Entrevista: Tiago Mendonça – proprietário do azeite ETHOS

“A região do Vale do Mondego é considerada uma zona de excelência para a produção de azeite, devido às suas características únicas”
Tiago Mendonça, proprietário do azeite ETHOS, nasceu em Lisboa, mas tem ligações familiares ao Vale do Mondego. Estudou no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. No vale do Mondego, nas propriedades da família, produz o azeite ETHOS Cobrançosa, que venceu Medalhas de Ouro no NYIOOC World Olive Oil Competition 2025, em Nova Iorque, e no OLIVE JAPAN 2025, dois dos mais prestigiados concursos internacionais de azeite extra virgem. Considera estes prémios “uma honra que confirma a excelência portuguesa no mundo do azeite”.
A GUARDA: O azeite ETHOS Cobrançosa venceu, recentemente, Medalhas de Ouro em dois dos mais prestigiados concursos internacionais de azeite extra virgem. Como receberam a notícia da atribuição destas medalhas?
Tiago Mendonça: Recebemos a notícia com muita satisfação, com muito orgulho e com muita alegria, por sermos reconhecidos como um dos 10 melhores azeites do mundo, num concurso onde estavam cinco espanhóis e três italianos, entre muitos outros.
Estes reconhecimentos dão-nos vontade de continuar a trabalhar, de procurar fazer sempre mais e ainda melhor.
No concurso do Japão, também o ETHOS Galega e o ETHOS Galega Olivais Velhos foram distinguidos com medalhas e estes prémios são a confirmação de que estamos no caminho certo, são o reconhecimento da qualidade dos nossos produtos, que provém de uma paixão antiga, numa região que tem uma longa tradição na produção de azeite.
A GUARDA: O que os motivou a entrar nestes dois concursos em lugares tão diferentes do mundo?
Tiago Mendonça: Os concursos do Japão e de Nova Iorque são dois dos mais prestigiados concursos do mundo e é onde estão os melhores que nós também queremos estar, para mostrar o potencial dos nossos produtos. Os azeites ETHOS têm participado nestes e noutros concursos, ao longo dos anos, e felizmente temos ganho prémios todos os anos, com diferentes variedades de azeite.
A GUARDA: Estas medalhas são a confirmação da excelência portuguesa no mundo do azeite?
Tiago Mendonça: Sim, são a confirmação da excelência portuguesa e, particularmente, da qualidade dos azeites da Beira que são, na nossa opinião, os melhores do país.
A região do Vale do Mondego é considerada uma zona de excelência para a produção de azeite, devido às suas características únicas. Para além disso, o nosso olival encontra-se em modo de produção biológica, onde respeitamos os ciclos de vida naturais e a proteção do solo, e não usamos herbicidas. O resultado que obtemos em cada produção é o reflexo daquilo que o olival nos oferece e do controlo rigoroso do processo, desde a produção até à extração.
A GUARDA: O que distingue este azeite para o tornar tão especial?
Tiago Mendonça: Os nossos azeites distinguem-se pelo Terroir – o clima, a altitude, o solo, a exposição solar – e por estarmos numa zona onde toda a gente tem oliveiras. É uma cultura muito próxima do povo, o que torna a zona especial. Há uma grande tradição de produção de azeite na região e, por isso, existe um conhecimento de décadas de experiência.
Depois, todo o cuidado com que o azeite é feito. Um azeite fantástico necessita de uma produção perfeita em todas as suas fases. As árvores têm de ser bem podadas, para que o sol possa entrar; e temos de tratar muito bem o fruto, para que chegue saudável ao momento de ser colhido, só assim o azeite pode manter todos os aromas da oliveira. Temos, portanto, uma azeitona sã, que é apanhada cuidadosamente e levada para um lagar próprio, onde o azeite é feito no próprio dia, a frio, com uma higiene irrepreensível.
O processo é rigorosamente controlado, separam-se as folhas, lavam-se as azeitonas e o fruto chega com todas as suas qualidades ao moinho de martelos onde é moído. Na batedeira, a massa da azeitona é bem homogeneizada, com água fria, e passa para o decanter onde, por centrifugação, o azeite é separado do bagaço. É aqui que vemos sair o nosso azeite, que depois levamos para um armazenamento provisório, onde descansa uns dias. Segue-se um processo de filtragem e o azeite está pronto para ser engarrafado, perfeito, com todo o sabor das azeitonas que o fizeram.
É um azeite feito com muito amor e carinho.
A GUARDA: Quais são os principais mercados a que é destinado o azeite ETHOS?
Tiago Mendonça: Neste momento o foco é o mercado nacional, porque apostámos na qualidade, antes de apostar na quantidade, mas estamos também a tentar implementar-nos no Brasil e no norte da Europa.
Participar nestes concursos internacionais e ganhar medalhas dá-nos a visibilidade que necessitamos para podermos expandir-nos. O ETHOS já foi também premiado num concurso brasileiro, por isso acreditamos que seja possível entrar nesse mercado.
A GUARDA: Como nasceu o azeite ETHOS Cobrançosa?
Tiago Mendonça: O azeite está na nossa família há muitos anos. Em 1940 o meu avô já tinha um lagar e sempre se colheram azeitonas e se produziu azeite na família. Na Quinta de São João o azeite sempre foi uma paixão e eu decidi manter o legado. Adquirimos outras duas quintas, também no Vale do Mondego – a Quinta da Campanária, onde temos o lagar, e a Quinta de São João, onde também produzimos vinho Ethos – mantivemos os olivais centenários, plantámos novos e construímos um lagar moderno. Atualmente, dedicamo-nos a honrar as tradições, embora tenhamos modernizado o processo.
Os nossos azeites têm sido sempre monovarietais. Cada variedade de azeitona é apanhada de forma separada, e o azeite é feito também separadamente. O Cobrançosa foi uma variedade que introduzimos há cerca de 15 anos e tem produzido um azeite fantástico. É um azeite delicado, fresco, harmonioso, de azeitonas fundamentalmente verdes. Ideal para comer com pão e para temperar saladas.
A GUARDA: Há uma grande aposta no olival centenário, mas também em novas plantações?
Tiago Mendonça: Sim, temos um misto de olival centenário com plantação nova, nomeadamente da variedade Cobrançosa, mas também, claro, a nossa rainha Galega, uma variedade da Beira, e a Cordovil.
A GUARDA: Como olha para o futuro deste sector?
Tiago Mendonça: O azeite português, no geral, é dos melhores do mundo, portanto olho para o futuro com esperança. Em relação ao ETHOS, acredito na qualidade do nosso azeite. Estou esperançoso que haja um maior conhecimento por parte do consumidor português relativamente a estes azeites de elevada qualidade. Já agora, para quem nos quiser conhecer melhor, temos visitas disponíveis às nossas quintas, onde é possível visitar o lagar, ficar a conhecer todo o processo de produção do nosso azeite e provar as diferentes variedades. O Vale do Mondego é maravilhoso e proporcionamos um passeio magnifico pelos olivais centenários, rodeados pela paisagem singular do Parque Natural da Serra da Estrela.
Jornal A Guarda