Devolver à comunidade o que dela retiramos

Num mundo cada vez mais globalizado, a conveniência é rainha. Qualquer produto está à distância de um clique ou da prateleira da porta ao lado. Uma conveniência que aproxima as pessoas dos produtos mas que, inevitavelmente, as afasta da origem, de onde tudo começou. A distância entre quem consome e quem produz é cada vez maior e, muitas vezes, todo esse circuito é esquecido.
Sabemos que passos percorreu até chegar ali? Por quantas mãos passou? Vivemos rodeados de produtos cujo percurso até às nossas mãos raramente conhecemos. Mas por trás de cada peça de roupa, de cada objeto do quotidiano, de cada barra de chocolate, há histórias humanas, comunidades e ecossistemas que, muitas vezes, enfrentam desafios para chegar aquele produto final que tão facilmente habita o nosso quotidiano.
É neste contexto que se torna urgente repensar o papel das empresas. Já não basta produzir bem ou vender com eficácia. A verdadeira medida de uma organização responsável está na forma como se relaciona com o território de onde retira valor — e no que devolve a essa comunidade. Não se trata apenas de um enquadramento moral e ético mas, sim, de uma visão de futuro, centrada na sustentabilidade e na equidade.
Isto implica olhar para a cadeia de valor como um ciclo completo, em que prosperidade e responsabilidade andam de mãos dadas. Trata-se de construir relações de longo prazo com as comunidades produtoras, investindo na educação, na saúde, na capacitação das pessoas e na regeneração ambiental. Trata-se, acima de tudo, de reconhecer que nenhum negócio é verdadeiramente bem-sucedido se deixar para trás quem o torna possível.
Colocar a visão em prática é sempre importante, sobretudo em setores onde o impacto social e ambiental é particularmente sensível, como é o caso do cacau. Na Fundação Lacasa KKO promove-se o acesso à educação em zonas rurais, capacita-se mulheres para assumirem um papel ativo nas suas comunidades, investe-se em infraestruturas essenciais e em métodos agrícolas regenerativos. E são hoje mais do que boas intenções: são compromissos reais que demonstram que é possível produzir com impacto positivo.
Numa das principais regiões produtoras de cacau da Costa do Marfim, as iniciativas promovidas nos últimos anos focam-se na produção responsável, rastreabilidade e investimento social. Escolas construídas com o envolvimento da comunidade, bibliotecas que fomentam a leitura e a cidadania, programas de saúde e nutrição infantil, campos de jogos que devolvem às crianças o tempo e o espaço para sonhar — tudo isto feito em parceria com quem vive e trabalha no território. Trata-se de um modelo de atuação que não impõe, mas colabora; que não extrai apenas, mas também devolve.
É neste tipo de ações — discretas, mas transformadoras — que a verdadeira sustentabilidade acontece. São ações que geram impacto local imediato e criam, ainda, relações de confiança, estabilidade e desenvolvimento mútuo. Um modelo que beneficia todos os intervenientes da cadeia de valor: do agricultor ao consumidor final, passando por quem transforma e distribui.
A sustentabilidade, afinal, não é um destino. Certo? É um caminho que se percorre com coerência e compromisso. Empresas com história, com valores enraizados e com visão para o futuro têm aqui uma oportunidade única: contribuir para um mundo onde produzir com responsabilidade e consumir com consciência deixem de ser exceções — e passem, sim, a ser a regra.
Diretora de marketing do Grupo Lacasa, líder ibérico na produção de chocolates
sapo