Bebês com DNA de três pessoas: um avanço científico que revoluciona o mundo

Esse avanço permite abordar problemas congênitos em recém-nascidos.
Imagem ChatGPT
O mundo da medicina está em polvorosa esta semana após a revelação de que oito bebês nasceram no Reino Unido sem doenças mitocondriais graças a uma técnica de reprodução assistida que combina material genético de três pessoas. Embora atualmente permitida apenas neste país, a técnica promete se tornar um caminho a seguir nas próximas décadas.
O procedimento, desenvolvido por cientistas britânicos e legalizado há uma década, foi documentado pela BBC Mundo em uma reportagem que inclui os resultados clínicos iniciais e as reações das famílias beneficiárias. A reportagem explica como o método, conhecido como "doação mitocondrial", busca evitar que as mães transmitam aos seus filhos condições genéticas devastadoras que afetam o metabolismo energético do corpo.
Veja também: Greve do arroz: bloqueios continuam aguardando abertura da mesa de diálogo
Como explicaram, as mitocôndrias, minúsculas estruturas presentes em quase todas as células humanas, são responsáveis por produzir a energia necessária para o funcionamento do corpo. Quando essas estruturas falham, as consequências podem ser letais, levando a danos cerebrais, falência de órgãos, fraqueza muscular e morte nos primeiros dias de vida.
Aproximadamente um em cada 5.000 bebês nasce com uma doença mitocondrial e, nesses casos, a causa geralmente é materna, já que as mitocôndrias são herdadas exclusivamente da mãe. Portanto, a técnica britânica busca quebrar esse ciclo fertilizando um óvulo da mãe e um de uma doadora com o esperma do pai. Os pronúcleos (contêineres de DNA nuclear dos pais) são então removidos e inseridos no óvulo doado, que retém suas mitocôndrias saudáveis.

DNA
FOTO: iStock
O resultado é um embrião com 99,9% do DNA dos pais e 0,1% do material genético do doador, o suficiente para garantir o funcionamento saudável das mitocôndrias. Essa intervenção genética mínima permitiu que oito crianças — quatro meninas e quatro meninos, incluindo um par de gêmeos — nascessem sem sinais de doença, e outra gravidez está em andamento.
A reportagem da BBC Mundo inclui depoimentos anônimos de famílias que se submeteram ao procedimento no Centro de Fertilidade de Newcastle. Uma mãe acrescentou: "Após anos de incerteza, este tratamento nos deu esperança e, em seguida, nos deu nosso bebê." Outra mãe acrescentou: "O fardo emocional desapareceu, e em seu lugar estão a esperança, a alegria e a profunda gratidão."
Você pode estar interessado em: O Ministério da Energia está mirando usinas hidrelétricas na Colômbia, citando tarifas "exageradas".
Embora o procedimento tenha sido bem-sucedido, persistem dúvidas científicas sobre seu alcance, visto que em cinco dos casos analisados não foram detectadas mitocôndrias defeituosas, mas em três, entre 5% e 20% do material genético danificado foi encontrado. Apesar de estar bem abaixo do limite que desencadeia a doença (80%), os pesquisadores enfatizam a necessidade de monitoramento contínuo a longo prazo. Um dos bebês tinha epilepsia leve (já superada) e outro tinha um problema cardíaco que está sendo tratado com sucesso.
Um debate que vai ao encontro da éticaDo ponto de vista ético, a técnica também gerou debates, já que as mitocôndrias possuem DNA próprio, e as meninas nascidas por meio desse procedimento passarão essa modificação para seus descendentes, o que implica em uma mudança permanente na linha genética humana e, para alguns críticos, abre caminho para os chamados "bebês projetados".

Você bebe.
Mesmo assim, o Reino Unido é o primeiro país do mundo a legalizar essa técnica após uma votação parlamentar em 2015. "Só aqui isso pôde acontecer: tínhamos ciência de nível internacional, uma estrutura legal apropriada e o apoio do sistema de saúde pública", disse o professor Doug Turnbull, da Universidade de Newcastle, à mídia britânica.
Por fim, a Lily Foundation, organização dedicada a apoiar famílias afetadas por doenças mitocondriais, comemorou a notícia, afirmando: "Após anos de espera, sabemos que oito bebês nasceram com essa técnica, e nenhum deles apresenta qualquer sinal da doença. Esta é a primeira esperança real de quebrar o ciclo dessa condição hereditária."
Portafolio