Resumo da enchente confirma que a maioria das mortes ocorreu antes do alerta ser enviado: "Ele escorregou e foi levado pela força da água"
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O resumo da Dana confirma uma realidade que o juiz de Catarroja que investiga os "homicídios e lesões corporais temerários" ocorridos em 29 de outubro vinha apontando. A maioria das mortes ocorreu antes mesmo do alerta das 20h11 chegar aos celulares das pessoas. Segundo o juiz, o aviso foi "tardio e errôneo" porque muitas das vítimas morreram em garagens ou em andares térreos sem que ninguém as avisasse do contrário.
"Ele escorregou e foi levado pela força da água", disse, por exemplo, um homem que perdeu o pai em Catarroja quando tentava resgatar seu veículo de uma garagem às 19h.
"Uma van arrastada pela água quebrou a porta da garagem e a água entrou toda de repente", disse a esposa de um dos mortos. Isso foi por volta das 20h, embora a UME não tenha conseguido acessar a garagem até o dia seguinte.
Outro depoimento conta como ele tentou ajudar sua mãe em Sedaví assim que viu a água subindo. "Eu estava a apenas 30 ou 40 metros de distância, mas era impossível alcançá-lo", de acordo com o resumo.
Outra mulher relatou a morte de seu pai em Benetússer. No entanto, só no dia 31 de outubro eles "puderam entrar na casa porque ela estava cheia de carros empilhados". Segundo outra testemunha, os vizinhos viram uma idosa sair "pela porta da casa, no mesmo sofá onde estava sentada".
Em Torrent, às 15h30 do dia 29 de outubro, um idoso disse ao filho que havia água na casa. "Quando seu irmão chegou, a enchente havia destruído a casa", afirma o relatório.
Em Sedaví, uma mulher de 87 anos foi encontrada "morta sentada em sua cadeira, possivelmente por afogamento, pois a água entrou na casa até 1,60 metro de altura, por várias janelas".
As 935 páginas do processo contêm dezenas de depoimentos desse tipo, sendo a maioria das vítimas idosos que, segundo o juiz, não tiveram oportunidade de se refugiar em segurança. O juiz aponta para a "evitabilidade" das mortes.
elmundo