Staś e Nel deveriam fazer terapia? "Sienkiewicz não é o problema. O problema é a leitura acrítica."

Marta Byczkowska-Nowak: Todo ano letivo parece inevitavelmente marcado por disputas rituais sobre o cânone da leitura. Será que precisamos discutir o cânone para outros fins que não políticos?

Agnieszka Budnik: Estou convencida de que sim. Sim, o cânone é uma ferramenta de poder amplamente definida, mas definitivamente precisamos falar sobre ele em outros níveis. O fato de essas discussões ocorrerem com alguma regularidade é importante, porque é um dos poucos momentos na sociedade em que sentimos a seriedade da literatura, em que podemos acreditar que ela realmente faz a diferença. Este é o momento em que a literatura assume o centro do palco.

Às vezes como um espantalho.

Sim, porque um cânone é sempre uma luta por influência, incluindo aqueles que nos vendem uma visão da realidade por trás dele. O fato de toda mudança de poder estar ligada a mudanças, ou tentativas de mudança, no cânone é perturbador, assim como é perturbador pensar em cultura em prazos muito curtos, frequentemente definidos, por exemplo, por concessões programadas para um, dois ou três anos.

A conversa sobre literatura aparece no debate público, de fato, em dois momentos do ano: quando a Biblioteca Nacional publica um relatório de leitura, que imediatamente leva à divisão da sociedade entre aqueles que leem e aqueles que não leem, e à valorização dos primeiros; e quando o ano letivo começa, e com ele o cânone da leitura aparece – como o proverbial bode expiatório.

Portanto, é difícil dizer que este debate tenha sido particularmente frutífero, mas isso certamente não significa que deva ser abandonado. Talvez devêssemos nos fazer perguntas diferentes? Ou convidar mais pessoas para a mesa? Talvez fosse bom que os metodologistas consultassem especialistas em estudos culturais, estudos literários e psicologia, que pudessem explicar, por exemplo, como funcionamos socialmente hoje? Mas o fato de que o cânone da leitura precisa ser modernizado é óbvio para mim.