Por que você não precisa se preocupar (muito) com Alzheimer se tiver herpes zoster

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Por que você não precisa se preocupar (muito) com Alzheimer se tiver herpes zoster

Por que você não precisa se preocupar (muito) com Alzheimer se tiver herpes zoster

A vida é o resultado de um equilíbrio complexo, e o que nos salva em um momento pode nos matar no seguinte. Um estudo recente mostra que a proteína tau protege contra danos neuronais causados ​​pelo vírus herpes simplex (HSV-1), e uma função semelhante também foi identificada para a beta amiloide. Com o tempo, se a infecção persistir, ambas as proteínas podem se acumular no cérebro, tornando-se tóxicas e destruindo os neurônios que inicialmente protegiam. Esse acúmulo prolongado de placas amiloides e emaranhados de tau é uma das principais hipóteses para explicar a doença de Alzheimer, embora sua origem não se deva exclusivamente a infecções e nem exclusivamente a esse mecanismo.

Décadas de pesquisa sobre o Alzheimer e dezenas de bilhões de euros em investimentos não conseguiram encontrar um tratamento eficaz. Tantos anos de contratempos aumentaram o interesse por interpretações alternativas das origens da doença, na esperança de que uma nova compreensão levasse a novas soluções. Há alguns dias, uma equipe da empresa farmacêutica Gilead sugeriu que a prevenção do herpesvírus como forma de reduzir o risco de demência deveria ser considerada uma prioridade de saúde pública.

Os cientistas basearam sua opinião em uma análise de bancos de dados de saúde dos EUA para observar a relação entre o vírus do herpes labial (HSV-1) e o Alzheimer. Com base em dados de quase 700.000 pessoas, eles observaram que a infecção está associada a um risco aumentado de Alzheimer, que esse risco aumenta com a idade e que o uso de antivirais reduz a probabilidade de desenvolver demência. No entanto, eles reconheceram que mais estudos são necessários e que essa correlação não implica necessariamente que o herpes causa Alzheimer e que os antivirais o previnem. Na mesma linha, algumas semanas antes, a revista Nature publicou outro estudo que encontrou uma correlação entre a vacinação contra o herpes zoster, o conhecido vírus do herpes zoster, e uma redução de 20% no risco de Alzheimer.

Apesar do interesse dessas associações, o Alzheimer continua sendo uma doença muito complexa, desencadeada pela combinação de muitos fatores interligados, e uma explicação viral não será uma panaceia. Ignacio López-Goñi, professor de Microbiologia da Universidade de Navarra, ressalta que "80% da população já teve herpes, e a porcentagem da população com anticorpos contra herpes simplex é muito alta". Além de algo tão comum quanto ser infectado por um vírus, muitas outras coisas precisam acontecer para que o Alzheimer se desenvolva. "Pessoas portadoras de uma variante do gene APOE são mais suscetíveis à doença de Alzheimer e à reativação do herpes e seus efeitos neurodegenerativos", ressalta López-Goñi. Portanto, pessoas com predisposição genética ou sistema imunológico mais fraco, como idosos, podem se beneficiar mais de medidas preventivas, como vacinas ou antivirais.

No desenvolvimento do Alzheimer, assim como no câncer, intervêm inúmeros fatores, alguns inatos e outros relacionados ao estilo de vida. Muitas vezes, a prevenção da doença consiste em mitigar o peso do que não pode ser mudado, agindo sobre o que pode ser modificado. Alberto Rábano, diretor do Banco de Tecidos da Fundação CIEN em Madri, destaca que, nos últimos anos, embora haja um aumento nos casos de Alzheimer devido ao envelhecimento da população, a incidência diminuiu 16% na última década, apesar da ausência de medicamentos. "Isso aconteceu porque muitos fatores de risco cardiovascular, como colesterol, hipertensão, diabetes e tabagismo, estão relacionados ao Alzheimer." "O que é bom para o coração é bom para o cérebro, e a prevenção dos riscos à saúde cardiovascular reduziu a incidência do Alzheimer", concorda Josep Maria Argimon, diretor de Relações com o Sistema de Saúde da Fundação e do Centro de Pesquisa do Cérebro Barcelonaβeta.

Argimon acredita que "há evidências crescentes indicando que infecções por herpes simplex ou herpes zoster, como indicado pelo estudo da vacina, podem contribuir para o aparecimento da doença", mas, acrescenta, "não há demonstração de causalidade nem evidências que sustentem a ideia da vacinação em massa contra o herpes como forma de prevenir o Alzheimer". Por enquanto, em países como a Espanha, a vacinação já começou para pessoas com 65 anos ou mais, bem como para indivíduos vulneráveis, como aqueles com doenças hematológicas ou que receberam transplante de medula óssea. No entanto, assim como no caso das doenças cardiovasculares, a redução da incidência de Alzheimer ocorreria como efeito colateral de outras medidas de saúde pública que são valiosas por si só. Argimon, porém, acredita que "a saúde do cérebro deve ser priorizada". "Agora, se você perguntar a alguém como prevenir um ataque cardíaco, provavelmente saberá, mas se você disser o mesmo sobre o Alzheimer, a pessoa dará de ombros", afirma.

Apesar dos estudos que relacionam infecções por herpes e Alzheimer, Rábano ressalta que a publicação periódica de referência do Comitê Permanente da Lancet sobre prevenção, intervenção e tratamento da demência não inclui as infecções entre os fatores preveníveis para esse tipo de doença. "Eles estimam que, se todos esses fatores [que incluem inatividade física, perda auditiva, depressão ou baixo nível educacional] fossem controlados, a incidência de demência, e especialmente de Alzheimer, poderia ser reduzida em 45%", ressalta Rábano. No entanto, este comitê ainda considera as evidências sobre infecções contraditórias.

Enquanto a relação é confirmada e a importância das infecções no aparecimento do Alzheimer é avaliada, e enquanto finalmente se buscam medicamentos que tenham um impacto significativo sobre a doença, os fatores que modificam o risco de Alzheimer são um guia para um estilo de vida saudável que pode ser usado para prevenir ou retardar quase todas as enfermidades. Sabe-se, por exemplo, que o consumo de carne vermelha processada , como salsichas, está associado a um maior risco de demência, mas também de câncer. Alimentos ultraprocessados, quando excedem 30% da dieta, aumentam o risco de depressão, e a depressão aumenta o risco de Alzheimer. Por outro lado, o exercício físico protege contra a demência, mas também contra doenças cardiovasculares e câncer, assim como uma boa rede de amigos ou familiares. O Alzheimer é uma doença tão complexa quanto a própria vida, e retardar seu aparecimento depende de tantos fatores sutis e interconectados, embora parcialmente conhecidos, quanto aqueles necessários para uma vida boa.

EL PAÍS

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