Opinião: Coimbra e o desafio da longevidade

Portugal envelhece depressa, em 2024 havia 192 idosos por cada 100 jovens e a idade mediana já supera os 47 anos. Na região Centro, o desafio é maior. Não é fatalidade, é agenda: reorganizar cuidados, apoiar cuidadores informais, investir na prevenção e defender, sem hesitações, os direitos das pessoas mais velhas.
Coimbra tem condições únicas para liderar, não é uma novidade. Universidade, hospitais, centros de saúde e a rede Ageing@Coimbra, reconhecida a nível europeu, podem transformar a cidade num laboratório vivo de envelhecimento ativo e saudável.
O objetivo é claro: acrescentar vida aos anos, preservando autonomia, segurança e participação cívica. Coimbra pode afirmar se como capital nacional da longevidade com qualidade.
Cinco passos imediatos: 1 ) rastreio anual de fragilidade e risco de queda nos centros de saúde e farmácias comunitárias; 2 ) mais hospitalização e reabilitação domiciliárias, com telemonitorização de doentes crónicos; 3 ) Plano Apoio ao Envelhecimento: centros de dia especializados, teleassistência, descanso do cuidador informal e formação; 4 ) um médico responsável por cada lar, com supervisão clínica regular;
5 ) pagamento por resultados, menos quedas, menos internamentos evitáveis, mais dias de vida autónoma.
Há também uma urgência moral: a violência geriátrica. Tolerância zero com a criação de um Observatório Local em Coimbra para articular saúde, segurança, ação social e autarquia/juntas de freguesia, com linha de apoio 24/7 e formação obrigatória para deteção precoce em todos os pontos de contacto, centros de saúde, serviços de urgência, farmácias, lares e serviços domiciliários. Estas passos devem ser acompanhados de medidas específicas de captação dos recursos humanos necessários.
Por detrás está o idadismo, preconceito em que a idade não pode ser critério para menos cuidado, menos escuta ou menos tratamento. O idadismo corrói decisões clínicas e políticas públicas, atrasa diagnósticos, legitima negligências e fragiliza a autonomia. Reconhecê lo é o primeiro passo para o erradicar.
Esta é a política certa: humanista, baseada em evidência e próxima das pessoas. Se Coimbra assumir este desígnio, o país seguirá. Envelhecer deve significar viver melhor, com voz, propósito e respeito absoluto pela pessoa. Uma cidade que valoriza os seus mais velhos é mais justa e solidária para todos. A última etapa da vida deve ser vista como tempo de participação e reconhecimento, não de silêncio ou exclusão.
Em tempo de eleições autárquicas, importa que este seja também um tema central do debate político local, desafiando as candidaturas a apresentar propostas claras sobre como Coimbra pode transformar a longevidade em oportunidade de inovação, coesão social e dignidade.
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