Mistérios do Cânion Chicamocha: Entre criaturas pré-históricas e exploradores alemães

Da cabine do teleférico, que atravessa o Cânion Chicamocha, de Mesa de los Santos ao Parque Panachi, avistam-se as montanhas tranquilas. Nada nos levaria a imaginar que, há milhões de anos, pterossauros voavam neste céu e tubarões de cinco metros de comprimento nadavam em suas profundezas.
O cânion, uma escultura natural de 108.000 hectares, que já foi indicada ao título de uma das novas maravilhas do mundo e é visitada diariamente por milhares de turistas, continua sendo um mistério não resolvido, escondendo segredos antigos em seus vales, desfiladeiros, cânions, cavernas e planaltos.
Abaixo, em seus abismos, pequenas cidades quase fantasmas e trilhas para cavalgadas sobrevivem até hoje no meio dessa floresta tropical seca, que se estende por terras de 11 municípios de Santander.
Sua beleza, que encanta turistas que tiram selfies de seus mirantes, esconde tesouros históricos insuspeitos para viajantes vindos de diversos cantos do país e do mundo.
Terra dos gigantes Sua história começou há 140 milhões de anos, quando toda essa paisagem era coberta por um mar raso, com cerca de 200 metros de profundidade, onde viviam dezenas de espécies de grande porte.
Os sedimentos se acumularam no fundo desse mar até que as águas recuaram, há cerca de 70 milhões de anos. Com o tempo, esses sedimentos se transformaram em rochas que permaneceram ocultas até cerca de 6 milhões de anos atrás, quando a colisão das placas tectônicas da América do Sul e do Pacífico as fez subir verticalmente à superfície, formando este grande planalto.
No seu cume, rios começaram a fluir por suas fraturas, iniciando um lento processo de denudação, esculpindo silenciosamente, como uma broca natural, esse majestoso cânion, que passou de poucos metros de profundidade há três milhões de anos para quase 2.000 metros hoje.
Por isso, para os agricultores que vivem nessas montanhas íngremes, com declives de até 70 graus, era comum no século passado encontrar, sem precisar escavar, fósseis de espécies pequenas, como ouriços-do-mar, peixes, turitelles, plantas, xilópalos, bivalves e braquiópodes e milhares de amonites, predadores marinhos extintos, que tinham tentáculos e podiam medir até 2,7 metros de diâmetro.
Essas peças, que para muitos eram simples pedras e foram levadas para os museus da região, onde os visitantes podem admirá-las, foram os primeiros indícios que levaram pesquisadores a explorar essas terras em busca de respostas sobre a vida pré-histórica no país.
Durante essa busca, foi descoberto um local na região de Zapatoca, apelidado de "mar de fósseis" pelo pesquisador de Santander, Edwin Cadena. Ele encontrou espécies gigantes que datam de 135 milhões de anos, como um tubarão extinto que podia medir cinco metros de comprimento e tinha dentes achatados que usava para esmagar suas presas.
Eles também encontraram restos de membros e parte do casco de uma tartaruga marinha medindo quase dois metros, assim como a mandíbula e alguns membros dos primeiros répteis voadores da Colômbia, conhecidos como pterossauros.
Segundo especialistas, esses são apenas uma pequena parte dos fósseis de diversas espécies pré-históricas enterradas ali, que podem conter as chaves para encontrar respostas sobre seu modo de vida e sua extinção.
O mito do túmulo do chefe Após a formação do cânion, milhares de anos depois, o povo indígena Guane se estabeleceu nessas terras e deu ao rio que corria abaixo o nome de Chicamocha, que em sua língua significa "fio de prata em uma noite de lua cheia".
Os Guanes construíram uma teia de cavernas labirínticas nas encostas dessas montanhas, que se cruzam e desaparecem em abismos e retornam e se conectam.
Eles eram uma nação inteira. No século XVI, segundo cronistas espanhóis, possuíam assentamentos com até 30.000 cabanas, onde viviam cerca de 80.000 nativos, principalmente nos picos dos planaltos que cercavam o cânion. Adoravam o sol e a lua e, segundo estudos históricos, realizavam sacrifícios para trazer chuva para suas plantações de milho.
Seu epicentro foi La Mesa de Los Santos, de onde hoje é possível apreciar a beleza dessa paisagem a partir de seus diversos mirantes e de onde partem diversos caminhos que levam às suas profundezas.
Especialistas locais e guias turísticos contam aos turistas histórias de seus ancestrais, que eram essencialmente fazendeiros, oleiros e artesãos, que negociavam e lutavam com os ferozes Yariguíes que viviam nas montanhas e ao longo das margens do Rio Magdalena, e que também negociavam com os Chibchas do centro do país, nos dias em que o sal valia mais que o ouro.
Os Guanes tinham feições "caucasianas", deformavam suas cabeças desde a infância para torná-las mais alongadas, usavam saias brancas de tecido e guayucos, mumificavam seus mortos, comiam formigas gigantes e bebiam bebidas de milho.
Embora dezenas de cavernas, que serviam de túmulos para os indígenas, tenham sido saqueadas por ladrões de túmulos, centenas de peças foram recuperadas, permitindo reconstruir a história dos Guanes, que desapareceram principalmente devido à escravidão a que os espanhóis os submeteram nas minas e às inúmeras doenças que os atacaram, como o tifo e a gripe.
Nas cavernas, que continham pictogramas de figuras zoomórficas e antropomórficas, eles deixavam seus mortos, juntamente com vasos de barro, joias, suas lanças e até mesmo os potoros (pequenos potes) usados para preparar folhas de coca. Os membros mais importantes de sua hierarquia eram mumificados, vestidos com tecidos de algodão e fique. Várias dessas múmias, recuperadas e estudadas por cientistas, podem ser vistas em museus, como o do Parque Panachi.
Embora parte da cultura Guane tenha sido reconstruída, o grande mistério que ainda assombra o cânion é o do túmulo do chefe Guanentá, o grande governante deste povo, que, segundo a lenda, enfrentou os espanhóis, mas se jogou em um abismo antes que eles o alcançassem com seus cavalos e se transformou em um pássaro que voava entre as montanhas.
A última pista foi revelada pelo pesquisador Alejandro Navas, que, após cinco anos de buscas com uma equipe interdisciplinar, descobriu uma caverna em 2009, que ele chamou de "túmulo do guerreiro". Acredita-se que seja a do cacique Guanentá, na região de Los Santos. Ele encontrou um pictograma ilustrando um suicídio indígena e depoimentos indicando que os restos mortais de 30 indígenas foram encontrados lá.
Do espanhol para Lengerke Após a expansão da colonização, que levou à rápida miscigenação e à morte da maioria dos Guanes, o cânion se tornou uma rota para conquistadores, saqueadores e aventureiros que cruzavam essas terras em busca de tesouros.
O esplendor daquela época pode ser apreciado em cidades do cânion como Barichara, San Gil, Zapatoca e El Socorro, que são visitadas por milhares de turistas todos os dias.
Lá, os espanhóis começaram a estabelecer paróquias no século XVII em antigos territórios indígenas, traçando ruas quadriculadas com blocos em ângulo reto e construindo igrejas de pedra, conventos e praças, que permanecem quase intactos.
No cânion, os colonos expandiram as trilhas Guane para permitir passeios a cavalo e comércio, e introduziram gado, como vacas e cabras, e trouxeram plantações como trigo, cacau e café.
Após a independência, quem mudou a história dessas terras, que faziam parte do Estado Soberano de Santander, foi Geo Von Lengerke, um engenheiro alemão que chegou em 1850, atraído pelo comércio.
O alemão, que aparentemente havia chegado fugindo de um crime cometido em duelo, começou a melhorar as antigas estradas de Guane com pedras e construiu pontes sobre os rios, formando uma rede de cerca de 1.200 quilômetros de rotas pelas quais exportava cinchona — essencial na fabricação de medicamentos — ao longo do rio Magdalena, para um porto perto de Barrancabermeja, para o velho continente, e por onde importava produtos europeus luxuosos, como relógios, tecidos finos e pianos.
Seguindo seus passos, mais alemães chegaram à região. Sobrenomes como Strauss, Clausen, Hansel, Müller e Glanbacheim começaram a ser comuns nessas terras. Esses imigrantes, que criaram uma colônia que se expandiu por todo o departamento, são creditados, entre outras coisas, por trazer cerveja, eletricidade, telefones e bancos para Santander.
A vida de Lengerke não foi focada apenas na engenharia; ele também possuía três grandes fazendas onde cultivava café e lutava contra os indígenas Yariguíes, que viviam ao longo da estrada para o Rio Magdalena.
O alemão, considerado por alguns historiadores um visionário e por outros um proprietário de terras, faleceu em 4 de julho de 1882, após o declínio que experimentou após a perda de valor da cinchona. Foi sepultado em Zapatoca, e a partir daí começou sua lenda, imortalizada no romance "A Listra do Outro Tigre", de Pedro Gómez Valderrama.
As trilhas de guane, recuperadas pelos alemães, agora fazem parte do patrimônio histórico de Santander. Graças a elas, os entusiastas de trilhas podem explorar o imenso cânion e visitar locais como Jordán Sube, uma cidade quase fantasma que desapareceu com o fim do comércio nessas rotas. A ponte projetada por Lengerke sobre o rio Chicamocha e o primeiro pedágio do país, que os comerciantes tinham que pagar no século XIX, ainda estão de pé aqui.
Passear pelo cânion e suas vilas é como atravessar um portal do tempo para o passado de Santander, onde guias contam histórias de povos indígenas que adoravam a lua e o sol nessas montanhas, de um alemão que transformou o comércio nessas terras e de répteis voadores pré-históricos que voavam pelos céus.
Panachi, o coração do turismo de Santander A apenas 54 quilômetros de Bucaramanga, o Parque Nacional Chicamocha, também conhecido como Panachi, se tornou um dos destinos turísticos mais emblemáticos de Santander, graças à sua localização privilegiada no topo de um dos picos do cânion vertiginoso e à sua oferta de aventura, natureza e cultura.
Na entrada, os turistas encontram o impressionante monumento à Santandereanidad, uma escultura que presta homenagem à revolução dos Comuneros e ao caráter indomável desta terra.
A principal atração do parque é o teleférico, que percorre 6,3 quilômetros em 30 minutos, durante os quais você pode desfrutar de belas vistas do cânion a partir de suas confortáveis cabines.
Oferece outras atrações para os amantes da adrenalina, como o balanço radical, que se balança sobre o vazio de um abismo, ou o teleférico, que permite voar pelo cânion em alta velocidade. Há também experiências de canyoning e rapel, enquanto os buggies todo-terreno oferecem pura diversão.
Para quem busca uma experiência mais relaxante, visite o Museu Guane, que abriga 750 peças que contam a história do legado do povo indígena Guane. Na Fazenda do Paco, crianças e adultos podem tocar e alimentar animais da fazenda, como cabras e coelhos.
E como se não bastasse, oferece parapente, uma experiência mágica a 1.554 metros de altitude, tendo o vento do cânion como aliado.
Panachi é um lugar onde a vertigem e a natureza se encontram nas alturas.

O Parque Aquático Panachi, no coração do Cânion Chicamocha, combina diversão aquática e natureza. ( Foto: Cortesia do Parque Panachi)
Mergulhar em um escorregador e em uma piscina espetacular, construída no meio do Cânion Chicamocha, é uma das principais atrações oferecidas pelo Parque Aquático, um complemento ao Parque Panachi, localizado ao lado.
O complexo aquático, que oferece vistas espetaculares, conta com três piscinas: uma infantil, com toboáguas e profundidade de 20 a 60 centímetros, e duas para adultos, com 1,2 metro de profundidade.
O parque também é cercado por uma piscina artificial de 500 metros de comprimento, semelhante a um rio, onde os visitantes podem flutuar em meio a jatos de água.
eltiempo