Junto ao Castelo de São Jorge, num antigo mosteiro, à beira rio, ou de olhos vendados. Os 8 novos restaurantes Michelin do país
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Está relativamente escondido, algures atrás da Porta de Dom Fradique, parte da muralha do castelo de São Jorge, mas o Guia Michelin já tinha dado por ele em 2021, quando um dos pratos da casa mereceu distinção. Quatro anos depois, já não vale a pena gritar “Lisboa não sejas francesa” porque as propostas gaulesas estão mais que instaladas, e premiadas, e a avaliar pelos inspetores merecem uma nota de atenção. É nesta zona histórica da cidade (que por si merece visita), no tranquilo Pátio de Dom Fradique, junto ao Palácio dos Condes de Belmonte, que o chef Philippe Gelfi dirige o Grenache, fiel às suas origens. A cozinha por aqui quer-se contemporânea sem esquecer essa referência francesa fundadora, com a elegância e a técnica a serem conjugadas com o sabor — e se gosta de apreciar as andanças entre tachos, e o devido toque blanche, é possível seguir tudo o que se passa enquanto preparam um de dois menus, o Grenache ou o Experience. Quando o bom tempo espreitar, pode sempre acrescentar à experiência a romântica esplanada.
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O Guia descreve-o como um “templo da comida vegetariana e vegan”, e com o aumento da propostas de topo pelo país fora que se dedicam em exclusivo aos vegetais vale a pena acrescentar mais esta entrada à lista de obrigatórios na capital. Ao leme do ARKHE está o chef brasileiro João Ricardo Alves. A um passo do Largo do Rato, a atenção à sazonalidade impera e promete convencer, e converter, carnívoros a esta modalidade, para uma alta-cozinha que consegue triunfar longe da proteína — basta ver como o Encanto de José Avillez acabou de garantir mais uma estrela Verde para Portugal. Depois da aventura que tiveram anteriormente na zona de Santos, João e Alejandro Chávarro obtiveram a distinção Bib Gourmand em 2021. Agora, chegou a vez da estrela. Uma boa desculpa para começar a reservar mesa durante a semana, porque aos sábados e domingos a casa encerra. E, já agora, para recordar a entrevista que João Ricardo Alves deu ao Observador há quatro anos, em que desmistifica em muitos pontos essa coisa de ser sustentável.
Se o ano passado a colheita já foi generosa para Vítor Matos, este ano o chef soma a segue, agora com destaque para o seu Oculto. Emocionado, o chef e companheiro de aventura Hugo Rocha recordou em palco os primeiros tempos na cozinha, sob a liderança de Matos, então na cozinha da Casa da Calçada. “Sou feliz naquilo que faço, esta coisa de juntar pessoas em projetos especiais, adoro isso”, acrescentou ainda Vítor. Ora este Oculto é vizinho de um Mosteiro e ainda de um bar Abadessa. É que estamos num piso quase secreto do hotel The Lince Santa Clara, sobre a foz do rio Ave, em Vila do Conde, qual galeria subterrânea com paredes imponentes. Afinal, falamos de um restaurante de autor instalado no espaço do antigo Mosteiro de Santa Clara, um fine dining descomplicado que aposta num menu totalmente vegetariano e num outro dedicado aos sabores do mar (com direito a sapateira, ouriço do mar, bacalhau, cavala, gamba vermelha, lula e robalo.) Ah, não se esqueça de espreitar a Wine Cellar, uma pérola escondida para os apreciadores de vinho, com mais de 500 referências cuidadosamente selecionadas. O espaço também permite receber com exclusividade, acolhendo até 10 convidados.
Henrique Sá Pessoa viu o seu Alma manter as duas estrelas Michelin mas a noite não ficou por aqui para o chef português. Ao lado de Jonhathan Seiller, garantiu que o Vinha by Boutique Hotel agarrava o seu primeiro astro e justificava uma passagem por Vila Nova de Gaia. Rodovalho, lombo de bacalhau confitado, veado cantarelo ou presa de porco Ibérico apresentam-se nos pedidos à carta, mas também pode optar por menus como o Identidade (125 euros), que refletem inspiração nacional e as viagens dos timoneiros. Se é adepto dos pormenores instagramáveis, o espaço pensou em si. A sala de jantar conta com um par de jarras chinesas em tons de verde, e todo o restaurante é revestido em Mármore Verde Esmeralda, importado do Brasil (um bom fun fact para partilhar com a sua companhia á mesa.) Se precisa de dados adicionais, o tecto é da marca holandesa Moooi.
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© Vinha by Boutique Hotel
Se o chegou a conhecer atrás do balcão do extinto Mattë, na Calçada Marquês de Abrantes, em Lisboa, sabe o que esperar de Habner Gomes, visivelmente emcionado na noite desta terça-feira, no Porto. “Para a minha filha sou o melhor chef do mundo”, riu-se. É agora em pista própria, ao lado do sócio José Balau (também com as bebidas em mãos) que o chef mantém o nível de exigência no YŌSO; o pequeno reduto em Alcântara, onde ao balcão para nove se juntam mais três mesas — é diante do chef que o essencial acontece e que o momento se torna mais revelador do ponto de vista gastronómico (e do contacto com o anfitrião). “O restaurante só tem oito meses, ainda é um bebé, mas com honestidade e o melhor produto do mundo é muito fácil trabalhar em Portugal pela excelente matéria prima.”, acrescentou na gala, após a notícia da distinção. Neste seu YŌSO, o fator surpresa continua a assistir a experiência omakase, que não por acaso significa confiança. Sem enumeração de pratos ou ingredientes, Gomes cruza este estilo com as diferentes técnicas da cozinha kaiseki e do período nam ban e mostra como os quentes, caldos e grelhados povoam uma riqueza culinária que em muito transcende a popularidade do sushi, do peixe cru ou do arroz. Ao almoço, a modalidade de sopa miso e uma bento box permitem aceder a estes sabores por 35€.
observador