O turismo excessivo preocupante: em breve teremos que parar de viajar?

Em Veneza, Barcelona e em outras partes do mundo, cada vez mais moradores reclamam do turismo excessivo. É claro: nem todos vão parar de viajar amanhã. Então, quais são as soluções? Conversamos sobre isso com o especialista em turismo Luc Renaud.
Em uma coluna sobre turismo publicada esta semana no Le Journal , Richard Martineau lamenta os "bem-intencionados que acham que há muita gente viajando".
Só que o excesso de turismo — ou turismo de alta intensidade, para usar um termo mais preciso — não significa que há muitas pessoas viajando, mas sim que há muitas pessoas viajando para os mesmos lugares ao mesmo tempo.
Segundo dados da startup francesa Murmuration, 80% dos viajantes estão concentrados em apenas 10% dos destinos turísticos do mundo.
Efeitos concretos sobre os moradoresEm seu texto, Richard Martineau reconhece que "é irritante se encontrar no meio de uma multidão de turistas quando você vai a Florença".
No entanto, ele ignora as consequências concretas do turismo sobre os habitantes dessas regiões populares entre os viajantes.
Eles são os que sofrem com o barulho, a deterioração da infraestrutura, o aumento dos aluguéis e a escassez de água.
Luc Renaud, professor associado de estudos urbanos e de turismo da UQAM, também dá o exemplo de um pequeno café na esquina, onde você normalmente pararia. Se o lugar se tornar popular entre os turistas, você terá que esperar na fila e por um longo tempo para tomar seu café.
“As pessoas relatam uma perda de qualidade de vida”, resume.
"Os turistas gastam dinheiro, mas para quem esse dinheiro vai? Quem lucra com o turismo não mora no centro da cidade. O patrão não mora na fábrica", lamenta.
Soluções de duas velocidadesAs cidades estão começando a adotar medidas para limitar esses impactos: controlar ou proibir aluguéis do tipo AirBnB, impostos sobre turistas e limites no número de visitantes.
É o caso de Veneza, que introduziu um imposto para turistas que não ficam na cidade, ou de Praga, onde o preço das atrações turísticas mais populares aumenta durante a alta temporada.
Essas soluções mais sistêmicas podem ter um efeito benéfico sobre os moradores, mas também o efeito perverso de bloquear o acesso apenas aos viajantes menos abastados, alerta Luc Renaud.
"Em Nova York, eliminamos os Airbnbs, mas os preços dos hotéis estão disparando porque a oferta está diminuindo. Isso traz moradia de volta aos moradores, mas há muitos turistas em Nova York. Aqueles que não podem pagar dormem em outros lugares, em Nova Jersey, por exemplo", explica ele.
"Para remover a pressão [do turismo excessivo], precisamos de medidas que afetem a todos igualmente, ricos e pobres", insiste o professor.
Uma cidade poderia, por exemplo, limitar o número de ingressos e distribuí-los por sorteio, para evitar lances excessivos.
Quando tais medidas geram lucros, como um imposto turístico, o dinheiro deve ser redistribuído aos moradores menos afortunados, diz Luc Renaud.
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Viaje de forma diferenteA verdadeira solução para o turismo excessivo, no entanto, reside na educação e numa reformulação da nossa visão de viagem, acredita Luc Renaud. Segundo ele, viajar extensivamente é há muito tempo visto como um objetivo a ser alcançado em nossa sociedade.
"Você precisa reduzir sua mobilidade, viajar com menos frequência e por períodos mais longos, viajar fora de temporada e percorrer distâncias menores. No entanto, isso não é para todos", diz ele.
Ele também recomenda viajar para lugares locais ou para destinos menos visitados.
Luc Renaud acredita que as mentalidades estão mudando.
"Viajar é legal, mas viajar muito é menos legal", ele resume.
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