A lógica do reconhecimento da Palestina

O compromisso histórico de Emmanuel Macron em reconhecer um Estado palestino na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, provocou na França as reações divididas e frequentemente irreconciliáveis que o conflito israelense-palestino sempre provocou. Essas reações não surpreendem, em particular as críticas da direita e da extrema direita, algumas das quais optaram por se alinhar às posições do Estado judeu, mesmo quando este é liderado por uma coalizão que defende a aniquilação de Gaza, a anexação da Cisjordânia e a limpeza étnica.
Desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, perpetrado pelo Hamas, essas três ameaças deixaram de ser um cenário distópico. A primeira está prestes a se concretizar, diante de nossos olhos, apesar das escandalosas portas fechadas impostas por Israel. A segunda avança inexoravelmente, alimentada por uma vanguarda de colonos extremistas apoiada por um governo ultranacionalista no qual a direita é cada vez mais difícil de distinguir da extrema direita. Este mesmo governo, por fim, trabalha ativamente para banalizar a terceira. Décadas de fatos consumados israelenses exigem que ela seja levada a sério.
Este lembrete da realidade e da terrível brutalidade dos fatos é essencial para compreender a decisão de Emmanuel Macron. Não é mais possível aderir à posição da França, ou seja, o reconhecimento que coroaria um compromisso territorial negociado por ambas as partes. A porta para tal perspectiva já se fechou há muito tempo, e as responsabilidades por isso são amplamente compartilhadas.
O que está em jogo agora torna impossível contentar-se com a inação e a procrastinação. O fato de outros aliados da França considerarem benéfico renunciar a essa abordagem não lhe confere nenhuma virtude. Pode já ser tarde demais para salvar a solução de dois Estados. Esperar e não fazer nada garante que em breve não haverá mais nada a reconhecer. Definitivamente.
Tentar deter a espiral, mesmo sem a menor garantia de sucesso, não é o único argumento a favor do reconhecimento da Palestina. A lealdade aos valores que a França sempre alegou defender, a começar pelo apoio às legítimas aspirações dos palestinos à autodeterminação em uma terra conquistada à força por Israel em 1967, também levou a essa decisão.
A solução de dois Estados garante a derrota irremediável do Hamas, pois consolida ainda mais a legitimidade do Estado hebraico após o reconhecimento de Israel pela Organização para a Libertação da Palestina em 1988 e 1993. É também uma salvaguarda contra uma deriva que, se não for interrompida, levará esta última a abandonar sua natureza democrática e impor um verdadeiro regime de apartheid aos palestinos enclausurados em enclaves.
Virar as costas a esses valores sob o pretexto de que mantê-los seria uma aposta arriscada é, na verdade, um elogio à resignação, o que torna a crítica ainda mais estranha quando vem de fileiras que se fartam de invocações do gaullismo. Ou a Palestina é uma injustiça e deve ser evitada. Ou a Palestina é a única solução, para salvar os palestinos primeiro, e depois proteger os israelenses de si mesmos, e isso deve ser reconhecido.
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