Carneiro não quer ajustes de contas e desvaloriza a saída de pesos pesados

José Luís Carneiro apresentou esta quinta-feira no Largo do Rato a moção com que vai a votos nos dias 27 e 28 de junho. O candidato à sucessão de Pedro Nuno Santos deverá ir a votos sozinho, numa altura em que o partido está mais preocupado com o desfecho das próximas eleições autárquicas, depois de ter tido uma pesada derrota nas eleições de maio.
A expressão «reflexão profunda» é uma das mais referidas na moção com que Carneiro se apresenta aos socialistas. Mas esse é um processo que fica adiado para o pós eleições autárquicas. Para já a prioridade do candidato é estar ao lado dos candidatos autárquicos que não foram escolhidos por si, mas que optou por manter. A aposta na vitória nas eleições de setembro/outubro é um objetivo assumido na moção de José Luís Carneiro que tem baseado a sua campanha interna no acompanhamento de candidatos e no lançamento de candidaturas socialistas de norte a sul do país.
Uma das principais apostas herdada da liderança de Pedro Nuno Santos, é a candidatura de Alexandra Leitão à Câmara Municipal de Lisboa. Até ao momento a antiga líder parlamentar ainda não se apresentou lado a lado com José Luís Carneiro e nos últimos dias fez questão de dizer que, após a eleição do novo líder, sairá da direção do partido. No mesmo sentido pronunciou-se um outro nome forte do Pedronunismo, Duarte Cordeiro. Perante as indisponibilidades para colaborarem na futura direção, Carneiro prefere continuar a afirmar que conta com todos e que há espaço para todos. Fonte próxima da candidatura garante ao Nascer do SOL que a nova liderança «não vai perder tempo com ajustes de contas» porque «a situação do partido é demasiado grave para se perder tempo com isso». A mesma fonte aposta numa liderança em que o líder não quererá ficar a olhar para dentro, «ele vai lutar para ser primeiro-ministro».
Pacto Portugal Futuro
Na moção que apresentou esta quinta-feira aos socialistas, José Luís Carneiro propõe para depois da realização do congresso, após as eleições autárquicas, «uma profunda reflexão estratégica sobre os desafios do presente e do futuro, com vista a aprovar um Pacto Portugal Futuro». O pacto pretende restabelecer o diálogo do partido com a sociedade civil a fim de encontrar respostas nas políticas setoriais. No essencial, o candidato defende a definição de políticas que deem resposta ao crescimento da economia e à resolução dos problemas nos serviços públicos e na habitação.
Prescindindo de usar o nome Estados Gerais (a plataforma de encontro com a sociedade civil encontrada por António Guterres para chegar ao poder em 1995 e depois recuperada por Pedro Nuno Santos), José Luís Carneiro quer criar um conselho estratégico junto do Secretário Geral. Do grupo de aconselhamento do líder deverão constar militantes, simpatizantes e independentes.
O antigo ministro da Administração Interna quer também iniciar um processo de revisão estatutária, «para adaptar o partido aos novos desafios a ao novo pacto».
Reafirmando o compromisso de abertura para consensos com a AD em áreas de soberania, Carneiro dedica vários parágrafos da moção à questão da revisão constitucional. Para o candidato à liderança do PS_«a revisão da Constituição não é uma prioridade do Partido Socialista. Muito em particular num contexto de fragmentação de representatividade parlamentar e de crescimento do número de deputados que não a querem verdadeiramente rever, mas sim destruir o regime democrático da República, desestruturando os princípios constitucionais da nossa democracia».
Considerando a tentativa de um processo de revisão constitucional como «uma iniciativa oportunista do radicalismo de direita», José Luís Carneiro responsabiliza o PSD de «dar garantias de sustentação do quadro democrático».
José Luís Carneiro vai chegar à liderança dos socialistas sem concorrência e com o partido reduzido a terceira força política. O desafio para recuperar o peso dos socialistas no panorama político nacional é grande e a aparente unanimidade em torno do líder cheira a falso. Nada que preocupe o candidato, garantem os seus mais próximos que sublinham o percurso do socialista que começou por ser autarca em Baião.
Jornal Sol