes franceses, e as estações de rádio devem transmitir pelo menos 40% de músicas em francês, metade das quais são lançamentos. O relator, no entanto, adota uma abordagem cautelosa, escrevendo que a prioridade deve ser dada ao apoio à "cena francesa", que inclui artistas estrangeiros residentes na França. Ele enfatiza esse princípio para dissipar "qualquer suspeita ideológica".
Cuidado com a linguagemPara entender a linguagem cautelosa, precisamos retornar à década de 1980 e ao Ministro da Cultura, Jack Lang. A França era então o berço da arte global. O dinheiro estava lá, assim como uma dinâmica cultural, da qual todos se beneficiavam sem se preocupar com os passaportes dos bolsistas. Para se considerar apenas a arquitetura, Jean Nouvel, Christian de Portzamparc e Dominique Perrault viram suas carreiras impulsionadas, enquanto estrangeiros construíam a Pirâmide do Louvre, a Ópera da Bastilha e o Arco de La Défense.
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Le Monde