Críticas esmagadoras, e eles gostam disso. É assim que o Mundial de Clubes se vê de perto

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Críticas esmagadoras, e eles gostam disso. É assim que o Mundial de Clubes se vê de perto

Críticas esmagadoras, e eles gostam disso. É assim que o Mundial de Clubes se vê de perto

Não é fácil encontrar o Mundial de Clubes. O metrô vai de Wall Street até Port Authority, a estação rodoviária mais movimentada do mundo, em Midtown Manhattan. Cerca de 8.000 ônibus chegam e partem de 223 portões todos os dias.

Qual ônibus vai para o Estádio MetLife, onde será realizada a final da Copa do Mundo do ano que vem e onde o Palmeiras joga contra o Al Ahly ao meio-dia de hoje? O melhor clube brasileiro contra o melhor clube da África.

Ninguém sabe. São sete e meia da manhã, e alguns homens e mulheres com camisas vermelhas e verdes, as cores dos dois clubes, circulam pela Autoridade Portuária. Eles perguntam a policiais, motoristas e equipes de limpeza. Alguns os encaminham para a Rua 42, outros para a Rua 40. A placa confunde em vez de explicar. Funcionários da FIFA que poderiam ajudar? Não há ninguém.

Pouco depois das 21h, acontece o que costuma acontecer em Nova York: o caos se dissolve como num passe de mágica. Alguns torcedores se alinham em frente ao portão de entrada, outros os seguem. Cada um recebe uma pulseira verde, que garante a viagem de volta após a partida.

O Mundial de Clubes já está em andamento nos Estados Unidos há uma semana, com a participação de times de todos os continentes. Na Europa, o torneio tem recebido mais críticas do que elogios. Dizem que é inútil do ponto de vista esportivo. Os estádios americanos não têm uma atmosfera de verdade. Quem quer assistir a tanto futebol?

Convidados do Brasil e do Egito

Veja Isabela Aimola, por exemplo. Esta estudante de 14 anos está esperando o ônibus com os pais e avós. A família veio de São Paulo para Nova York para assistir ao jogo do time. "Ah, eu adoro o Palmeiras", diz a menina. Aqui nos EUA, tudo é um pouco maior do que no Brasil, mas menos perigoso.

Seu pai, Neto Aimola, vende carros americanos em São Paulo. "Este torneio é muito importante para nós, brasileiros", explica ela. "Gostamos de competir em um cenário internacional. Não há lugar melhor para isso do que aqui."

Essa era a intenção original de Sepp Blatter quando idealizou o Mundial de Clubes, 25 anos atrás. O então presidente da FIFA queria desafiar o domínio da Europa com uma Liga dos Campeões global. O primeiro torneio no Brasil fracassou devido a problemas financeiros e pouca publicidade. O Mundial de Clubes nunca passou de um evento de nicho envolvendo meia dúzia de times.

Agora, outro suíço está tentando a sorte: Gianni Infantino, presidente da FIFA desde 2016, está transformando o torneio em um espetáculo gigantesco com 32 clubes, uma fase de grupos e uma fase eliminatória. O torneio é financiado em grande parte pela Arábia Saudita.

O médico egípcio Mohammad Attia não se importa se isso incomoda alguém. Ele veste o uniforme vermelho do Al Ahly. Ele está passando seis dias em Nova York, "realizando um sonho de vida", diz ele. O torneio é sua primeira vez nos Estados Unidos. Ele gosta do Mundial de Clubes. "Pessoas do mundo inteiro estão curtindo futebol juntas. Isso é importante diante de tantas guerras", diz ele.

Richard Ross e Mohamed Ali Ben Romdhane
Richard Ross e Mohamed Ali Ben Romdhane (Foto: Brian Branch Price, ZUMA / newspix.pl)

Attia entra no ônibus e senta-se ao lado de Matheus Peixoto, de São Paulo, que hoje comemora 18 anos: uma partida pelo clube que ama desde criança. Ele também está em Nova York pela primeira vez, veio passar sete dias e assistirá a duas partidas. Suas impressões? "Tudo é bem organizado", diz Peixoto. "No Brasil, assistir a uma partida é mais complicado, a polícia é muito mais rigorosa", acrescenta.

O ônibus parte assim que está lotado. O ar-condicionado está zumbindo. Faz um frio de rachar, e muitas pessoas têm cachecóis amarrados no pescoço. Fragmentos de palavras em português se misturam ao árabe. Em ritmo de caminhada, o ônibus se espreme pela Rua 41, deixando para trás o Empire State Building e as torres de vidro ao longo do Rio Hudson, e mergulha no Túnel Lincoln, rumo a Nova Jersey.

A jornada leva você por túneis escuros e pontes enferrujadas, atravessando uma paisagem pantanosa inóspita. Uma terra de ninguém com inúmeras encruzilhadas, onde até mesmo os nova-iorquinos experientes costumam se perder. Foi aqui que os mafiosos desapareceram na série de TV "Família Soprano".

A viagem revela a infraestrutura frágil dos Estados Unidos: ruas esburacadas, grades de proteção em ruínas, motéis baratos e lanchonetes gordurosas. Após 20 minutos, o ônibus para no estacionamento do Estádio MetLife. Um helicóptero paira quase imóvel no céu.

Policiais amigáveis

Os subúrbios americanos definem o estilo de vida. Fãs de esportes chegam de carro. Meninos chutam bola. Famílias estacionam seus carros. Torcedores tiram selfies com bandeiras. Um egípcio abre o porta-malas e vende camisas do Al Ahly. Egípcios posam em frente a um elegante Dodge esportivo pintado no vermelho vibrante de seu time favorito.

Torcida do Palmeiras durante o Mundial de Clubes
Torcedores do Palmeiras durante o Mundial de Clubes (Foto: Brian Branch Price, ZUMA / newspix.pl)

Os portões abrem pontualmente às 10h. A segurança é tipicamente americana: amigável, discreta, mas eficiente. Um cão farejador fareja bombas na entrada, e alguns policiais estaduais armados de Nova Jersey — policiais cantonais — caminham entre os torcedores. Eles riem e tiram fotos com eles. A verificação de segurança leva menos de 20 segundos.

Depois de passar pelos detectores de metais, os torcedores praticam atividades que podem mostrar no Instagram: jogam futebol em minicampos, pebolim, posam em frente a um muro com o escudo do seu time. Matar a fome custa caro: um sanduíche a R$ 24 [aprox. PLN 88], um hambúrguer a R$ 20 [aprox. PLN 73], uma cerveja sem álcool a R$ 15 [aprox. PLN 55], sorvete a R$ 8 [aprox. PLN 29].

A FIFA consegue organizar o Mundial de Clubes em grande escala porque o principal patrocinador do evento é o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita. Mais de um bilhão de dólares foram alocados para o torneio, e o prêmio pela participação é de US$ 9,55 milhões [aproximadamente PLN 35 milhões] por clube.

O Mundial de Clubes é um ensaio geral para a Copa do Mundo de 2026, que acontecerá nos EUA, México e Canadá. O objetivo é conquistar o último lugar vago no mapa do futebol: a América do Norte. Um gigante econômico onde o basquete, o beisebol e o futebol americano reinam absolutos – tanto nos estádios quanto diante das telas.

Jogadores do Al-Ahly chegaram ao Estádio MetLife
Jogadores do Al-Ahly chegaram ao Estádio MetLife (Foto: Brian Branch Price, ZUMA / newspix.pl)

O egípcio Adel Nail mora em North Jersey, onde trabalha como personal trainer há seis anos. Ele comprou seus ingressos em abril, quando começaram a ser vendidos por US$ 250. "Agora estão disponíveis por US$ 80", diz ele. Como a demanda era alta, a FIFA reduziu os preços. "Para mim, não é problema", diz Nail, que usa um nemes, o chapéu característico dos faraós, junto com uma camisa vermelha. "Não quero perder por nada, porque o Al Ahly pode não jogar nos Estados Unidos pelos próximos 20 anos", explica.

Não só o estacionamento é espaçoso. O estádio tem pé-direito alto, banheiros limpos e corredores iluminados. Uma coisa chama a atenção: os pôsteres dos jogadores de futebol americano New York Giants e Jets ainda estão no lugar. Ninguém se preocupou em substituí-los por fotos de times de futebol americano.

Mundial de Clubes. Jogo Palmeiras - Al Ahly
Mundial de Clubes. Jogo Palmeiras x Al Ahly (Foto: Brian Branch Price, ZUMA / newspix.pl)
Pepsi em vez de Coca-Cola

Dentro do estádio, lanchonetes locais oferecem fast food americano: cheesesteaks de Nova York, cachorros-quentes, massas e dumplings. A barraca de bebidas nos fundos do estádio é administrada pela Pepsi, não pela Coca-Cola, patrocinadora da FIFA. Isso porque a Pepsi está sempre lá.

O banqueiro Fabrizio Ianelli, de São Paulo, pede um pretzel. "Estou em todos os lugares onde o Palmeiras joga", diz ele. "Sou apaixonado pelo Palmeiras desde pequeno. Meu pai, meu avô: todos torcem pelo Palmeiras", acrescenta. Seus ancestrais emigraram da Calábria para o Brasil, e é assim que ele explica sua ligação com o clube. "O Palmeiras foi fundado por imigrantes italianos em São Paulo em 1914", lembra.

Ao lado dele, Michael Moses está na fila para pegar água. O terapeuta mora em Nova York há 19 anos e se tornou americano há muito tempo. Ele tirou o dia de folga hoje porque seu coração ainda bate pelo Al Ahly no Cairo. "Sou um grande fã do meu clube de origem", diz ele, enfatizando: "É o clube do século na África". Nem o Real Madrid conquistou tantos títulos nacionais quanto o Al Ahly. "Somos o número um na África", diz ele.

Quando o hino nacional americano toca uma hora antes do início do jogo, Moses se levanta e canta. A atmosfera é animada e amigável, o clima quente e úmido. O som é perfeito. O estádio tem capacidade para 80.000 pessoas, mas apenas as arquibancadas inferiores estão lotadas. Parece que está apenas um quarto da capacidade. "35.179 torcedores", anuncia o locutor.

Os times entram em campo às 11h17. Os torcedores dançam, cantam e gritam. Mesmo tendo pago US$ 250 [aproximadamente PLN 917] por um assento, eles ficam em pé por 90 minutos.

Após uma breve cerimônia, o árbitro apita. O Al Ahly ataca de forma bastante caótica. O Palmeiras tem sua primeira chance de marcar aos 20 minutos. Devido ao calor, o árbitro ordena um intervalo para bebidas após 30 minutos. Aos 37 minutos, ele mostra um cartão vermelho a um jogador do Palmeiras por uma entrada. "Nem foi falta", diz um torcedor do Al Ahly. O VAR corrige o árbitro, que troca o cartão de vermelho para amarelo.

Jogadores do Palmeiras fazem pausa para beber água
Jogadores do Palmeiras durante intervalo para água (Foto: Brian Branch Price, ZUMA / newspix.pl)

Durante o intervalo, muitas pessoas vão para a sala com ar-condicionado, bar e barraca de comida para escapar do calor.

Os brasileiros saíram na frente com um gol contra aos 48 minutos e fizeram 2 a 0 em um contra-ataque aos 61 minutos.

Antes que o árbitro possa apitar novamente, um alerta dispara em milhares de celulares no estádio. Nuvens espessas de primavera se formam sobre o Metlife Stadium, ameaçando raios, trovões e chuva torrencial. Jogadores desaparecem nas catacumbas do estádio, e torcedores são forçados a deixar as arquibancadas e buscar abrigo no subsolo.

Após 25 minutos, um celular sinaliza que está tudo bem. O estádio volta a ficar lotado. Dez minutos depois, o árbitro apita. Passado o perigo, caem as primeiras gotas de chuva.

Aos 96 minutos, o apito final soa. Palmeiras vence por 2 a 0.

Futebol para o mundo, não apenas para a Europa

Táxis, limusines e Ubers aguardam do lado de fora do estádio. Tudo parece organizado à moda americana: um pouco caótico, mas funciona. Dez minutos após o apito final, os primeiros ônibus lotados partem. Qualquer pessoa usando uma pulseira verde, que o motorista verifica, pode embarcar. Um sistema simples, mas muito eficaz.

O trânsito é outra história. As estradas que levam a Nova York estão congestionadas. A viagem de volta leva mais de uma hora. Assim que você desce do ônibus, a vida cotidiana em Nova York te atinge: agitada, barulhenta, fedorenta. Sempre tem alguma coisa acontecendo. Mas não há sinal do Mundial de Clubes na cidade.

O que ficou na minha memória? O futebol de clubes global não é apenas um assunto europeu. Os torcedores do Al Ahly e do Palmeiras são tão entusiasmados quanto os do Barcelona ou do Bayern de Munique. Claro, a partida não foi de um nível mais alto do que na Liga dos Campeões, mas a alegria de jogar foi igualmente grande.

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