Mais do que a hora da vingança, estes são os dias de Tadej

Aí vão 20. A cumprir apenas a sexta presença na Volta a França, Tadej Pogacar está cada vez mais perto de fazer história… ou de continuar a fazê-la. Na primeira de três decisivas etapas nos Pirenéus, o esloveno da UAE Team Emirates-XRG mostrou-se a um nível estratosférico que nem a queda da véspera o conseguiu demover. Num Hautacam que se tinha revelado decisivo para perder o Tour de 2022, o campeão do mundo atacou no início da subida e descarregou Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) uns metros mais à frente, partindo em direção à sua 20.ª vitória na história Grande Boucle. É cada vez mais certo que Pogacar vai quebrar o recorde de Mark Cavendish, de 35 vitórias, nos próximos anos, faltando saber quando o fará. Para já, o melhor ciclista do mundo é o principal candidato a revalidar o título em Paris e parece ter resolvido as contas a… dez dias do fim da prova.
“Sabia desde a primeira vez que fiz o Hautacam, no reconhecimento, que é uma subida muito porreira. Estava ansioso para fazer essa subida. Estava ansioso por hoje [quinta-feira] e todos me disseram: ‘Esta é a hora da vingança’. Quando nos aproximámos do início da subida, a história de 2022 inverteu-se. Estava um belga na frente [Tim Wellens, em alusão ao trabalho de Wout van Aert] e a nossa equipa também. Estou super feliz por vencido nesta subida. Fizemos um trabalho excelente. A equipa correu muito bem. Foi um dia difícil para todos, mas no final estivemos muito fortes. Tínhamos esta etapa em mente há muito tempo e conseguimos. Etapa é para o Samuele [Privitera] e para toda a sua família, porque foi muito triste. Foi a primeira coisa que li de manhã e fiquei a pensar nele no último quilómetro, em como este desporto pode ser difícil e quanta dor pode causar”, partilhou Pogacar depois do triunfo, lembrando o italiano de 19 anos que morreu na véspera, durante uma corrida em Itália.
Já Matxin, diretor desportiva da Emirates, assumiu que a vitória foi “mais” do que a equipa sonhou. “O Jonas terminou sempre em primeiro ou segundo os últimos quatro Tours. É o nosso principal rival. Ganhar-lhe mais de dois minutos não fazia parte dos nossos melhores cenários. Os nossos companheiros de equipa trabalharam perfeitamente e tínhamos o plano perfeito. Quando ouvimos o [Matteo] Jorgenson no rádio a dizer que era preciso diminuir o ritmo, já sabíamos que ele ou o Jonas não estavam bem, mas seguimos o plano. Não mudámos nada. Sabíamos que tudo seria decidido no Hautacam. É uma subida difícil e ia acontecer uma seleção natural. A Visma tomar a iniciativa foi perfeito para nós. Quando eles pararam, assumimos a responsabilidade na descida técnica em direção ao Hautacam. Contrarrelógio? Será uma seleção natural. É puramente uma questão de potência”, acrescentou.
Para Robbie McEwen, antigo ciclista e comentador do Eurosport, o Tour está praticamente resolvido e ninguém vai conseguir frente ao domínio de Pogacar. “Pogacar tem uma liderança muito forte e, se tudo correr bem, não vai desistir. Penso que ele vai ganhar mais duas ou três etapas, incluindo a de hoje [sexta-feira], e vai ganhar o Tour de forma dominadora. Penso sinceramente que não haverá uma reviravolta. Infelizmente, as quedas fazem parte do desporto, não desejamos isso a ninguém, mas nunca se está completamente seguro na Volta a França, por muita vantagem que se tenha. Parece estar a chegar ao maior de todos os tempos. Se tirarmos o Tadej e o Jonas, temos uma batalha incrível para ganhar o Tour. Se olharmos para o que os rapazes têm feito, há uma competição muito boa, são grandes campeões. Ele é muito bom. Por isso, sim, estamos a falar de um dos melhores de todos os tempos e não está longe de o ser. Há definitivamente argumentos para dizer que ele é o melhor”, revelou o australiano ao Observador.
⏱️ 2nd episode of the Pyrenean triptic with a short, intense TT and the terrible climb to the Peyragudes altiport to finish it off.
⏱️ 2ème épisode du triptique pyrénéen avec un chrono court, intense et la terrible montée de l'altiport de Peyragudes pour en terminer.#TDF2025 pic.twitter.com/7dVBRq78XZ
— Tour de France™ (@LeTour) July 18, 2025
Depois da primeira etapa de alta montanha, os homens da geral voltaram a ter um dia decisivo esta sexta-feira, com uma cronoescalada curta, mas intensa, no Pirenéus. Com apenas 10,9 quilómetros de extensão, o esforço individual começou em Loudenvielle, junto à fronteira com Espanha. Com os três primeiros quilómetros a revelarem-se calmos, a subida para Peyragudes contava com oito quilómetros a 7,9% de inclinação média. Numa montanha com inclinações raramente abaixo dos 8%, o último quilómetro era o mais duro e foi onde os ciclistas encontraram uma rampa de 16%. Foi aí que, em 2022, Pogacar e Vingegaard tiveram uma batalha memorável pela 17.ª etapa, com o esloveno a levar a melhor ao sprint.
1⃣6⃣ % ????????????#TDF2025 | @TISSOT pic.twitter.com/hCrPu3yHjC
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Como habitual, a primeira fase do contrarrelógio teve pouca história, com Bryan Coquard (Cofidis) a despedir-se desta Volta a França com uma fratura num dedo e Luke Plapp (Jayco AlUla) a perfilar-se como o primeiro candidato na liderança. O australiano foi o primeiro a baixar dos 25 minutos, retirando quase três minutos ao anterior tempo (24.58). Antes dos favoritos, até houve tempo para Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) passar o segundo ponto intermédio ao som de… Quim Barreiros, num momento que promete viralizar. Jorgenson e Primoz Roglic (Red Bull-Bora-hansgrohe) foram os primeiros a intrometer-se na luta pela etapa, igualando-se no primeiro lugar no ponto intermédio um. Ainda assim, Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) entrou com tudo e tirou quase dez segundos ao tempo do duo.
Quim Barreiros no Tour.Já posso morrer em paz. pic.twitter.com/4SWkKSRH2r
— José Carlos Mota (@jcmota00) July 18, 2025
Atrás vinha um Vingegaard ao nível do seu melhor na fase de plano, perdendo apenas 3.50 segundos para Evenepoel. Curiosamente, os dois fizeram o contrarrelógio com a sua bicicleta da especialidade, sendo que o Visma também optou pelo capacete. Ainda assim, Pogacar vinha bem mais forte e, no primeiro ponto, ganhou desde logo 4,66 ao belga e 8,16 ao dinamarquês. Ao quilómetro 7,6, Roglic começou por tirar 30 segundos ao tempo de Jorgenson e o campeão do mundo da especialidade não fez melhor, perdendo inclusivamente 26 segundos. Em sentido inverso, Vingegaard melhorou e, dois minutos depois, estabeleceu o melhor tempo. Faltava ainda o camisola amarela, que voltou a pulverizar toda a concorrência, ganhando quase 24 segundos a Jonas.
Na meta, Primoz Roglic começou por retirar Luke Plapp da liderança, com um tempo que foi 37 segundos melhor. Jonas Vingegaard entrou no último quilómetro bastante perto de Remco Evenepoel, ultrapassou-o nos últimos 100 metros e superou o tempo do esloveno em 44 segundos, dando uma boa amostra depois da etapa de quinta-feira. Atrás vinha o foguete Tadej Pogacar, que somou a quarta vitória nesta edição do Tour com o tempo de 23.00,19. Com este triunfo, o esloveno chegou às 21 vitórias na história da Volta a França e isolou-se no sexto lugar do palmarés de ouro, deixando para trás o luxemburguês Nicolas Frantz.
observador