André Ventura: ‘Lídia Jorge e o Presidente traíram o nome de Portugal’

Disse em 2019, quando foi eleito, que a AR nunca mais iria ser a mesma. Acha que nunca mais foi a mesma? Nunca mais foi a mesma, e mesmo a forma de fazer política mudou para sempre. E isso não se deve tudo apenas ao Chega, para ser honesto. O mundo mudou muito no entretanto, mudou a forma de comunicar, mudou a forma de fazer política, de fazer jornalismo, de comunicar com as pessoas. E isso não é mérito único do Chega, mas que o Chega é talvez o grande responsável pela mudança cultural que houve em Portugal nos últimos anos, do ponto de vista, digamos, político, acho que se pode dizer com justiça. Há uma série de assuntos que eram tabu e que hoje são temas de discussão cultural e política, desde a ideologia de género, à questão racial e étnica. Olhe, era impensável há uns anos ter um Presidente da República, no dia 10 de Junho, falar em portugueses puros e na responsabilidade de Portugal pelo tráfico de escravos, isso só aconteceu porque o Chega veio mudar o panorama político e pô-lo em causa. Portanto, diria que nunca mais foi o mesmo. Nem a Assembleia da República, nem o país. Se isso vai continuar ou não, isso ninguém sabe. A política depende muito das pessoas e ninguém sabe o futuro. O país está à beira de uma mudança muito grande. Estamos naquelas curvas da história em que agora ou há uma mudança grande ou voltamos ao mesmo. Acho que o país está a enfrentar uma dessas curvas da história, uma daquelas que não tivemos muitas vezes , mas acho que estamos a passar por ela.
Acha que é uma espécie de D. Sebastião? [Risos]Não, não. Hoje é legítimo dizer que o sistema político português mudou. Era impensável que PS e PSD perdessem a liderança das oposições e do sistema político. Isto era impensável, e não digo há dez anos, mesmo há dois anos era impensável. Ninguém diria que isto podia acontecer e está a acontecer. Estamos a ter uma mudança que é mais profunda na sociedade, que é uma mudança cultural que chegou tarde a Portugal, mas chegou com muita força. Ainda agora dizia isso ao jornal italiano que me estava a entrevistar [La Repubblica]. Ele perguntava como aconteceu em Portugal o que ainda não aconteceu nalguns países da Europa, com problemas muito mais severos? Há um ano, quando o Vítor me entrevistou, eu disse que íamos ter mais de 20%, e perguntou-me se estava bem ou se já tinha bebido demais ou se estava a tomar alguma coisa. Tivemos 23%. É legítimo dizer que seria impensável há um ou dois anos.
Quando disse há seis anos que seria o maior partido em oito anos obviamente que estava a brincar.Só passaram seis e já somos o segundo maior. Mas isso acho que é uma questão de fé, tenho fé que isso vai acontecer, obviamente que o jornalista tem que ver a parte objetiva da coisa. Estamos a atravessar um momento de mudança cultural no país e os momentos de mudança cultural antecedem sempre os momentos de mudança política, quase sempre na nossa história. O país vai mudar muito nos próximos anos e acho que é um movimento imparável, honestamente. Não, não é o André Ventura, nem o Chega. Depois vai depender de quem o consegue representar, quem consegue ser a sua voz. Isso já vai acontecer de certeza.
Leia a entrevista na íntegra na edição impressa do Nascer do SOL, esta sexta-feira nas bancas
Jornal Sol