Eleições na Coreia do Sul afetadas por desinformação

SEUL: Uma foto do favorito se curvando diante de uma estátua de Mao Zedong? Notícias alegando que o presidente dos EUA, Donald Trump, apoiou um candidato improvável? Não é verdade, apenas exemplos dos problemas de desinformação eleitoral na Coreia do Sul. Com o país prestes a votar na terça-feira para escolher um novo líder para substituir o ex-presidente Yoon Suk Yeol, que sofreu impeachment devido a uma declaração malfeita de lei marcial, houve uma explosão de falsas alegações online. Quais são as alegações? Muitas das alegações se concentram na interferência estrangeira, explorando os medos locais de intromissão da China ou fabricando apoio ao campo conservador dos Estados Unidos. Uma das falsidades mais proeminentes que circulam online sugeria fraquezas no sistema de registro de eleitores no exterior, com cidadãos chineses explorando o sistema para emitir cédulas fraudulentas. "Até estrangeiros podem votar, desde que tenham um endereço de e-mail!", dizia uma publicação amplamente compartilhada, que a AFP Fact Check desmascarou. Quem é o alvo? O líder da oposição e favorito nas eleições, Lee Jae-myung, é um alvo popular de desinformação. Muitas alegações se concentram em sua suposta lealdade a Pequim — alimentando uma narrativa de longa data entre conservadores que retrata candidatos progressistas como simpáticos à China, ou até mesmo controlados por ela. Por exemplo, fotos desmascaradas por jornalistas da AFP mostraram Lee se curvando diante de uma estátua de Mao e usando uma máscara facial com a bandeira chinesa. Essa tendência reflete o fato de que muitos eleitores são menos influenciados por alegações de que os políticos são pró-Coreia do Norte, disse Choi Jin-bong, professor de comunicação de mídia na Universidade Sungkonghoe, em Seul. "Agora é a alegação de que os progressistas são subservientes à China que repercute — especialmente em meio ao agravamento das tensões entre EUA e China", disse ele à AFP. "Mesmo quando falsas, essas narrativas continuam sendo politicamente úteis para os conservadores como uma última tentativa de frustrar o que parece ser uma vitória inevitável de Lee." E o candidato conservador? A desinformação envolvendo conservadores sul-coreanos tende a se concentrar em seus laços com os Estados Unidos. Imagens adulteradas mostraram Trump apoiando o anúncio da campanha presidencial do ex-primeiro-ministro Han Duck-soo. Han desistiu da disputa após uma tentativa frustrada de se tornar o candidato conservador do Partido do Poder Popular (PPP). Outra alegação envolveu um popular YouTuber de direita que disse falsamente aos seus 1,5 milhão de inscritos que o Pentágono havia apoiado o candidato do PPP, Kim Moon-soo. As Forças Armadas dos EUA na Coreia disseram à AFP que isso era "completamente falso". Mas mesmo que sejam patentemente falsas, as alegações "continuam persuasivas porque beneficiam atores políticos", disse Lee Jun-han, professor de política na Universidade Nacional de Incheon, à AFP. "Eles exploram o cenário polarizado da Coreia e suas ansiedades geopolíticas, unindo cada lado com narrativas que exploram o medo, a identidade e a influência externa." E a IA? Em abril, um vídeo deepfake surgiu mostrando Lee supostamente encerrando uma greve de fome — que ele fez em 2023 para protestar contra as políticas do então presidente Yoon — e brincando sobre comer frango frito. O vídeo, que foi amplamente compartilhado no ecossistema online de direita da Coreia do Sul, foi gerado usando uma foto real de Lee em uma cama de hospital. Uma análise da AFP identificou vários sinais de manipulação de IA: elementos de fundo que desaparecem, partes do corpo distorcidas e ambientes inconsistentes. O vídeo era falso, mas alimentou uma narrativa preexistente de que o protesto de Lee era performático. "A desinformação impulsionada pela IA representa uma séria ameaça à democracia ao obstruir o acesso dos eleitores a informações confiáveis", disse Song Kyeong-jae, especialista em democracia e tecnologia da Universidade Sangji. "Quando as decisões são tomadas com base em conteúdo manipulado, elas são irreversíveis — e as consequências sociais e políticas resultantes podem ser profundas." Números falsificados Outras alegações também tentaram deturpar pesquisas pré-eleitorais, que consistentemente mostraram Lee com uma grande vantagem sobre seus rivais conservadores. Um gráfico viral, compartilhado dias antes do início da votação antecipada, alegava falsamente que o candidato do PPP, Kim, estava à frente de Lee nas pesquisas recentes. Na realidade, os números eram de janeiro e fevereiro, e a fonte original listou claramente as datas da pesquisa. Elas foram deliberadamente cortadas para enganar os espectadores e fazê-los pensar que os resultados eram atuais. Pesquisas oficiais de maio mostraram Lee com uma liderança de cinco pontos ou mais.