Jojutla: A busca por justiça que um furacão interrompeu bruscamente

A árdua tarefa de exumar mais de 60 corpos em Jojutla, Morelos, foi abruptamente suspensa devido à chegada do furacão Erika. Este evento quase simbólico ressalta os obstáculos monumentais que as famílias enfrentam em sua busca pela verdade, em um caso marcado por negligência histórica.
Numa ironia cruel que parece saída de um romance, a busca por respostas para uma das piores tragédias humanas do México foi suspensa pela força da natureza. Os trabalhos de exumação nos túmulos do cemitério Pedro Amaro, em Jojutla, onde mais de 60 corpos foram recuperados, foram suspensos devido aos riscos representados pelas chuvas intensas do furacão Erick.
Para as mães e parentes dos desaparecidos que supervisionam os procedimentos, a interrupção é mais do que um revés logístico; é um símbolo poderoso da árdua luta que travaram. Elas enfrentam não apenas a negligência e a suposta cumplicidade das autoridades, mas também dos próprios elementos, em uma busca por justiça que parece desafiar todas as probabilidades.
A indignação em torno do caso Jojutla decorre não apenas do número chocante de vítimas, mas também das evidências que apontam para a responsabilidade direta das autoridades na criação e ocultação dessas sepulturas. Documentos e depoimentos reunidos ao longo dos anos pintam um quadro de negligência criminosa.
* Enterros irregulares: Foi documentado que a então Procuradoria Geral de Morelos realizou enterros ilegais no local em 2014, com a autorização do conselho de Jojutla na época.
* Ocultação deliberada: Em 2015, o mesmo conselho municipal autorizou o enterro de dois corpos em valas comuns diretamente acima da vala comum, no que ativistas denunciaram como uma tentativa deliberada de esconder evidências.
* Falta de protocolos: Desde o início das exumações, os coletivos denunciam a falta de um plano de trabalho claro por parte da Procuradoria-Geral do Estado de Morelos (FGE), bem como a recusa em conceder-lhes acesso a documentos judiciais importantes.
Essa cadeia de ações e omissões criou uma profunda desconfiança nas instituições encarregadas de buscar justiça. As famílias não estão apenas procurando seus entes queridos desaparecidos; elas estão lutando contra um sistema que, no passado, era parte do problema.
A frustração dos familiares é palpável. Durante uma audiência anterior, suspensa por falta de verbas, um parente expressou o sentimento coletivo: "Estamos indo embora sem terminar o túmulo, que, infelizmente, deixamos com um fragmento de osso visível". Essa sensação de trabalho inacabado e falta de recursos é uma constante em sua luta.
Por fim, Amalia criticou a Comissária de Assistência às Vítimas, Penélope Picazo Hernández, por disseminar informações falsas em entrevistas públicas sobre o que acontece nas sepulturas, mesmo sem estar presente no processo. Ela solicitou à comissão que designasse um assessor jurídico para acompanhar e dar apoio às vítimas no local. – Declarações de Amalia, membro de um grupo de busca, reportadas pela revista Proceso.
Esta declaração destaca a solidão e o desamparo que as vítimas sentem. Elas precisam lidar não apenas com o trauma da busca, mas também com a desinformação e a aparente indiferença das próprias instituições criadas para apoiá-las.
À medida que o furacão Erika se dissipa e o trabalho se prepara para ser retomado, permanece a questão de saber se a justiça, assim como os corpos, poderá finalmente ser exumada das profundezas da terra e da burocracia em Morelos. A luta das famílias, momentaneamente suspensa por um desastre natural, está longe de terminar. A verdadeira tempestade, a da verdade e da responsabilização, está apenas começando.
La Verdad Yucatán