Marina Silva abandona comissão após bate-boca com senadores

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou nesta terça-feira (27) uma comissão do Senado após uma forte discussão com parlamentares que a criticaram por conta de uma rodovia amazônica cuja obra está paralisada por razões ambientais.
Marina, de 67 anos e com uma longa trajetória como ambientalista, deixou a sessão depois que um senador lhe disse que “não merece respeito” como ministra e outro a acusou de “atrapalhar o desenvolvimento do país”.
Enquanto o Brasil se prepara para sediar a conferência climática da ONU, a COP30, marcada para novembro em Belém, crescem as pressões políticas sobre Marina Silva, que se mostra contrária a um megaprojeto de exploração petrolífera, abertamente apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A ministra já havia deixado, em 2008, o segundo governo do então presidente Lula por dificuldades em implementar sua agenda ambiental.
A comissão havia sido convocada para que Marina explicasse as exigências feitas à Petrobras para obter a licença de exploração de petróleo na Margem Equatorial, uma área marítima próxima à maior floresta tropical do planeta.
A licença está em análise pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), um órgão autônomo vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
“Eu estou vendo uma ministra, não estou vendo uma mulher. A mulher merece respeito, a ministra, não”, provocou o senador Plínio Valério (PSDB-AM) durante a sessão da Comissão de Infraestrutura. Marina respondeu: “Eu fui convidada como ministra e se ele não me respeitar como ministra, vou me retira”. Em seguida, deixou a sala.
Em março, Valério havia declarado que era difícil “tolerar” Marina Silva por várias horas “sem enforcá-la”.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), da base aliada de Lula, acusou a ministra de “atrapalhar o desenvolvimento do país” e citou o caso da rodovia amazônica BR-319, que liga as capitais estaduais Porto Velho e Manaus, no norte do Brasil, cuja pavimentação está paralisada há anos devido ao possível impacto ambiental negativo.
A ministra também discutiu com o presidente da comissão, o bolsonarista Marcos Rogério (PL-RO), a quem acusou de querer que ela fosse uma “mulher submissa”, após ele silenciá-la várias vezes e mandar que ela “se ponha no seu lugar”.
O Senado, de maioria conservadora, aprovou na semana passada um polêmico projeto de lei para flexibilizar as licenças ambientais, que agora precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados. A ministra classificou o projeto como “um grande retrocesso”.
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IstoÉ