Portugal. Seleção tem memória

A qualificação da zona europeia vai apurar as 16 seleções que vão representar o velho continente no Mundial dos EUA, México e Canadá – o maior torneio da história, com 48 nações, mais 16 do que no Qatar 2022. Portugal só agora inicia a fase de apuramento, uma vez que esteve a disputar a Liga das Nações, competição que ganhou de forma brilhante ao vencer a Alemanha e, na final, a Espanha.
A seleção nacional está naturalmente motivada para a dupla jornada frente à Arménia (amanhã, às 17h00) e Hungria (dia 9, às 19h45), embora não esqueça a perda de um companheiro, Diogo Jota, e do seu irmão André Silva. A ausência de Diogo Jota é difícil de suportar e, no sábado, quando a equipa entrar no Vazgen Sargsyan Stadium, em Yeravan, a emoção e a sensação de perda vai ser ainda maior. Contudo, todos sabem que há um objetivo a atingir: a presença no Campeonato do Mundo do próximo ano (de 11 de junho a 19 de julho), e, quiçá, ganhá-lo em memória de Diogo Jota. «Já tínhamos muita vontade de conquistar um Mundial por Portugal, agora temos uma força ainda maior», referiu Rúben Neves.
Roberto Martínez referiu que o desaparecimento de um colega vai ser um fator de união: «Sabemos o que ele representava para cada um de nós. O golpe foi muito difícil de aceitar e deu-nos uma lição de vida. As mensagens e as demonstrações de carinho por Diogo Jota dão uma ideia do seu valor como ser humano».
O jogo na Arménia marca o início do ciclo Mundial, que começa com uma pesada cruz. «Queremos honrar a sua memória todos os dias. Ele vai estar connosco e vai ser mais uma força para conseguirmos o nosso objetivo. Ganharemos pelo Diogo, pelo seu irmão André e por todos os portugueses. Convocámos 23+1», justificou o selecionador nacional. No grupo, todos queriam que, de alguma forma, Diogo Jota estivesse presente em cada encontro da seleção, e isso foi conseguido. A camisola 21 de Jota passa para Rúben Neves, o seu maior amigo. «Foi uma decisão da família do Diogo Jota», fez questão de dizer Roberto Martínez.
A seleção concentrou-se na Cidade do Futebol, em Oeiras, na terça-feira, num reencontro difícil e emotivo da equipa das Quinas. O momento foi aproveitado pela Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para condecorar a título póstumo Diogo Jota com as insígnias de comendador da Ordem de Mérito. Os familiares do antigo internacional Jorge Costa, que faleceu recentemente, receberam insígnias idênticas.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, associou-se à homenagem e distinguiu os dois jogadores com a Medalha de Atleta de Mérito. André Silva, irmão de Diogo Jota, foi igualmente recordado.
Grupo acessível
Portugal integra o grupo F com a Arménia, Hungria e Irlanda, ou seja, são seis jogos para ganhar e garantir o apuramento direto para o Mundial. O histórico é claramente favorável à equipa das Quinas. A seleção nacional defrontou seis vezes a Arménia, venceu quatro jogos e empatou dois. Em teoria, é a seleção mais fraca do grupo. Contudo, só por uma vez Portugal venceu por dois golos de diferença (1997). Os outros adversários têm sido mais fáceis de bater. A última vez que se defrontaram foi na qualificação para o Euro 2016 e Portugal venceu em Yerevan (3-2). Dos nove golos marcados, cinco tiveram a assinatura de Cristiano Ronaldo.
A Hungria é um adversário de longa data: o primeiro encontro foi em 1926! É uma seleção com qualidade, que coloca outras dificuldades. Os dois países defrontaram-se 14 vezes, Portugal venceu 10 e empatou quatro. Marcou 34 golos, seis foram de Cristiano Ronaldo, e sofreu apenas 10. O último encontro aconteceu no Euro 2020 e Portugal ganhou folgadamente (3-0) no Puskás Aréna, em Budapeste.
O histórico é menos confortável contra a República da Irlanda, como demonstra o facto de Portugal nunca ter ganho em solo irlandês em partidas oficiais. Foram realizados 16 jogos, Portugal ganhou nove, perdeu quatro e empatou três. A última vez que se defrontaram foi num jogo de preparação para o Euro 2024, com vitória portuguesa (3-0), em Aveiro. A equipa das Quinas marcou 26 golos e sofreu 11, e o capitão Ronaldo volta a ser o melhor marcador com quatro golos.
Sonho Mundial
Portugal quer marcar presença pela nona vez na fase final de um Campeonato do Mundo, e Roberto Martínez espera fazê-lo para terceira vez. Se o conseguir, torna-se o treinador espanhol com mais participações na competição, à frente de Vicente del Bosque.
A equipa das Quinas é claramente favorita, mas o selecionador não espera facilidades. «O estatuto de favorito pode ser enganador e nunca estamos a salvo de uma armadilha», disse ao site da FIFA. «Com apenas seis jogos para disputar, a margem de erro é mais limitada do que o habitual. Nenhum jogador toma qualquer jogo de ânimo leve. Por isso, estamos concentrados no nosso objetivo, sabemos o que é preciso fazer para garantir o nosso lugar», frisou Roberto Martínez.
Iniciar a qualificação com uma dupla jornada fora de portas não agrada ao selecionador: «O calendário começa com duas deslocações, com tudo o que isso implica em termos de trabalho entre um jogo e o outro». E explicou porquê: «Em setembro, há sempre uma certa instabilidade, porque alguns jogadores mudaram de clube e outros vivem momentos melhores que os demais. Este mês tem uma complexidade que precisa de ser muito bem trabalhada».
Numa análise aos adversários, salientou: «Hoje em dia, todas as equipas estão bem preparadas para enfrentar qualquer adversário. A Arménia e a Hungria são equipas totalmente diferentes e estamos conscientes das dificuldades dos dois jogos de setembro. A Arménia disputa o primeiro jogo de qualificação em casa, e isso é importante do ponto de vista emocional. A Hungria é treinada pelo mesmo técnico há muitos anos. A sua filosofia de jogo é clara, aproveita bem as qualidades de um jogador como Szoboszlai e é muito eficaz no processo defensivo».
CALENDÁRIO
6/9 Arménia-Portugal9/9 Hungria-Portugal11/10 Portugal-Irlanda14/10 Portugal-Hungria13/11 Irlanda-Portugal
16/11 Portugal-Arménia
Jornal Sol