“Agora só escrevo em francês”: em Paris, o ucraniano Viktor Kyrylov põe as cartas na mesa

Alguns espetáculos fazem mais do que apenas tocar em eventos atuais. Oferecem-lhes uma inteligibilidade sensível. Sua acuidade não enfraquece com o passar dos meses. É o caso de Maintenant je n'écris plus qu'en français, do ucraniano Viktor Kyrylov, em cartaz desde abril no Théâtre de Belleville, em Paris, que teve casa quase lotada em maio e lotada em junho. Até o final de setembro, terá atingido quase 75 apresentações. Um sucesso? Talvez, mas sem atração principal e sem qualquer financiamento além do crowdfunding, apesar do apoio do Atelier des artistes en exil, do Jeune Théâtre National e da Comédie-Française.
Viktor Kyrylov, seu autor e ator de 20 anos, era até então desconhecido, e seu espetáculo solo conta uma história complexa: a sua própria, repleta de dúvidas e contradições, realizações constantemente frustradas, decepções, mas também de uma solidariedade alegre. Encontramos Viktor Kyrylov em Jourdain, onde ele mora: "Hoje tendemos a ser esquecidos, mas fomos extraordinariamente bem-vindos em toda a Europa. Foi uma loucura. Havia um grande interesse pela cultura ucraniana." Uma sombra passa: "Estou até um pouco chocado. Por que isso não acontece com todos os refugiados, de onde quer que venham ? Por que isso não acontece com os palestinos ?"
Hoje só escrevo em francês é uma história sem glória nem linearidade. O monólogo relata como a guerra dá à luz
Libération