O “Milei Português” ou “Sérgio Sousa Pinto da IL"?

Rui Rocha e a sua direção apresentaram a demissão após dois anos e quatro meses à frente da Comissão Executiva, período marcado por diversas eleições — muitas mais do que as inicialmente previstas aquando da sua primeira eleição como presidente da Iniciativa Liberal.
As metas apresentadas pela atual direção, tanto em campanha como no discurso de tomada de posse, ficaram em grande parte por cumprir. Falharam em elevar a Iniciativa Liberal ao papel de fiel da balança na política portuguesa, e não conseguiram alcançar um peso significativo para influenciar a governação do país — algo que só seria possível atingindo o declarado objetivo de 15% dos votos. O objetivo traçado por João Cotrim de Figueiredo ao passar o testemunho a Rui Rocha, de tornar o partido mais “combativo, abrangente e popular”, esbarrou na tentativa de moderar as ideias liberais. Assim, transmitiu-se a imagem de uma IL integrada no sistema, precisamente quando as pessoas procuram rasgo e disrupção, não encontrando no sistema respostas para os seus problemas. Sem risco, não houve inovação, e sem inovação, não houve crescimento.
A esta situação somam-se falhas na administração interna do partido: atrasos na apresentação de contas dentro dos prazos legais, falta de transparência, e a desunião causada pelo afastamento de quadros válidos apenas por pertencerem a outras fações nas eleições internas. Tudo isto resultou numa Iniciativa Liberal fragilizada, desorganizada e sem poder para influenciar a governação do país.
Após a saída de Cotrim para o Parlamento Europeu, a Iniciativa Liberal conta apenas com uma pessoa no parlamento nacional com reconhecimento e capacidade para alterar rapidamente o rumo que parece condenado: a irrelevância política e os 4-6% de votação nas legislativas. Carlos Guimarães Pinto tem, assim, nas mãos a chave do futuro imediato da IL. Se aceitar liderar uma candidatura à liderança do partido, poderá promover mudanças internas, agregar membros e adotar um discurso reformista e ideológico, como sempre fez. Talvez, pegando também na “motosserra”, defenda cortes com o passado e com os pesos que arrastam o país para o fundo da Europa — ela própria em trajetória descendente. Só assim poderá galvanizar quem, pelo país fora, anseia por uma alternativa viável, com um caminho claro para Portugal.
Em alternativa, Carlos Guimarães Pinto pode optar por adotar a postura de Sérgio Sousa Pinto no PS: tolerado, mas irrelevante; ignorado pela comunicação oficial do partido, mas com alcance próprio suficiente para fazer chegar a sua mensagem ao público. Sentado na Assembleia da República, observa o navio a rumar perigosamente às rochas: avista as velas rasgadas e o casco a ganhar água, ouve os avisos da tripulação inquieta, mas limita-se a comentar a rota errada e a tempestade que se aproxima, recusando-se, no entanto, a assumir o leme.
A grande diferença entre ambos é que uma eventual candidatura de Sérgio Sousa Pinto a secretário-geral do PS não teria garantia de vitória.
Não há homens providenciais, nem Carlos Guimarães Pinto é o Dom Sebastião liberal. Certamente existem outros indivíduos com vontade e capacidade para unir a IL, torná-la a casa de todos os liberais e adotar um discurso disruptivo face ao status quo, à burocracia e ao centralismo português, elevando o partido a outros patamares. Infelizmente, todas as correntes alternativas dentro da IL foram desmembradas, e alguns dos seus membros foram empurrados ou mesmo explicitamente convidados a sair.
observador