Assim como Macri e Alberto Fernández, Milei também evitou o Senado para oficializar sua Embaixadora nos Estados Unidos
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Ofuscado pelo impacto gerado pela nomeação por decreto de Ariel Lijo e Manuel García-Mansilla como juízes da Suprema Corte, o formato "especial" com o qual foi oficializada na quarta-feira a nomeação do novo embaixador nos Estados Unidos, o empresário Alex Oxenford, passou quase despercebido.
"O Sr. Alejandro Carlos Francisco Oxenford (DNI nº 22.347.588) é nomeado 'em comissão' no Ministério das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto, como funcionário da categoria "A" Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário, de acordo com o disposto no artigo 5º da Lei do Serviço Exterior da Nação nº 20.957", informa o decreto 136/2025, assinado pelo Presidente Javier Milei e pelo Ministro Gerardo Werthein.
E então no artigo 2º detalha-se seu destino, e que as despesas necessárias para cumprir o decreto serão custeadas pelo Estado argentino, cujo alcance é desconhecido já que Oxenford não mora na Argentina há anos.
Dessa forma, Milei apressou um procedimento atípico e emergencial que, no entanto, foi usado de forma semelhante pelos ex-presidentes Mauricio Macri e Alberto Fernández: enviar seus embaixadores aos Estados Unidos em uma “comissão” sem ter passado pelo processo de confirmação do Senado exigido para embaixadores de origem política.
Este também é um poder constitucional. Em 2016, Macri foi rápido em nomear o atual senador Martín Lousteau para a “comissão”, mas no final ele nunca pareceu confortável com a embaixada nos Estados Unidos e também se distanciou do ex-presidente. De sua parte, Fernández enviou Jorge Argüello em missão como seu embaixador em Washington quando viu que o Senado iria adiar a iniciativa.
E neste caso, segundo o que o Clarín apurou junto a altas fontes diplomáticas, o Departamento de Estado já concedeu a Oxenford a aprovação para poder cumprir sua missão nos Estados Unidos e inclusive entregar as credenciais de Milei ao presidente Donald Trump.
A Seção 7 do Artigo 99 da Constituição Nacional autoriza o Chefe de Estado argentino a nomear e destituir embaixadores, ministros plenipotenciários e encarregados de negócios com a aprovação do Senado, entre outros. E é o Artigo 19 que lhe permite nomear aqueles que “requerem a concordância do Senado” e que ocorrem durante o seu recesso “em comissão”, que expirará no final da próxima Legislatura.
“Este é um mecanismo mais comum com embaixadores. Geralmente é usado para enviá-los rapidamente enquanto o processo avança no Senado. Por que eles fizeram isso, eu não sei. Se é porque eles não planejam abrir o Senado nunca mais, porque estavam com pressa, por que não tiveram os votos? Mas mostra uma tendência a ignorar o Senado e pular as etapas estabelecidas na Constituição", disse Guadalupe Tagliaferri, presidente da Comissão de Acordos do Senado, ironicamente após uma pergunta do Clarín.
Acontece que o senador já havia enviado o que é chamado de “mensagem” parlamentar com a carta de confirmação de Oxenford para ser tratada primeiro na Comissão de Acordos, o que seria em breve, em março. É depois de passar pela câmara que o presidente emite seu decreto de confirmação final.
Membro de uma família rica e de um círculo social muito liberal, Oxenford não tem experiência em diplomacia, mas é respeitado e amado por aqueles que o conhecem por suas atividades como empreendedor e nas artes. Sua única vantagem pode ser que ele não mora no país, mas se encaixa nos Embaixadores Comerciais propostos pelo Ministro Werthein.
Hoje na Casa Rosada especulavam que ou o Presidente e sua irmã Karina se apressaram em nomeá-lo para uma “comissão” aproveitando esta semana entre as sessões extraordinária e ordinária porque estão descontentes que a embaixada nos Estados Unidos esteja nas mãos de um diplomata de carreira — no caso Juan Corteletti — já que Werthein — ex-embaixador ali — foi convocado como chanceler para substituir Diana Mondino, ou porque estavam assustados com o que aconteceu recentemente no Senado.
Outra versão é que eles ficaram assustados com o barulho em torno da nomeação do embaixador no país, os Estados Unidos, e do presidente, Trump, que Milei considera uma prioridade máxima.
Acontece que na semana passada um grupo de ex-combatentes e líderes de governos anteriores ficaram incomodados com a promoção solitária no Senado da diplomata do PRO, Mariana Plaza, a embaixadora e de seu marido, Carlos Gonzalo Ortíz de Zárate, a primeiro-ministro, e fizeram grande barulho em diferentes meios de comunicação. E as discussões na sala eram acaloradas.
O casal é responsável pela embaixada em Londres e foi acusado de ser “pró-britânico” e incompetente. O escândalo causou tanto barulho que ambos os funcionários de carreira pediram ajuda à Apsen, a guilda diplomática, que emitiu uma declaração a seu favor. Mas o caso chegou à Presidência além da veracidade -inverificável- dessas acusações, já que a política externa é, como recordaram em sua indignação com os diplomatas Milei e Werthein, faculdade do chefe de Estado.
Enquanto isso, o empresário cubano-americano Peter Lamelas, que foi nomeado por Trump como seu representante em Buenos Aires antes mesmo de assumir a presidência dos Estados Unidos, terá que esperar todo o processo de confirmação do Senado – e enfrentar audiências – para chegar ao seu destino. A sede é administrada pela experiente diplomata Abigail Dressel, atualmente encarregada de negócios, mas já promovida a um novo cargo e que sairá quando sua nomeação passar pelo Senado dos EUA.
Clarin