O sexo explicado aos políticos

Em 2021, uma meta-análise publicada no Journal of Adolescent Health dava conta das investigações científicas, ao longo de 30 anos, sobre a educação sexual nas escolas. Foram escrutinados 80 estudos publicados em conceituadas revistas científicas e os resultados eram bastante claros.
Algumas conclusões: a educação sexual nas escolas ajudou a prevenir o abuso sexual de crianças, ajudando-as a identificar toques físicos seguros e toques abusivos; promoveu relações mais saudáveis, reduzindo a violência no namoro e ajudando a identificar as nuances e os limites do consentimento; reduziu o bullying homofóbico; ajudou a promover a aceitação das diferenças do outro, com respeito e tolerância, seja em relação à orientação sexual ou à identidade de género; teve um papel importantíssimo na prevenção de gravidezes adolescentes e na proteção contra doenças sexualmente transmissíveis…
Por último e talvez o fator mais importante para um público mais conservador, a educação sexual nas escolas contribuiu de forma decisiva para que os jovens iniciassem a sua vida sexual cada vez mais tarde. Não são estas conclusões que se atiram para o ar sem fundamento – como já se referiu, são retiradas de investigações científicas levadas a cabo durante três décadas. E também não se trata da análise de um só estudo: partiu-se de uma amostra de mais de oito mil artigos científicos para se analisarem, ao detalhe, 80.
Claro que podemos não acreditar na Ciência, questionar tudo, vestir a capa do ceticismo, desconfiar de tudo e de todos, viver neste modo ataque ou fuga porque o mundo é uma selva e ninguém nos garante nada. Nesse caso, em que deve basear-se um governante para governar? No killer instinct, em crenças entranhadas nascidas de preconceitos, na vontade de manter o poder, na “escola da vida” ou mesmo, pasme-se, na ideologia! Nesse caso, também nos diz a voz da experiência: o fruto proibido é o mais apetecido. Está na Bíblia: é a maçã, a deliciosa maçã.
Essa maçã que as crianças de outros tempos procuravam às escondidas nas imagens das enciclopédias que os pais guardavam nas estantes; esta maçã que as crianças de hoje veem à vontade nos TikToks desta vida, de forma deturpadíssima, como se o sexo implicasse sempre alguma violência que caracteriza a maior parte da pornografia, o puxar de cabelos, as mãos na garganta… e não vamos mais longe.
Querem ser os pais a dar sentido a estas imagens, a contextualizá-las, a separar o trigo do joio para encontrar na sexualidade os princípios do respeito, da igualdade, do consentimento, da proteção da saúde? Na verdade não querem, uns poucos fazem muito barulho, exageram-se os conteúdos, puxa-se a disciplina de Cidadania para o campo da batalha ideológica e não há racionalidade possível neste debate.
Até agosto, vamos discutir a proposta do Governo de conteúdos da Educação para a Cidadania. As temáticas da sexualidade deixam de estar incluídas e há um reforço da componente literacia financeira e empreendedorismo. Estamos perante uma proposta bem pensada do ponto de vista pedagógico, fundamentada em estudos sobre o tema da sexualidade nas escolas? Era bom, era. Quantas vezes se tomam decisões políticas de forma racional? E quantas vezes se tomam com bases puramente eleitoralistas? Que falta fez a disciplina de Cidadania há 40 ou 50 anos!
Visao