Mentir aos filhos? Às vezes

Querida Mãe,
É verdade que não devemos mentir aos nossos filhos, mas tenho aprendido que por vezes também não se lhes deve dizer a verdade! Às vezes, vale a pena uma mentira inofensiva para ajudar a ultrapassar fases normais do desenvolvimento (que são chatas como tudo!), e ao longo tempo tenho colecionando as histórias que as pessoas me vão contando e adicionando-as à minha biblioteca de, digamos, liberdades criativas sobre a realidade dos nossos filhos!
1. “Está fechado!”A primeira, e mais utilizada (não acredite em quem lhe diga o contrário), é a clássica “Oh não! O parque já fechou!” ou “Também adorava ficar, mas a senhora ali ao fundo está a dizer que o parque vai fechar e que temos de ir”.
2. “A mãe vai só ali…”A segunda é a do “Vou só à casa de banho, fica aqui deitado um bocadinho e volto já”. Nesta situação acontece sempre uma de duas coisas, ou regressamos depois de uma cozinha arrumada e um assalto à gaveta dos chocolates para encontrar a criança a dormir OU a criança apanha-nos com a boca cheia e pergunta-nos porque é que não estamos na casa de banho!
3. Falha de eletricidade Esta contou-me uma mãe que garante o seu sucesso. Os filhos estavam todos colados à televisão num dia bonito e, de repente, deu-se um “apagão” — que nada tinha a ver com o facto de a mãe ter desligado o contador! A verdade é que 15 minutos depois estavam todos a brincar lá fora.
4. Feliz Ano Novo… às dez da noiteUsei-a durante vários anos e ainda nos rimos com isso. Quando eram pequenos celebrávamos a passagem no horário do país que entrasse no novo ano mais cedo. As 12 passas, o relógio, o salto com o pé direito e tudo o mais, mas às 22h portuguesas para irmos todos para a cama mais cedo!
Estou absolvida das minhas mentiras? Quer confessar-se?
Beijinhos
Querida Ana,
Estás muito absolvida! E com isso absolvo-me também a mim mesma, porque felizmente já vivi o suficiente para saber que essas mentiras não fazem mal nenhum. Pelo contrário, tornam-se muitas vezes nas graças intemporais de cada família!
Só quero traçar uma linha vermelha, mas suspeito que a minha é bem mais permissiva do que a tua: não valem mentiras para assustar verdadeiramente os miúdos, como aquela de “O papão vem aí e leva-te”, ou como se ouvia “O polícia prende-te!”, mesmo que às vezes apeteça recorrer a forças externas para combater a impotência e o cansaço. Também não valem ameaças/mentiras ditas por adultos na escola, como quando lhes dizem, como uma vez ouvi, que “há câmaras a filmar”, para os tentarem manter sossegados.
Essas pagam-se caras, tanto enquanto os miúdos acreditam e andam cheios de medo, como quando descobrem que é mentira e se revoltam por esse sofrimento que lhes causaram. A confiança é um valor demasiado precioso para nos arriscarmos a perdê-la.
Já agora, a acreditar na Internet, o lugar onde o novo ano chega mais cedo é, pelos vistos, Kiritimati na República de Kiribati, localizado no Oceano Pacífico Central. Para o ano vai ser a nossa escolha.
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990
publico