‘Rui Rio recorre ao alemão de forma pueril e descabelada’

Há muitos anos fez o anúncio da Molaflex, empresa do seu pai, e ficou conhecido por dar pulos em cima do colchão. Ainda alguém o trata por Molinhas?
Fiz um anúncio de televisão e o Molinhas foi a mascote da marca, inspirada nesse anúncio. Durante alguns anos, a alcunha perseguiu-me, mas não resistiu à minha adolescência. Ninguém me chama assim, mas sabem que sou eu.
Foi campeão de vela e ganhou dinheiro com uma empresa de navegação. Depois de abandonar a Câmara do Porto pensa dar longos passeios de barco? Ou tem outras ideias em mente?Sim, vou poder andar de barco. Já tenho tudo reservado com a família para o próximo verão.
Trabalhou em restaurantes, em Londres, depois do seu pai ser preso, a seguir ao 11 de março de 75. Ganhou o ‘bichinho’ da noite na capital londrina e foi por isso que comprou a discoteca POP? O que lhe deu mais gozo como dono?Em Londres, trabalhei em restaurantes. Mas sempre gostei de sair à noite. O POP foi um projeto incrível que fundei com a minha ex-mulher, Cristina Ferreira, o chefe Heitor de Melo e Artur Miranda e Jacques Bec (hoje famosos decoradores). As pessoas do Porto ainda se recordam. Mas uma discoteca é como um iate, que nos dá dois momentos de prazer. O primeiro é o dia da compra, o segundo é o dia da venda.
Viu a morte por perto quando adoeceu antes dos 30 anos. Como se apercebeu da gravidade do problema? E como conviveu com a doença e de que forma o transplante mudou a sua vida?Aos 26 anos, tinha sucesso e um filho. Sentia-me o Super-Homem. Sem aviso, fiquei às portas da morte. Mais de dois anos de hemodiálise, uma prisão. E depois o milagre, com a dádiva do meu irmão Sebastião, um transplante que me restituiu a vida há 40 anos.
Qual foi a última vez que entrou numa discoteca?Este verão, no Algarve.
Disse que o Porto dos anos 70 era mais cosmopolita que Lisboa? Qual a razão para nunca mais o ter sido?Sim, porque o Porto não se encantara com o império. Tínhamos lojas como o Porfírios que parecia saída de Carnaby Street, tínhamos as roupas de moda da Celina, tínhamos o Batô, o Twins e a D. Urraca, e gente como o Miguel Veiga, o Vasco Graça Moura ou, já agora, os meus pais, que tinham Mundo. Lisboa era mais ensimesmada. Acho que depois de um longo ocaso, o Porto voltou a ser mais cosmopolita.
Descreveu Pedro Nuno Santos como uma mistura de Marx e o Pai Natal. E os outros líderes? Montenegro, Ventura, Carneiro, Leitão, Raimundo e Mortágua?
A referência ao Pedro Nuno tinha um contexto: as promessas eleitorais. Tenho apreço pessoal por ele. Poucos sabem, mas a Mãe dele trabalhou na Molaflex. Não vou caracterizar os outros, entre eles sou amigo de Montenegro.
Diz-se que sempre sonhou ser presidente do FC Porto, mas nunca avançou. Ponderou ser candidato a Belém, mas também não avançou. O que lhe faltou para avançar?Já expliquei mil vezes que nunca me passou pela cabeça liderar o FC Porto. É um mito urbano. Sonhei ser presidente da Câmara do Porto, e estou muito agradecido aos portuenses por terem confiado em mim. Quanto à República, a simpatia que senti não resultou em entusiasmo, apareceu o Cotrim, e o Luís Marques Mendes mostrou que pode vencer se não houver uma dispersão de votos.
Quem não tem cão, caça com gato. Queria apoiar Paulo Portas, mas como este também não avança, pondera dar o apoio a Marques Mendes. Porquê?Não disse que queria apoiar Portas. O que que disse é que, se o Paulo se candidatasse – o que nunca me pareceu provável -, dificilmente deixaria de o apoiar, porque tenho uma dívida política para com ele. Sim, apoio Marques Mendes e a minha última crónica no SOL explica porquê. Além da consideração que me merece, pelo seu caráter e seriedade, revejo-me naquilo que defende para o exercício do cargo.
Admite filiar-se num partido, nomeadamente no PSD?Não.
A sua relação com Rui Rio nunca foi a melhor. Alguma vez mandaram bocas um ao outro em alemão?Não. Não mando bocas. O Dr. Rui Rio tem, regularmente, achaques a meu respeito, mas não o valorizo de todo. Não me merece qualquer consideração ou sequer aversão. Além de que só recorre ao alemão – que nem fala bem – de forma pueril e descabelada para não responder aos jornalistas…
Qual é o grande legado que deixa à cidade do Porto?A cultura transversal e a irreverência cívica. O otimismo descomplexado.
A imigração descontrolada melhorou ou piorou a vida na cidade? O bairrismo ainda existe?Tudo o que é descontrolado é mau. E sim, o bairrismo existe, felizmente. É bom, controlado e na dose certa.
Quais foram as grandes figura do Porto nos últimos 50 anos?Sá Carneiro e Miguel Veiga; Agustina Bessa Luís, Ana Luisa Amaral, Eugénio de Andrade; Távora, Siza e Souto Moura; Jonas Marques Pinto, Valente de Oliveira e Artur Santos Silva; Pinto da Costa; Rui Veloso e Carlos Tê, Abrunhosa e Reininho.
E o melhor 11 do FC Porto?Vítor Baía, João Pinto, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Branco, Deco, Pavão, Madjer, Cubillas, Fernando Gomes e Jardel.
Jornal Sol