O prazer do olhar

Nos últimos tempos dou comigo a gostar mais de ir ver as exposições depois das inaugurações. O dia da inauguração tem quase sempre demasiada gente, não se consegue ver bem o que se quer. Fala-se mais do que se vê. A melhor parte de visitar uma exposição é descobrir pormenores, sobretudo na pintura.
Os grandes artistas não procuram o acaso, trabalham persistentemente para transformar as ideias em obras de arte, estão constantemente a desafiar-se a si próprios. Recentemente li uma frase de Van Gogh em que ele dizia que insistia em fazer o que ainda não fazia como queria, de maneira a aprender a fazê-lo como deve ser. É esta persistência que me encanta e que vejo em muitos dos artistas que tenho a sorte de conhecer e com quem vou falando.
Também sinto que cada vez mais me desafio a olhar para uma exposição como deve ser, ir para além da impressão imediata. Esta fotografia que hoje partilho foi feita na Fundação Gulbenkian, numa recente exposição sobre pinturas de mestres venezianos que se chamava Veneza em Festa. Enquanto percorria devagar a exposição dei com esta senhora a contemplar uma obra, o perfeito exemplo de quem se encanta com o que está a ver e quer fazer perdurar esse prazer. Segui-a durante um pouco e, frente a vários quadros, repetiu esta mesma posição: sentada num dos pequenos bancos portáteis do Museu, a ver com atenção o quadro que estava à sua frente.
Cada vez mais, nesta época acelerada onde tudo parece ser instantâneo, prezo o luxo de poder ter tempo, de ficar a olhar, apenas a ver, saborear a descoberta. Ficar a olhar e ver bem o que temos à frente é o desafio que muita gente evita. Contemplar é uma das melhores formas de entender o que se passa à nossa volta.
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