Compra de petróleo russo: Índia se prepara para punição comercial dos Estados Unidos

Este capítulo da guerra tarifária imposta pelo presidente americano afetou seriamente as relações entre os Estados Unidos e a Índia, a ponto de acelerar a reaproximação desta última com a China. O mercado americano é o principal destino dos produtos indianos, avaliados em US$ 87,3 bilhões em 2024. Segundo analistas do grupo de serviços financeiros Nomura, um aumento de 50% nas tarifas americanas "equivaleria a um verdadeiro embargo comercial", com consequências graves para as empresas indianas "com baixo valor agregado ou margens reduzidas".
Garima Kapoor, da Elara Securities, resume que nenhum produto indiano seria "capaz de manter qualquer vantagem competitiva". Economistas estimam que tais tarifas reduziriam de 70 a 100 pontos-base do Produto Interno Bruto (PIB) da Índia e empurrariam seu crescimento para abaixo de 6%, seu menor nível desde a pandemia de Covid. Economistas da S&P preveem uma queda de 1,2% no PIB, mas acreditam que ela permanecerá "pontual" e "não afetará" suas perspectivas de longo prazo. Exportadores indianos de têxteis, frutos do mar e joias já relataram o cancelamento de encomendas dos EUA em favor de seus rivais em Bangladesh ou Vietnã, sugerindo cortes significativos de empregos.
Apenas as indústrias farmacêutica e eletrônica, incluindo a fabricante dos iPhones da Apple, foram poupadas até agora da punição anunciada pelas autoridades americanas. Os Estados Unidos não parecem dispostos a mudar de posição. Desde o encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, o país até endureceu sua posição. Peter Navarro, assessor comercial da Casa Branca, denunciou este mês que "a Índia está atuando como um escritório global de lavagem de dinheiro para o petróleo russo, transformando petróleo bruto em exportações lucrativas e fornecendo a Moscou os dólares de que necessita".
O Ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, respondeu que as compras indianas ajudaram a estabilizar os preços do petróleo nos mercados e foram aprovadas por Washington desde 2022. Ele acrescentou que os Estados Unidos e a Europa estavam comprando petróleo bruto refinado da Índia com pleno conhecimento dos fatos. "Se vocês têm problemas para comprar petróleo da Índia, não comprem mais", disse ele. "Ninguém está forçando vocês a fazer isso." Segundo Jaishankar, os Estados Unidos nunca haviam considerado a questão da compra de petróleo russo pela Índia como um problema antes do ultimato de Donald Trump.
Qualquer mudança na política indiana em relação às compras de petróleo bruto russo só será sentida em setembro, observam especialistas, já que a maior parte dos carregamentos vendidos em agosto foi adquirida antes das ameaças da Casa Branca. Segundo especialistas, Nova Déli parece estar em uma situação particularmente delicada. Nandan Unnikrishnan, analista do think tank indiano Observer Research Foundation, observa que "será preciso muita engenhosidade e flexibilidade" para que a Índia saia dessa situação.
Em resposta às ameaças dos EUA, as autoridades indianas iniciaram uma reaproximação com seus parceiros do BRICS (Brasil, Rússia, China e África do Sul). O Ministro Jaishankar prometeu a Moscou uma redução nas barreiras alfandegárias bilaterais, e o Primeiro Ministro Narendra Modi é esperado em Pequim ainda esta semana. O governo também está preparando US$ 2,8 bilhões em medidas de apoio aos seus exportadores e propôs cortes de impostos sobre bens essenciais para proteger o consumo.
SudOuest