Só três? Eu quero 60 Salazares!

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Só três? Eu quero 60 Salazares!

Só três? Eu quero 60 Salazares!

Para mim, não são necessários três Salazares. São precisos 60. Um por cada Deputado do Chega.

Provavelmente muitos dos leitores já se terão deparado com uma figura patética do tik tok, que dá pelo nome de Tiago Grila. A táctica dessa personagem, para ganhar seguidores e views – ou lá o que é –, passa por dizer parvoíces, sempre em crescendo, pois, caso contrário, deixa de ter graça e, consequentemente, seguidores e views – ou lá o que é. Só para enquadrar: este palerma confessou publicamente ter atropelado uma pessoa na Amadora (é incrível como nestas coisas dos palermas acabamos sempre nos subúrbios…) e, depois, fugido. Claro está que, quando apertado, meteu a viola no saco e desmentiu-se. Lembra alguém?

Neste momento, em Portugal, temos 60 Grilas no Parlamento. São os deputados do Chega. Um conjunto de apatetados que medram na brejeirice, na parvoíce, na ofensa gratuita, na peixeirada.

Voltemos a Salazar.

O Grila André diz que não tem memória do homem de Santa Comba. Não me parece que seja desculpa. Não sou contemporâneo de D. Afonso Henriques, mas leio e estudo sobre o nosso primeiro Rei. André Grila devia fazer o mesmo no que respeita a António de Oliveira Salazar.

Ficamos assim com a ideia de que André Grila resume o seu conhecimento sobre o antigo Presidente do Conselho à RTP Memória e à Wikipédia.

Aqui tenho de trazer à colação o Prof. Nogueira Pinto. Esse mentor de Grila, André, que o considera como um grande tribuno, não lhe ensinou nada? Não lhe recomendou, no mínimo, a biografia escrita por Ribeiro de Menezes? Faço esta referência porque Nogueira Pinto foi o defensor de Salazar num concurso televisivo (e ganhou). A talho de foice: participar num concurso de televisão sobre o maior português de sempre é um acto de infâmia pois, como é óbvio, o maior português de sempre e para todo o sempre, só pode ser aquele que foi o primeiro desse nome. Mas adiante…

Nogueira Pinto podia ter instruído Grila André que Salazar não gritava, não vociferava. Não era malcriado. Fosse na Assembleia Nacional ou em outro local. Para cativar os portugueses não dizia que vivia numa favela, nem atirava papéis para o ar.

Salazar – carregado de defeitos – era educado, sóbrio. E era, igualmente, um intelectual. Lia e estudava. Pensava antes de falar.

Salazar, porque não tinha receio de comparação, convidava para o seu governo o melhor do escol do Estado Novo. Basta olhar para o governo sombra de André Grila para se ver que é uma sombra disso. É algo mesmo a roçar o ridículo: um conjunto de pessoas que quer ser conhecida, às quais se adicionam um outro conjunto de pessoas ingénuas (mal industriadas por quem tinha a obrigação de os informar melhor). Não vou, por puro decoro, efectuar comparações entre este governo de Grilas e um governo, qualquer que fosse, do Estado Novo.

Custa-me acreditar que Salazar se sentasse ao lado de um Grila Pinto, cujo jeito taberneiro não seria o mais apreciado. Da mesma forma, não me parece possível que Salazar validasse o estilo de uma Grila Matias que é uma mescla entre uma peixeira do Bolhão e uma aluna do 10º da escola c+s da Amadora.

Tal como o Grila, Tiago do tik tok, o Grila André está cheio de si mesmo. Por exemplo, passa a vida a firmar a sua catolicidade (deve-lhe ter passado aquela parte do Evangelho em que Jesus chama de hipócritas aos que rasgam as vestes…). Salazar era católico. Mas, garantem-me, Salazar não comungava. Porquê? Porque não era hipócrita e tinha a consciência que não se governa sem pecado. Ou seja, Salazar, apesar de beato, nunca teve a desfaçatez de afirmar que tinha uma linha aberta com Deus Nosso Senhor (aí, dou de barato que a tecnologia tem evoluído e que, na altura, não existia uma Alexandra Solnado para mediar a comunicação).

Por tudo isto, Ventura está mais perto do Grila, Tiago, do que de Salazar, António.

Grila, Tiago repete: “Por cima dos que andam, há os que voam”. É o caso de Grila, André. Voou da porcalhota onde nasceu e de um previsível futuro a remendar pneus de bicicleta, para o Parlamento – com um canudo na mão – à conta de um regime que agora vilipendia. Salazar dava tudo – mesmo que, muitas vezes, de forma errada – a Portugal, pois sabia que tudo lhe devia. Não escondia as suas origens.

Esta minha forma de expressar o meu desdém aos Grilas desta vida é, muitas vezes, confundida com snobismo. É errado. Todos nós – por fim falo, é claro – tivemos em algum momento da nossa história familiar, aquele que deu o salto “para cima” na escala social. Aquele que saiu da “Amadora”. O problema dos Grilas do Chega não é terem saído da “Amadora”. É a “Amadora” não ter saído deles.

O Portugal de Salazar, mesmo que por razões erradas, não ofendia os portugueses do império. Ou seja, aqueles que de cor diferente e de naturalidade diferente, comungavam a língua e a história comum. Um jagunço como Grila Melo tinha perdido, na hora, o lugar na AN. Outros tempos.

E atenção: Não se depreenda das minhas palavras que sou salazarista. Não sou. Mas entendo, uma vez que o defensor oficioso do mesmo parece estar a dormir na formatura (Prof. Nogueira Pinto), que o antigo Presidente do Conselho, mesmo com todos os seus defeitos (e eram tantos e tão graves que não cabem neste texto), não merece a ignomínia de ser convocado por um grupo de arruaceiros malcriados. A alguém mais parecido – ainda assim a léguas (Rolão Preto) – Salazar calçou-lhe uns patins e deixou-o na fronteira com bilhete de ida. Outros tempos.

Salazar, sem nunca ter posto pé no estrangeiro (se não se contar uma estação de comboio espanhola) deixou a aldeia para trás e tornou-se num estadista de nível internacional. Se algum leitor deste texto achar que existe a hipótese de algum dos Grilas do Parlamento se tornar num Salazar, só posso dizer que tem de mudar a dieta.

O Prof. Nogueira Pinto imagina o Prof. Salazar a andar de cu para o ar, no meio da Assembleia Nacional a apanhar folhas de papel – por ele próprio atiradas – porque o Dr. Aguiar Branco o mandou apanhar? Foi um momento freudiano de Grila André. Olhou para cima e viu alguém igual a quem viu o seu pai se curvar, e fez o mesmo. Se atirar as folhas para o chão foi um momento de falta de nível, o ir apanhá-las foi das coisas mais tristes que já vi.

Concluindo: ao longo destes últimos anos alguns intelectuais de renome (poucos é certo) entenderam que o nosso regime precisava de um abanão, dado por um Grila desta vida.

Referiram, aliás, o abanão dado pela Ala Liberal durante o consulado marcelista. Só que não fizeram o básico num estudo: a comparação. Eu relembro: Pinto Leite, Pinto Balsemão, Miller Guerra, Sá Carneiro. Não teria sido avisado comparar estas pessoas com Grila André, Grila Pinto, Grila Matias e Grila Melo? A simples acção comparativa pode até ser ofensiva para as famílias dos falecidos deputados da Ala liberal. A ideia que era desta feita, que, seria em Portugal, que um filho da classe operária, usando o populismo, iria cumprir sonhos passados de revoluções higienistas, é pueril, para ser simpático.

Quem é que falava de Portugal no Estado Novo como sendo uma favela? Eu sei: os comunistas. Aqueles que diziam, nesses tempos, ser preciso uma limpeza geral…

Os Grilas do Chega estão para o nosso actual regime, como os comunistas para o Estado Novo. Esses “heróis” que queriam limpar o Portugal da altura ter-nos-iam levado a viver num regime comunista, ou seja, num Estado totalitário com menos liberdades do que as existentes em Portugal pré 74, sanguinário, com requintes de crueldade, além de um desastre económico. Conhecemos agora o que foram esses regimes. Na altura, muitos foram atrás daqueles que preconizavam a limpeza de que precisava o país.

Porque não gosto de revoluções mas sim de evoluções, e porque desconfio de quem usa a mesma retórica do PCP pré 74, não troco, aos dias de hoje, o nosso regime, por aquilo que o Chega quer (que ninguém sabe bem o que é, mas que é – de certeza – um espaço mal frequentado).

Se Salazar voltasse à terra – tipo Cristo nos Irmãos Karamanzov – seria mandado prender pelo partido dos Grilas. Porquê? Porque Salazar, que não era democrata, teria ilegalizado um partido cujo líder, em pleno parlamento, ofende a Nação.

É por isso que, para mim, pode vir o Salazar. Não 1, nem 2, nem 3. 60. Um por cada Grila deputado do Chega. Ao menos sabemos ao que vinham (e subia o nível da discussão).

observador

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