Recente onda de calor na Europa foi até 4°C mais quente devido às mudança climáticas

As mudanças climáticas provocadas pelo uso de combustíveis fósseis fizeram com que a recente onda de calor no oeste da Europa fosse até 4°C mais quente em muitas cidades, o que expôs milhares de pessoas vulneráveis a um estresse térmico perigoso, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira.
Entre o final de junho e o início de julho, as temperaturas ultrapassaram os 40°C em vários países europeus, durante uma onda de calor excepcional e precoce que desencadeou vários alertas de saúde.
“Calculamos que as mudanças climáticas amplificaram a onda de calor em aproximadamente 2º a 4°C na maioria das cidades estudadas, incluindo Paris, Londres e Madri”, declarou Ben Clarke do Imperial College de Londres, que coordenou a pesquisam em parceria com a London School of Hygiene and Tropical Medicine.
O episódio provavelmente resultou em um número muito maior de mortes relacionadas ao calor do que na ausência da influência das mudanças climáticas, conclui o “estudo rápido”, que teve a participação de mais de 10 pesquisadores de cinco instituições europeias. Os balanços oficiais devem ser divulgados dentro de várias semanas.
Para avaliar a influência das mudanças climáticas, os cientistas simularam a intensidade deste episódio em um mundo que não teria registrado o uso em larga escala de carvão, petróleo e gás, baseados em dados meteorológicos históricos.
Eles concluíram que a onda de calor “teria sido de 2 a 4°C menos intensa” sem as mudanças climáticas em 11 das 12 cidades estudadas.
Os graus adicionais aumentaram consideravelmente o risco para a saúde dos 30 milhões de habitantes das cidades examinadas.
“Isso coloca certos grupos de pessoas em uma situação mais perigosa”, declarou Clarke. “Para alguns, ainda é um clima quente e agradável, mas para grande parte da população vira algo perigoso”, destacou.
O estudo tenta, pela primeira vez, calcular o número de mortes atribuíveis à onda de calor nas 12 cidades estudadas e a proporção que pode ser atribuída às mudanças climáticas.
Com base em métodos científicos revisados por pares e em pesquisas estabelecidas sobre calor e mortalidade, o estudo calcula que a onda de calor provavelmente provocou quase 2.300 mortes prematuras entre 23 de junho e 2 de julho nas cidades. E quase 1.500 óbitos, praticamente dois terços, não teriam ocorrido sem os graus adicionais provocados pelo desequilíbrio climático causado pela humanidade.
Os autores, de instituições do Reino Unido, Países Baixos, Dinamarca e Suíça, destacaram que a estimativa é apenas um olhar preliminar, antes de qualquer contagem oficial.
As ondas de calor são particularmente perigosas para idosos, pessoas enfermas, crianças pequenas, pessoas que trabalham ao ar livre e qualquer pessoa exposta a temperaturas elevadas por longos períodos sem descanso, especialmente durante uma sucessão de noites quentes.
Áreas extensas do sul da Europa registraram uma sequência de “noites tropicais”, quando as temperaturas não baixam o suficiente para permitir que o corpo se recupere.
“Para milhares de pessoas, um aumento de apenas 2º ou 4°C pode fazer a diferença entre a vida e a morte”, declarou Garyfallos Konstantinoudis, do Imperial College de Londres.
“Por este motivo, as ondas de calor são conhecidas como assassinas silenciosas: a maioria das mortes ocorre em casas e hospitais, fora da vista, e raramente são relatadas”, acrescentou.
As autoridades avaliam que serão necessárias várias semanas para estabelecer um balanço definitivo de vítimas. A sucessão de episódios similares provocou dezenas de milhares de mortes prematuras na Europa nos últimos anos.
np/klm/gv/jz/eg/fp
IstoÉ