A esquerda sem filhos. A crise demográfica explicada sem hipocrisia.

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O editorial do diretor

A crise é real, mas afeta mais os eleitores progressistas do que os conservadores. Tudo gira em torno de pessimismo e pessimismo em relação ao futuro, mas não só isso. As teses do NYT e do FT e o drama de um sistema político com muitos pesadelos e poucos sonhos.

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Ter filhos virou direitista? Ross Douthat é um famoso e respeitado jornalista americano. Ele é conservador, não trumpista, escreve para o New York Times e, há alguns dias, ofereceu aos seus leitores uma tese tão escandalosa quanto reveladora. Douthat optou por abordar um tema recorrente nas sociedades ocidentais — a crise demográfica, a crise da natalidade —, mas optou por fazê-lo sugerindo uma interpretação original e sensacionalista: a crise demográfica existe, não há dúvida, mas não é generalizada e afeta um segmento específico da população, que coincide com o eleitorado progressista. A reflexão de Douthat parte da leitura de outro artigo sobre o tema, publicado no final de agosto no Financial Times, por John Burn-Murdoch, especialista em dados, que elaborou uma série de gráficos que mostram como as taxas de natalidade entre os progressistas estão diminuindo muito mais rapidamente do que entre os conservadores no mundo desenvolvido. Nos Estados Unidos e também na Europa.

De acordo com dados do Financial Times, até a década de 1980, conservadores e progressistas tinham probabilidade praticamente igual de ter filhos, mas nos últimos vinte anos a diferença aumentou. O resultado é que, dos Estados Unidos à Europa e além, pessoas que se identificam como conservadoras estão tendo quase o mesmo número de filhos de décadas atrás, enquanto pessoas que se identificam como progressistas estão tendo menos filhos do que antes. Uma análise de dados do European Social Survey (ESS), publicado no final de 2024, mostra uma tendência nessa direção também em toda a Europa. E nas regiões do sul da Europa, indivíduos da extrema direita são significativamente mais propensos (cerca de 4 a 9 pontos percentuais) a expressar uma firme intenção de ter um filho nos próximos três anos do que aqueles que se consideram mais moderados e progressistas. O pessimismo autodestrutivo, uma mistura tóxica de ecoansiedade estrutural, catastrofização perpétua e ansiedade generalizada em relação ao futuro, certamente desempenhou um papel nessa dinâmica, e não é preciso muito para entender que aqueles que afirmam que o mundo está ferrado têm menos probabilidade de ter filhos do que aqueles com uma visão menos alarmista do futuro. Douthat diz que há mais. Não é apenas uma questão de pessimismo.

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Progressistas, mais modernizados, mais urbanos, mais secularizados, adotam estilos de vida que reduzem a fertilidade em todas as sociedades avançadas. Períodos educacionais mais longos, casamentos tardios, maior idade materna, pouco interesse pela vida familiar. Não se trata diretamente de falta de confiança no futuro, mas sim do efeito do próprio progresso: quanto mais progressista se leva uma vida, diz Douthat, menor a probabilidade de se ter filhos. No entanto, o elemento que deveria pelo menos preocupar os progressistas com pouco desejo de trazer uma nova vida ao mundo é outro, e coincide com um fenômeno interessante captado pelo colunista do NYT: os progressistas já tiveram menos filhos, mas foram culturalmente vitoriosos, e os jovens, mesmo os conservadores, eram naturalmente atraídos por histórias e imagens liberais. A cultura progressista de hoje parece ansiosa, pessimista e incapaz de contar histórias envolventes. Filmes recentes da Disney até eliminaram romances e heróis, substituídos por enredos didáticos, vagos ou deprimentes. Isso também diminui muito as chances de a hegemonia cultural da esquerda ganhar força com futuros conservadores: a esquerda não é mais capaz de vender sonhos e heróis, e quanto mais a esquerda escolhe considerar a taxa de natalidade uma questão de direita, mais a esperança de uma esquerda com futuro será significativamente diminuída.

O Financial Times acrescenta um trecho ao argumento, oferecendo um elemento adicional que os políticos progressistas devem considerar para o futuro, a menos que optem por ver o aumento da imigração como a única alavanca para lidar com a crise demográfica e a crise do consenso progressista. E este é o trecho: a falta de preocupação da esquerda com o declínio das taxas de natalidade está empurrando as sociedades para uma direção mais conservadora. A direita, habilmente, conseguiu convencer a esquerda de que falar sobre famílias e filhos é um hábito conservador, observa o Financial Times. Entender que ter filhos não é algo de direita pode ser um passo útil para voltar a falar com os eleitores, focando não na agenda da catástrofe, mas no único elemento capaz de criar uma agenda para o futuro: construir um sonho pelo qual valha não apenas votar, mas até mesmo nascer.

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