Pandemia acelerou envelhecimento cerebral, diz estudo

Um novo estudo revelou que viver durante a pandemia de Covid-19 envelheceu o cérebro das pessoas, independentemente de elas terem sido infectadas ou não pela doença.
A pesquisa se soma aos dados crescentes sobre o impacto de longo prazo da pandemia na saúde global e no desenvolvimento cerebral.
O estudo mostrou que a pandemia acelerou o envelhecimento cerebral em 5,5 meses, em média. As mudanças foram mais perceptíveis em pessoas mais velhas, homens e pessoas de origens socioeconômicas mais desfavorecidas.
A idade cerebral está relacionada à função cognitiva e pode ser distinta da idade real de uma pessoa.
A idade cerebral de uma pessoa pode ser atrasada ou antecipada por doenças como diabetes, HIV e doença de Alzheimer. O envelhecimento cerebral prematuro pode afetar a memória, a função sensorial e a função emocional. Os autores afirmam que o envelhecimento cerebral observado pode ser reversível.
“A pandemia colocou pressão sobre a vida das pessoas, especialmente daquelas que já enfrentavam desvantagens. Ainda não podemos testar se as mudanças que observamos serão revertidas, mas certamente é possível, e isso é um pensamento encorajador”, disse a coautora do estudo Dorothee Auer, neurocientista da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.
Frank Slack, diretor do Instituto de Pesquisa do Câncer de Harvard, nos EUA, disse que o “trabalho é um tour de force que demonstra, em uma grande população, que a Covid-19 teve efeitos graves na saúde do cérebro, especialmente em homens e idosos”. Slack não participou do estudo.
O estudo foi publicado na revista Nature Communications.
Pandemia afetou função cerebral das pessoas?O estudo teve como objetivo investigar os efeitos adversos da Covid-19 no envelhecimento cerebral físico e cognitivo, utilizando imagens cerebrais e testes cognitivos.
Os pesquisadores analisaram tomografias cerebrais de adultos saudáveis, realizadas antes e depois da pandemia.
“Isso nos deu uma rara oportunidade de observar como os principais eventos da vida podem afetar o cérebro”, disse Stamatios Sotiropoulos, neurocientista da Universidade de Nottingham e coautor do estudo.
Primeiramente, os pesquisadores utilizaram dados de tomografias cerebrais de 15.334 pessoas saudáveis para treinar um algoritmo de aprendizado de máquina que pudesse estimar com precisão a idade cerebral delas.
Em seguida, eles usaram o modelo para prever a idade cerebral de 996 adultos saudáveis antes e depois da pandemia de Covid-19.
Um grupo de participantes passou por exames de tomografia antes e depois do início da pandemia, enquanto um outro grupo só foi examinado por tomografia antes do surto.
Mesmo cérebro de quem não teve Covid foi afetadoO estudo revelou que os cérebros dos participantes do grupo da pandemia envelheceram em média 5,5 meses mais rápido do que o grupo de controle, mesmo quando pareados para uma série de marcadores de saúde.
Jacobus Jansen, neurocientista da UMC de Maastricht, Holanda, afirmou que o resultado surpreendente foi que “o envelhecimento é independente da infecção real por Covid-19”.
No entanto, apenas os participantes infectados pela Covid-19 apresentaram queda em habilidades cognitivas como flexibilidade mental e velocidade de processamento. Isso pode sugerir que o efeito do envelhecimento cerebral durante a pandemia nos casos sem infecção pode não causar sintomas cognitivos perceptíveis.
A próxima pergunta que os pesquisadores buscam responder é como a pandemia teve efeitos a longo prazo na saúde cognitiva das pessoas. Outros estudos sugeriram que certos fatores genéticos podem tornar algumas pessoas mais predispostas ao envelhecimento cerebral relacionado à Covid-19.
“Em 2022, descrevemos o envelhecimento prematuro nos cérebros de pacientes com Covid grave. Infelizmente, todos os pacientes que examinamos faleceram de Covid, o que impossibilitou o acompanhamento detalhado e a análise da arquitetura cerebral ao longo do tempo”, disse Slack.
“Será interessante começar a questionar se os efeitos do envelhecimento observados neste estudo estão relacionados às alterações na expressão gênica que observamos em nosso estudo”, disse Slack.
É possível reverter o envelhecimento cerebral?Estudos em neurociência sugerem que existem maneiras de retardar o envelhecimento cerebral e reduzir os riscos de declínio cognitivo.
O exercício físico, por exemplo, é um conhecido fator de proteção no envelhecimento cerebral, e é por isso que “seria valioso avaliar a contribuição das mudanças nos padrões de exercício durante a pandemia, juntamente com o estresse psicológico, dentro do modelo”, disse Maria Mavrikaki, neurocientista da Harvard Medical School, EUA, que não participou do estudo.
Outros estudos sugerem que o envelhecimento cerebral pode ser retardado por mudanças no estilo de vida, como manter uma dieta saudável, manter-se física e mentalmente ativo, controlar o estresse e dormir o suficiente, o que promove um envelhecimento cerebral saudável.
Essas pequenas mudanças podem se acumular, então incluí-las na sua rotina pode ajudar na função cerebral no futuro.
CartaCapital