Julien Merken, o ciclista isolado que sonha em quebrar o gelo

Tarde, chapéu preso na cabeça apesar dos vinte graus, camiseta folgada, sorriso franco. "Tive dificuldade para estacionar", ele ri. Julien Merken tem todos os atributos de um snowboarder de estilo livre. Ele fala com as mãos, pontuando suas frases com um "viu?". natural, desliza anglicismos de cavaleiro quando outros diriam "voilà". Aos vinte anos, o atleta fantasia com Mammoth Mountain, é apaixonado pela marca Monster e, acima de tudo, sonha em participar dos Jogos Olímpicos de Inverno de Milão e Cortino d'Ampezzo em 2026 (6 a 22 de fevereiro).
Um capricho que virou carreiraTudo começou aos oito anos de idade, nas encostas de Isola 2000, "o resort mais próximo, a duas horas e meia de minha casa em Callas", ele lembra. O novato rapidamente larga seus esquis, faz uma birra infantil e tenta praticar snowboard. Ele nunca mais descerá. Descoberto em seu primeiro ano por François Olivier, presidente do clube Back to Back, ele se juntou ao grupo e competiu em uma série de competições. Ele cresceu rapidamente, sonhou alto e se juntou à seleção francesa.
Mas lesões acontecem. Duas temporadas em branco, um ombro que deslocou sem aviso, um ligamento do joelho que cedeu durante o treinamento. Ele duvida, se reconstrói, retorna. "Na volta, fiquei apreensivo, mas na primeira competição venci. Foi aí que percebi que estava pronto."
Embora não tenha bacharelado, Julien não lhe falta lucidez nem planos. Este montanhista está preparando um diploma de instrutor suíço, mistura techno sob o pseudônimo Kenmer, sonha com vídeos, vlogs e, um dia, criar sua própria escola de neve "para crianças sem recursos".
Um sucesso que tem um preçoApesar de sua vitória na Copa Europeia de Slopestyle em janeiro passado, Julien não se beneficiou de nenhuma visibilidade real. Hoje em dia, os patrocinadores não olham mais para os resultados, mas sim para as visualizações no Instagram. É deprimente.
Seus parceiros, Quicksilver, Oakley e Stone Snowboards, apenas lhe fornecem equipamentos. Não o suficiente para fantasiar sobre as Olimpíadas.
"Vou participar da Copa do Mundo do ano que vem. Preciso estar entre os 30 melhores do mundo para me classificar. É um desafio enorme." Um desafio esportivo, mas também financeiro. Porque neste nível as temporadas são caras: entre 20.000 e 30.000 euros. Então ele faz inúmeras ligações para prefeituras e clubes e procura um agente. "Detesto me vender. Sou tímido. Para mim, custo dois euros", admite o humilde boneco de neve.
Snowboard na França: um esporte sem pistas?A conclusão é clara: "Na França, o estilo livre é marginalizado. Os snowparks são raros, mal conservados, e a Federação se concentra inteiramente no esqui ou no boardercross. Na Suíça ou nos EUA, ocorre o oposto. Lá, o snowboard tem precedência."
Resultado: o treinamento geralmente acontece no exterior, mesmo durante a temporada. "E isso vai aumentando rapidamente. Só um ingresso para a Copa do Mundo nos EUA custa 2.000 euros."
"Sereno" com estiloAssim como seu ídolo, Liam Brearley, nas pistas, estilo acima de tudo. "Eu não faço 2340s como todo mundo. Busco criatividade, originalidade. Quero que as pessoas digam: 'Nossa, nunca vimos isso antes.'"
Com seu treinador, Mathieu Siboni, ele aprimora seus truques, se filma e analisa seus movimentos. "Sou muito detalhista." Não supersticioso. Nenhum ritual, exceto o techno em seus ouvidos. "Eu sempre pareço muito idiota. Eu danço." Boom Boom Boom nos ouvidos. "E quando chega a minha vez de pular, eu vou, ainda dançando. Estou no meu próprio mundo", ele sorri, imitando a dança no mesmo instante.
"Calma, cara!" , como ele gosta de dizer, mas lúcido, ele segue em frente, entre sua paixão e suas lutas. "Agora recuperei a confiança. E a serenidade." E, como se fosse uma promessa, o piloto conclui: "Eu, parar de praticar snowboard? Nunca."
Nice Matin