É uma boa ideia impor tarifas sobre carros chineses?

Na semana passada, a Bloomberg noticiou que o governo mexicano está prestes a anunciar a imposição de tarifas sobre produtos importados da China, especialmente calçados, têxteis e automóveis. Em teoria, parece uma boa ideia. Trata-se de proteger a indústria local, porque a vocação econômica do México é semelhante à da China: produzir bens para exportação. É claro que a diferença de escala entre os dois países é tão gritante que é inútil compará-los. A questão com a indústria automotiva é mais complexa do que com outras indústrias, em parte porque é um setor muito mais amplo e cheio de variáveis. Impor tarifas aos chineses pode ser uma ideia muito boa ou terrivelmente ruim, dependendo de como for feita.
A presidente Claudia Sheinbaum já afirmou que os investimentos chineses no setor automotivo são bem-vindos no México, mas que seria melhor se eles realmente desenvolvessem o fornecimento local e completassem a produção. Ela disse isso em um momento em que a BYD e a MG discutiam a construção de suas fábricas no país, e a primeira já "recuou", ou pelo menos adiou a iniciativa indefinidamente.
Hoje, os veículos chineses representam mais de 20% do total de vendas de carros novos no país, incluindo importações de marcas não chinesas, como General Motors, Ford, Stellantis e Kia, por exemplo. Se adicionarmos marcas chinesas que não se reportam ao INEGI, como BYD, Geely e outras, esses números se aproximam de 30% do total, o que significa que mais de 400.000 veículos chineses são vendidos no México a cada ano.
O impacto dessas potenciais tarifas dependerá da porcentagem de imposto determinada. Atualmente, os carros chineses pagam 20% de imposto para serem vendidos no México. Se o imposto adicional for de 10%, cálculos feitos por sites de inteligência artificial estimam que os preços dos veículos poderiam aumentar em cerca de 8%, o que representaria quase 10.000 carros a menos vendidos por ano. Se o imposto fosse de 30%, o aumento de preço poderia ser de 25,5%, implicando 41.000 vendas a menos e a perda de 1.400 empregos. Se a tarifa fosse de 80%, o custo aumentaria em 72%, 72.000 carros a menos seriam vendidos e 4.800 empregos seriam perdidos. Será que isso vai acontecer?
AmortecedoresPessoalmente, acredito que uma tarifa entre 10% e 20% seria absorvida pelos chineses, que precisam se livrar urgentemente do seu excesso de estoque de carros. Mais do que isso, e veríamos aumentos significativos.
O aumento dos preços das importações chinesas resultaria inicialmente não apenas em preços mais altos, mas também em perdas de empregos e escassez de produtos. Marcas chinesas de baixo volume seriam as mais afetadas e poderiam considerar deixar o país. Marcas mais consolidadas, como BYD, MG, Chirey e Geely, provavelmente não sofreriam tanto. Haveria uma reconfiguração da rede de concessionárias, com o fechamento de concessionárias ou a substituição por outras marcas.
A médio prazo, o México precisaria fortalecer sua competitividade interna, melhorando sua infraestrutura, sua produção de energia e melhor distribuição e uso da água, o que é excelente, mas custoso. Esse aumento de competitividade poderia, em última análise, convencer marcas chinesas como BYD ou GWM, que acabaram de abrir fábricas no Brasil, a investir mais no México. No entanto, isso levanta outro problema, e muito sério: os Estados Unidos não acharam isso nada interessante, pois acreditam que os chineses querem usar o acordo comercial do México com os Estados Unidos e o Canadá para invadir esses países com seus carros, pagando poucas ou nenhuma tarifa por serem produzidos na região.
Tradicionalmente, o México tem sido parceiro de seu vizinho do norte. Sua indústria automotiva foi projetada principalmente para satisfazer o apetite dos EUA, tanto que quase 80% do que fabricamos vai para lá. Se, por um lado, é interessante evitar essa dependência excessiva, por outro, esse seria um processo muito longo e caro, então teremos que pensar cuidadosamente sobre para onde queremos exportar, se não para a América do Norte. É quase impossível exportar para a China, porque eles não precisam, e nós também não podemos competir em preço. É difícil competir com a Europa em qualidade, embora haja exceções. Precisamos de carros que façam sentido para o Japão e a Coreia.
Sim, impor tarifas aos chineses parece bom, parece um desejo de proteger a indústria nacional, mas se não for feito com precisão cirúrgica, o dano ao paciente pode superar o benefício alcançado pela cirurgia.
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