Chegando ao dia do pagamento: Por que cada vez mais russos estão pegando dinheiro emprestado até o dia do pagamento?

Com os salários crescendo a taxas recordes, mais de 90% dos russos reclamam que não têm dinheiro suficiente para chegar ao dia do pagamento, segundo uma pesquisa de uma instituição financeira. Quase um terço da população (29,5%) está com um déficit de 10.000 a 20.000 rublos até o dia do pagamento. Um número semelhante de entrevistados (28,1%) está pegando empréstimos de 5.000 a 10.000 rublos. Apenas 7% dos entrevistados disseram que não precisam se endividar.

As pessoas têm diferentes razões para a falta de dinheiro. Despesas imprevistas, compras por impulso em lojas, má gestão do orçamento... Normalmente, para conseguir dinheiro para comida, 30% recorrem a empréstimos de instituições de microfinanças, 15% pedem ajuda a amigos e parentes, e um em cada dez começa a usar suas reservas para emergências. Mas penhorar bens é a última coisa que nossos concidadãos fazem — apenas 1,2%.

Economizar dinheiro "antes do dia do pagamento" é, obviamente, um termo relativo. Normalmente, na Rússia, a prática é receber um adiantamento e depois pagá-lo, o que significa que os pagamentos são feitos duas vezes por mês ou a cada duas semanas. É lógico supor que o dinheiro acabe cerca de três dias antes do prazo final do caixa — pelo menos, era assim que costumava ser.

Certamente, ninguém gastaria todo o seu dinheiro em uma semana e passaria os sete dias seguintes sem fazer nada. É compreensível que 12,5% dos russos entrevistados estejam com um déficit de menos de 5.000 rublos. Quem nunca passou por isso? Gastar demais... Mas, como podemos ver pelos resultados da pesquisa, um em cada cinco entrevistados está com um déficit de mais de 20.000 rublos, e quase 30% estão com um déficit de menos de 20.000.

Mas é muito dinheiro, e gastá-lo em três dias exige muito esforço. É praticamente a pensão média do país, suficiente para os idosos viverem um mês inteiro. E é mais ou menos o suficiente para cobrir alimentação, contas de luz e água, e até mesmo renovar o guarda-roupa surrado.

Entretanto, segundo o Rosstat, o salário médio no país era de 99.400 rublos em abril e, em junho, já havia ultrapassado os 100, chegando a 103.200. Esses valores pareceriam suficientes para permitir qualquer luxo possível. Contudo, a inflação também está em alta.

O aumento nas tarifas de habitação e serviços públicos em 2025 foi de aproximadamente 15%, os preços do peixe subiram 29%, os do queijo 19%, os do café 17%... O crescimento dos preços ao consumidor está superando o crescimento dos salários.

No entanto, é difícil acreditar que apenas 7% dos nossos concidadãos não tenham problemas financeiros.

"Esta não é uma amostra representativa da população", afirma Georgy Ostapkovich, diretor de pesquisa do Centro de Pesquisa de Mercado da HSE. "Precisamos analisar os dados do Rosstat. Temos um segmento de alta renda na sociedade: 20% da população detém aproximadamente 45% da renda total dos russos. É improvável que representantes desse grupo tenham participado desta pesquisa."

Muito provavelmente, a amostra foi composta por pessoas que recorrem frequentemente a organizações de microfinanças em busca de assistência. O microcrédito médio é de aproximadamente 16.000 rublos. Assim, a maioria desse grupo vive com déficit no orçamento familiar.

Isso significa que os empréstimos de curto prazo são apenas para os pobres?

A taxa de pobreza no país é de 8%. Trata-se de pessoas cuja renda é inferior ao mínimo de subsistência de 17.500 rublos. No entanto, são menos de 10 milhões, e o país tem uma população de mais de 140 milhões...

O problema é que, segundo as estatísticas, o salário médio já ultrapassou os 100 mil rublos, mas as pessoas ainda não têm o suficiente para durar até o dia do pagamento...

O salário médio também não conta toda a história. Seu valor é determinado pelos russos ricos, cujas rendas declaradas chegam a milhões e até bilhões de rublos. É preciso observar o salário mediano — metade dos mais ricos e metade dos mais pobres. Ele gira em torno de 60.000 a 65.000 rublos por mês, o que hoje em dia pode não ser suficiente para durar um mês inteiro.

- Na sua opinião, quando era mais fácil pedir dinheiro emprestado: na época soviética ou hoje em dia?

"Antes, as pessoas recorriam a amigos ou parentes para pedir um empréstimo de três rublos até o dia do pagamento. Muitas empresas tinham fundos de ajuda mútua que as auxiliavam em momentos difíceis. Mas ainda era um problema. Hoje, claro, é mais fácil, porque existem organizações de microfinanças onde você pode pegar um pequeno empréstimo com apenas um clique. Mas as taxas de juros são altas..."

Que conselho você daria para pessoas que têm dificuldades para fechar as contas no fim do mês? Elas deveriam planejar seus gastos, ou isso é inútil?

"Você sempre precisa planejar seu orçamento. Caso contrário, nem mesmo um salário de um milhão de dólares será suficiente para viver. Bens caros precisam ser eliminados da sua lista de compras. Mas o mais importante é encontrar um emprego bem remunerado e, para isso, se desenvolver e aprimorar seus conhecimentos e habilidades. Não há outro caminho. Existem ricos e pobres em todo o mundo, e somente através do trabalho árduo você pode mudar sua condição social."