Após a cimeira falhada de Trump com a Rússia no Alasca, a unidade europeia deve ser elogiada, mas as perspectivas para a Ucrânia continuam sombrias

Já não se pode chamar de surpresa, mas o presidente dos EUA, Trump, provou mais uma vez ser um péssimo negociador. Em sua busca insaciável pelo Prêmio Nobel da Paz, o "negociador" na Casa Branca ainda parece convencido de que pode pôr fim à guerra na Ucrânia apaziguando o agressor.
A mais recente ofensiva diplomática de Trump é caracterizada por uma investida igualmente imprudente e desajeitada: no Alasca, ele estendeu o tapete vermelho para Vladimir Putin, um ditador que iniciou a guerra contra a Ucrânia há onze anos e é procurado internacionalmente como criminoso de guerra. O tratamento preferencial obsessivo de Trump a Putin é vergonhoso para todos os valores que os Estados Unidos defendem desde a Segunda Guerra Mundial. Como presidente do país — ainda — mais poderoso do planeta, Trump tem as cartas na manga para acelerar o fim da guerra de Putin. Os EUA, juntamente com a Europa, são capazes de pressionar a economia russa a ponto de tornar impossível a continuação da guerra.
Trump tem criticado com moderação os ataques russos contra civis ucranianos em curso nos últimos meses, mas nunca emitiu uma condenação inequívoca. Pelo contrário: Trump continua a sugerir que a Ucrânia iniciou a guerra. Nem seu antecessor, Biden. O ex-presidente Obama foi responsabilizado esta semana pela anexação da Crimeia pela Rússia.
O único que escapa consistentemente da política externa deplorável de Trump é Vladimir Putin. No Alasca, Trump revelou praticamente tudo o que havia cuidadosamente construído ao longo dos meses de verão: a ameaça de sanções severas se Putin não concordasse com um cessar-fogo.
Sem que Putin tenha que fazer uma única concessão, tudo está fora de cogitação depois do "Alasca": as sanções e a exigência americana de um cessar-fogo. Com um sorriso, o presidente russo conseguiu, em poucas horas, reconduzir Trump ao jargão ucraniano que o Kremlin usa há anos.
Trump, como de costume, apresentou a reunião como um sucesso retumbante, alegando ter iniciado um encontro direto entre Putin e o presidente Zelensky, seguido por uma reunião trilateral com o próprio Trump. Há até especulações sobre possíveis locais.
Mas também aqui, Trump se mostrou desinteressado pelos detalhes que inevitavelmente acompanham as negociações de paz. Ele estava focado no momento: o líder mundial "encerrando" sua sexta (ou sétima) guerra. No mundo real, as coisas são bem diferentes: a probabilidade de Putin se reunir com Zelensky em breve parece remota.
Após o fiasco americano em Anchorage, coube à Ucrânia e seus aliados europeus reconstruir a situação. Nada menos que seis líderes europeus e o chefe da OTAN, Mark Rutte, correram para Washington na última segunda-feira, na esteira de Zelensky, para reparar o máximo possível os danos causados por Trump. É preciso dizer: a guerra na Ucrânia, a ameaça russa e a inconstância do aliado pouco confiável em Washington garantiram que a Europa amadurecesse e operasse cada vez mais como uma frente unida. Ganhos inegáveis foram alcançados nesse sentido ao longo do último ano.
Mas ainda não se sabe se a visita de alto escalão da UE melhorou a posição da Ucrânia. Após a recepção imperial de Putin em solo americano, e com a ameaça de sanções descartada, ele não tem motivos para interromper os ataques com mísseis contra cidades ucranianas. Trump parece já ter esquecido aqueles ataques sangrentos – que continuaram inabaláveis na época da cúpula do Alasca.
Conversas apressadas entre americanos e europeus sobre garantias de segurança para uma potencial força de paz são sempre úteis, mas também prematuras enquanto Putin não tiver interesse em um cessar-fogo ou em uma paz duradoura. Que não haja mal-entendidos: Moscou não menciona a paz; a Ucrânia simplesmente não é reconhecida como uma nação soberana. Enquanto Putin não estiver genuinamente disposto a se envolver em negociações de paz – nada aponta nessa direção – as vagas promessas americanas sobre garantias de segurança "ao estilo da OTAN" para a Europa e a Ucrânia não passam disso. Além disso, o mundo de Trump não conhece garantias; o clima pode mudar amanhã. A Europa agora sabe que ele prefere fazer negócios com Putin. E o suposto sucessor do presidente de 79 anos, J.D. Vance, tem ainda menos consideração pela Ucrânia. Além disso, seria ingênuo pensar que Moscou simplesmente concordaria com um cessar-fogo que deve ser mantido com tropas europeias, aeronaves da OTAN e navios de guerra americanos no Mar Negro.
Não é uma perspectiva promissora para a Ucrânia e a Europa. Enquanto os aliados europeus não conseguirem, econômica e militarmente, forçar a Rússia à paz, terão que continuar a usar todos os meios diplomáticos para manter o instável aliado americano a bordo. E, se possível, para trazê-lo à razão.
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